alguém de aderir à Igreja é um ato de perseguição a Cristo. Arrancar uma alma à Igreja é fazer a Nosso Senhor, em certo sentido, o mesmo que a nós fariam se nos arrancassem um membro.
Se, pois, nesta Semana Santa de 1992, queremos condoer-nos pela Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, não nos esqueçamos de quanto se faz atualmente para ferir-lhe o Divino Coração. Rezemos pelos perseguidos, para que perseverem na Fé. E peçamos a Nossa Senhora que mude as disposições de alma dos católicos neste Ocidente dito cristão. Pois só uma atitude enérgica deles poderá fazer cessar as perseguições.
A Igreja, sofredora, perseguida, vilipendiada, aí está a nossos olhos quiçá indiferentes ou cruéis. Ela está diante de nós como Cristo diante da Verônica. Condoamo-nos pelos seus padecimentos. Coloquemos a seus pés nossa indignação reparadora pelo que ocorre. Com carinho, consolemos a Santa Igreja sofredora. Podemos estar certos de que, com isto, estaremos dando ao próprio Cristo consolação semelhante à que lhe proporcionou a Verônica.
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Gregório Lopes
No tempo das Cruzadas o valor humano decidia a vitória, como sucedeu no reinado de Balduíno IV
Balduíno IV, coroado rei de Jerusalém, em 1174. Poucas pessoas sabem –– pois os cursos e livros didáticos de História quase não falam disso –– que os católicos mantiveram, durante cerca de duzentos anos, um importante reino na Palestina, chamado Reino de Jerusalém.
Nascido daquela ousadia que só a verdadeira fé comunica, da santa inconformidade com o fato de os Lugares Santos estarem sob domínio dos infiéis, cercado de muçulmanos agressivos, a existência desse Reino foi uma proeza contínua. Tornou ele exuberante realidade o sonho da Europa cristã de reconquistar o Sepulcro de Nosso Senhor.
Hoje em dia deploramos que a decadência do espírito de fé nos povos europeus tenha arrastado o Ocidente à triste situação moral e religiosa em que presentemente ele se encontra. Mas esse não foi o único fruto deteriorado que daí decorreu. No Oriente, o Reino Franco ou Latino de Jerusalém –– como também foi conhecido –– era uma cabeça-de-ponte para a conversão daqueles povos à cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se a fé não se tivesse entibiado nos corações, dali o cristianismo poderia ter-se propagado em condições favoráveis para toda a África e Ásia, e chegado, quiçá, aos extremos da China e do Japão, convertendo a Índia pagã e revertendo o cisma em que se precipitara o Império Romano do Oriente ou Bizantino ao romper com a Sé de Pedro.
Tal entibiamento, porém, foi a causa de que o Reino Católico de Jerusalém desaparecesse. Apagado nos corações o ardor da autêntica fé, cessou de existir a união no mesmo ideal. E supresso o elo divino de união, começaram a preponderar os fatores humanos de divisão: rivalidades pessoais, ambições, etc. O resto, os maometanos o fizeram. Mas essa já não é mais a história dos “cristãos atrevimentos” de que fala Camães, o célebre poeta luso, e sim a da decadência que começava então, e rola precipício abaixo até nossos dias.
Se, porém, pouco se fala da existência estável de um extenso reino católico na Palestina, menos ainda se realça os gloriosos fatos que lá se passaram. E quase não se menciona a figura de um homem excepcional, intrépido guerreiro até o holocausto por amor à Religião católica, Balduíno IV (1160 - 1185), o rei leproso de Jerusalém, que subiu ao trono aos 14 anos de idade. Só hoje em dia historiadores imparciais vão lhe fazendo justiça, como a outros vultos da Idade Média.
No momento em que as maiores adversidades se acumulavam naquele Reino, a Providência divina parece ter querido suscitar um homem –– melhor diríamos, uma chama de fé e coragem –– para mostrar que tudo ainda poderia ser salvo se o quisessem seguir e imitar. E caso não houvesse essa fidelidade –– como historicamente não houve –– ao menos ficasse ele como símbolo para os séculos futuros daquilo que a graça de Deus pode produzir nas circunstâncias mais terrivelmente contrárias.
Balduíno IV lutou contra a lepra, doença então incurável, que nele se manifestou desde criança e o foi pragressivamente transformando num morto-vivo, quase um fantasma chagado, até levá-lo ao túmulo aos 25