"Jamais terá boa saúde quem pratica o mal", afirma um especialista.
O idealismo do jovem frutifica na sabedoria do velho
C.A.
Passando um dia desses pela rua da Quitanda, no centro de São Paulo, ocasionalmente cruzei com um velho. Não sei quem era, mas seu aspecto penalizou-me profundamente. Sem que ele notasse, cheguei a parar para observá-lo melhor. Olhar vazio, a caminho da decrepitude; lábios moles, dos quais facilmente escorregaria uma piadinha sem graça ou mesmo imoral; andar indeciso, como o de alguém que teve uma existência sem rumo. Causava a triste impressão de um homem que não refletira sobre a vida que levara; nunca lutara por nada de mais elevado do que ele próprio e seus interesses imediatos; não sabia bem por que vivera nem para onde ia: "o que não ajuntaste na tua mocidade, como o acharás na tua velhice?" (Ecl. 25,8).
Aquele velho da rua da Quitanda, porém... Quem, olhando para ele, sentiria segurança em pedir-lhe um conselho numa dificuldade, procurar um consolo numa aflição? Assim como ninguém se arrima a um muro de papelão, também não buscamos apoio na velhice sem sabedoria.
Se, porém, desde a juventude o homem se orienta para o bem, a inevitável decadência física que acompanha a ancianidade é largamente compensada pela sabedoria, a qual então floresce como a mais preciosa flor do jardim da vida. Ela é como uma luz que se esparge agradavelmente por todo seu ser, e se reflete beneficamente sobre sua própria saúde. A saúde... Aqui deixo eu a pena, e a passo a um especialista.
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Na coluna "Medicina" do "City News" (São Paulo, 3-8-86), o Dr. Salomão A. Chaid publicou um interessante artigo: O ideal e a moral, fontes de juventude. Eis alguns trechos:
"Temos falado sobre as causas materiais que atuam sobre o organismo, desgastando-o e levando-o ao envelhecimento precoce. Mas esta é apenas uma parte do problema. Sendo a alma quem dá vida ao corpo, sua influência é tão ou mais importante que os fatores físicos... A juventude adquire-se mediante a elevação espiritual que liga o homem a um ideal superior a si mesmo e o diferencia dos animais. O segredo da eterna juventude está na dedicação a um ideal que obriga o homem a superar-se a si mesmo e a encarar o futuro. Mas apenas os ideais nobres têm esse poder... O mal é não ter ideal e viver apenas para o atendimento das necessidades imediatas. Essa falta de entusiasmo leva à atrofia da inteligência e das funções cerebrais, reduzindo seu estímulo indispensável para o bom desempenho dos órgãos vitais.
"Uma pessoa torna-se velha quando foge à luta e à confrontação, acomoda-se com o dia a dia passivo e não tem planos futuros, justificando-se com expressões imobilizadoras como: Para quê? Agora é tarde. Não vale a pena. Eu quero é sossego.
"Muitas vezes confunde-se o ideal com uma ambição egoísta, como a ganância pelo dinheiro ou o ideal do poder político que facilmente resvala para interesses pessoais. Ao contrário dos ideais nobres que são qualitativos, esses raramente trazem a beleza e o ardor da juventude. Eles são quantitativos, podem apreciar o mais e o menos, mas nunca sabem distinguir o melhor e o pior, a bondade da maldade, a moral do vício. Em suas almas as crostas se endurecem, tornam-se empedernidos, insensíveis, voltados para dentro de si próprios, único deus que veneram. De sua mente, sob o signo da ganância, sujeita ao stress pela falta de paz e equilíbrio emocional, o organismo só recebe estímulos negativos, que perturbam e interferem no bom funcionamento dos órgãos, levando-os à exaustão e à doença.
"Jamais terá boa saúde quem pratica o mal, lesa, engana, pois muitas doenças inexplicáveis que abatem prematuramente um homem forte podem ter sua origem numa consciência pesada".
A ciência progride com velocidade cada vez mais vertiginosa, ninguém o nega, e com ela por exemplo a Medicina, arte de curar, vai atingindo ápices cada vez mais altos. Entretanto...
Entretanto enquanto a Medicina progride, uma maldade qualquer dos dias que correm faz com que o ideal de uma humanidade saudável pareça ir se afastando, em vez de se aproximar. Será que as doenças estão crescendo mais do que a Medicina?
As enfermidades de antigamente, por absurdo que pareça, eram mais amigas do homem. Enquanto gigantes da ciência - por exemplo um Pasteur, um Koch, um Fleming - não encontravam as soluções, lá ia o doente para as Campos do Jordão de todo o mundo, a fim de, numa calma melancolia, morrer como que num vagaroso pôr do sol.
As outras doenças... bem, a farmacopeia era ainda tão primitiva, que os enfermos eram obrigados muitas vezes a lançar mão do célebre "chá de pouco caso", que era (e em certo sentido ainda é) o melhor dos remédios.
Depois, o câncer ocupou o centro do panorama, invicto através de décadas de luta.
Agora, a AIDS se agiganta como uma outra calamidade mortal e incurável.
Além disso, ao menos no Brasil, alguns flagelos atacam pelos lados. Nos meses chuvosos, a leptospirose, nos frios, a meningite. O dengue surge de repente com seu mosquito, e parece que até a malária, já erradicada, retomou. O velho e terrível espectro, que é o cholera morbus, pula para dentro da cena, e parece dizer, cinicamente: "voltei"!
Nosso assunto não são as doenças. Delas apenas queremos tirar um exemplo, entre outros, da confusão que invade tudo. O que acontece com as enfermidades se repete em outros campos.
A ciência econômica, por exemplo, progride, entretanto... a inflação se avantaja mais do que ela. No campo da educação, não se sabe se é a Pedagogia que não avança, a ignorância que se torna mais crassa, ou ambas as coisas. O fato é que o nível cultural se degrada a cada dia. Que dizer da segurança? A Polícia se aperfeiçoa, mas a criminalidade se requinta ainda mais, e põe em xeque a sociedade. E assim por diante.
O mesmo acontece no panorama internacional e, dolorosamente para nós, na Santa Igreja. Nesta última, enquanto os escândalos se sucedem, Ela parece mirrar por dentro... e tudo fica por isso mesmo.
É sempre o mesmo esquema: uma crise, que facilmente pode complicar-se com outras, trazendo resultados muito graves. Os diagnósticos não convencem, as soluções não solucionam. Nada piora muito, mas sobretudo nada melhora.
Digamos claramente: estamos num beco sem saída.
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Mas nem tudo está perdido. Os problemas são ingentes, mas há ainda potencialidades e flexibilidades em nosso País, com os quais pode-se enfrentar as vicissitudes. Acontece que certa mídia não coloca em realce este outro lado da questão.
CATOLICISMO deseja pintar o panorama completo. Para isto, publicamos desta edição uma reportagem sobre um detalhe bastante significativo desse panorama, do qual muito pouco fala a mídia. Trata-se das caravanas da TFP.
Ficaremos felizes se constituir uma lufada de ar fresco no ambiente opressivo em que nos encontramos.