P.20-21 CULTURA (continuação)

para expulsar o inimigo. Afonso VIII dirige as operações. Perto de Navas de Tolosa confrontam-se os exércitos cristãos com as tropas do emir Al Nacir, cinco vezes mais numerosas.

Começada a luta, a primeira linha dos combatentes de Afonso VIII é esmagada. A segunda é pouco depois dispersada. O resultado parece fatal.

É então o momento em que o estandarte de Nossa Senhora de Rocamadour é desfraldado e mostrado a todos os guerreiros. Imediatamente os cristãos retomam coragem, avançam impetuosamente, pondo em fuga o emir e suas tropas. A vitória foi esmagadora.

Santa Joana d'Arc

Dois séculos mais tarde, Nossa Senhora de Rocamadour intervém na história da França.

Corre o ano de 1428. O país está em plena guerra dos cem anos. Os ingleses o invadem e ameaçam dominar inteiramente o reino. O rei Carlos VII não dispõe mais de exército nem de recursos. Faltam-lhe alianças. Ocorre-lhe então pedir ao Papa Martinho V que suplique a Nossa Senhora de Rocamadour a salvação da França.

Diante de tão angustiado pedido, o Papa decide instituir um jubileu extraordinário com a duração total de dez anos, durante os quais particulares indulgências seriam concedidas.

Ele atrai com isso multidões de todas as nacionalidades. Até ingleses acorrem em grande número. Por vezes, os peregrinos atingem trinta mil. Acampam nas redondezas. Rezam e fazem penitência.

O resultado não tarda... No ano seguinte, acossado o rei no castelo de Chinon, dirige-se a ele uma jovem, dizendo vir da parte de Deus para expulsar os ingleses do reino. Recebida com sorrisos céticos e olhares altivos, sua sagaz inocência acaba por se impor. Essa jovem camponesa, que em breve assumiria o comando dos exércitos franceses, chamava-se Joana d'Arc. Sua história entusiasmante nos é por demais conhecida. A França estava salva. E ela venerada como santa.

Vista Geral de Rocamadour

Ódio revolucionário

Terrivelmente impressionante é o relato deixado nos arquivos de Rocamadour por uma paroquiana, a respeito da pilhagem do santuário, praticada pelos protestantes em 1562: quando os huguenotes [calvinistas franceses] fizeram uma fogueira dentro da igreja paroquial de Santo Amadour, desejando assim queimar o seu corpo, Deus não o permitiu. Eles o despedaçaram então, roubando o relicário de prata.

O santuário foi pois saqueado, e por dois séculos aqueles lugares veneráveis se degradaram. Do corpo de Amadour, incorrupto e flexível como em vida, nunca mais se ouviu falar. Diante de sua perfeição, não se detiveram as mãos sacrílegas dos que alegavam reformar a Religião. Sem ele, as peregrinações diminuíram enormemente. E quase desapareceram.

A Revolução Francesa de 1789 não fez senão agravar o estado de ruína daqueles lugares.

Animado pelas aparições de Nossa Senhora - sobretudo em La Salette, na rue du Bac (Paris) e em Lourdes - o fervor católico se reacende no século XIX. Oratórios e capelas de Rocamadour passam por restaurações, e hoje podem ser vistos em bom estado. E ainda envoltos na aura de santidade que não os abandonou jamais.

* * *

Não foi fácil deixar Rocamadour no dia seguinte. Meu tabelião acompanhou-me até a estação ferroviária, recontando acontecimentos, ajuntando novos detalhes. Pela primeira vez, quase não o ouvia. Tentava discernir à distância, num último olhar, aquela aldeia grandiosa, de pedras brancas envoltas na névoa. Sem poder explicar-lhe o que são saudades, pois não se encontra vocábulo equivalente na língua francesa, eu já estava dominado por esse sentimento.■


VERDADES ESQUECIDAS

Rico nesta vida com merecimentos na outra

São Francisco de Sales

Grande diferença há entre ter o veneno e ser envenenado.

Quase todos os farmacêuticos possuem venenos para diversos usos de seu ofício, mas não se pode dizer que estejam envenenados porque têm o veneno em suas farmácias.

Assim também podes possuir riquezas sem que o seu veneno natural penetre até tua alma, contanto que as tenhas só em tua casa ou em tua bolsa, e não no coração.

Ser rico de fato e pobre no afeto é a grande ventura dos cristãos, porque ao mesmo tempo têm as comodidades das riquezas para esta vida e os merecimento da pobreza para a outra... Nunca fomentes um desejo completo e voluntário por uma coisa que não possuis; não prendas o coração em bem algum teu; não te entristeças nunca das perdas que sobrevierem; então, sim, terás um motivo razoável de pensar que, sendo rico, de fato és, entretanto, pobre de espírito e, por conseguinte, do número dos escolhidos, porque o reino dos céus te pertence.

(Introdução à Vida Devota,III,14)


HOMENAGEM

Precocidade
Firmeza
Integridade
Nobreza...

São palavras que acorrem à mente à vista do quadro ao lado.

Este menino de 14 anos, então pagem do Príncipe das Asturias, herdeiro do trono, na corte de Felipe II (Espanha), passaria para a posteridade com o nome de SÃO Luís GONZAGA.

Por ocasião do IV Centenário de sua morte, a celebrar-se no próximo dia 21 de junho, CATOLICISMO presta sua homenagem ao invicto Patrono da Juventude, e anuncia para uma de suas próximas edições a publicação de matéria sobre sua biografia.

Ao lado: quadro a óleo do Palácio Real de Madrid.


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