P.08-09 | MATÉRIA DE CAPA | (continuação) ra investiram contra os missionários e colonizadores, aproveitando a celebração do V Centenário do Descobrimento da América para tentar lançar índios contra brancos civilizados. Acima, líder da CPT no Rio Grande do Sul prega a Reforma Agrária "na marra". Para os corifeus do comuno-tribalismo, Nóbrega, Anchieta e tantos outros procederam mal ao evangelizar nossos pobres índios, abrindo-lhes as portas da salvação eterna. Pois, como disse um dos pregadores da Romaria, Irmão Antônio Cechin, "nós católicos não temos nada a ensinar aos índios. Eles é que são os nossos mestres". E os valentes portugueses e espanhóis, que desbravaram e civilizaram nosso Continente, são por eles considerados como vulgares "assassinos e exploradores". "São 500 anos de opressão e luta. A América índia foi escravizada e massacrada. Junto com a espada, chegou a cruz... Este é um ano para se estimular a reflexão sobre o significado da invasão, do genocídio e da chamada evangelização". No afã de caluniar nossos ancestrais, em cujas naus flutuava ao vento a bandeira com a Cruz de Cristo, os líderes da Romaria não recuaram sequer diante do ridículo: obrigaram a multidão presente a se ajoelhar diante de um índio e de três crianças fantasiadas com penas, para pedir perdão pelo fato de os missionários portugueses terem pregado a Boa Nova d’Aquele que é "o Caminho, a Verdade e a Vida". "Queremos nesta Romaria do V Centenário da América Latina –– dizia o locutor em nome de todos –– pedir perdão aos índios e seus descendentes. Perdão pelo desrespeito às suas vidas, cultura, nação, religião, ciência e modo de se organizar. Perdão por termos matado tantos milhões de índios, destruído e roubado suas terras, por lhes termos trazido uma outra religião". À esquerda: Irmãos Barbosa, do PC do B, cantam em versos o extermínio da burguesia.
Acima: D. Boaventura Kloppenburg, embora considerado conservador, prestou sua solidariedade aos arautos do progressismo e da luta de classes.

Tribuna popular

A "outra religião" execrada nesse espantoso ato é pura e simplesmente o Cristianismo. Mas os sequazes da nova "teologia comuno-ecológica" destilam sua doutrina espúria não a partir do ensinamento oficial da Igreja, mas de uma práxis, isto é, "a partir da prática das comunidades e dos militantes", que "produzem, criam seu próprio Pensamento Social Cristão" e "não se limita apenas a receber e repetir um conteúdo já pronto"3. E qual é essa "prática" geradora do "novo jeito de ser cristão"? Vejamos. Antes da "celebração eucarística", no próprio palanque onde se montara o altar, os "oradores populares" se revezavam cantando e discursando. Por exemplo, os "irmãos Barbosa", do PC do B, declamaram a poesia O operário camponês. "Operário e camponês/ vamos nos engajar nessa luta/ vamos entrar nessa disputa/ agora é nossa vez./ Vamos pegar a torquês e pôr a cerca no chão/ Até agora tu lutou feito escravo do patrão./ "Não é preciso ter medo nem tremer as pernas/ Vamos mudar esse sistema que até hoje nos governa/ para uma nova sociedade. Chega de tanta moleza/ nem que dê uma pauleira/ está chegando o nosso dia:/ Os sem-Terra vão à luta pra acabar com a burguesia!" Além dos representantes do PC do B, falaram os cabecilhas da invasão da Fazenda São Pedro (ver reportagem anexa), que se jactavam de terem mantido em cárcere privado e torturado o proprietário, os trabalhadores da fazenda e alguns soldados da Brigada Militar. Esse inusitado espetáculo foi assistido por sete Bispos do Rio Grande do Sul e por dezenas de sacerdotes e freiras. Estiveram presentes ao ato D. Aloísio Sinésio Bohn, Bispo de Santa Cruz do Sul; D. Ângelo Salvador, Bispo de Cachoeira do Sul; D. Boaventura Kloppenburg, Bispo de Novo Hamburgo; D. Jaime de Melo, Bispo de Pelotas; D. Laurindo Guizzardi, Bispo de Bagé; D. José Mário Strocher, Bispo de Rio Grande; D. Orlando Dotti, Bispo de Vacaria. Durante a Missa, o pregador oficial foi o pastor luterano Milton Shwantes, de Guarulhos (SP), que encontrou na pregação da luta de classes o denominador comum do "ecumenismo de base". Aliás, a própria CPT explica a razão dessa mistura explosiva entre as religiões e a práxis política: "A CPT é ecumênica. Ela mergulha na luta pela terra, sem se transformar em movimento de trabalhadores rurais católicos... É um ecumenismo que parte da luta social dos trabalhadores"4. Dessa práxis nasceu também um novo Credo, um Credo negativo. Ao contrário da afirmação dos dogmas de fé católicos, rezou-se na missa uma profissão de fé no marxismo: "Não cremos no Deus que é o sedativo (sic!) do povo!; não cremos no Deus dos poderosos e dos ricos!; não cremos no Deus que se encontra nas paredes e nos tabernáculos das igrejas!" (sic!). Afinal, em que se cria? "No Pai Nosso dos pobres e dos marginalizados... Não vamos seguir as doutrinas corrompidas pelo poder opressor... Perdoa e destrói os reinos... Pai Nosso, revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos" (canto nº 20). * * * Diz o provérbio popular que quem semeia ventos colhe tempestades. Do mesmo modo poderíamos dizer que quem semeia ódio colhe violência. É o que se arriscam a fazer os Bispos, padres e freiras, com cujo apoio e proteção proliferam os "movimentos de base", cujo ideal é o confronto, a invasão de terras, a derrota dos proprietários e a implantação do modelo cubano em nosso País.
Notas: 1. Cfr. Pe Marcelo Rezende Guimarães e Frei Sérgio Görgen, Desafio às comunidades, Vozes, Petrópolis, 1992, pp. 26-27. 2. Cfr. Comissão Pastoral da Terra (RS), Um serviço às lutas do Povo, pp. 4-5. 3. Cfr. Pe. Marcelo Rezende e Frei Sérgio Görgen, op. cit., pp. 25-26. 4. Comissão Pastoral da Terra (RS), op. cit., p 5.

Uma espada sobre a cabeça dos produtores rurais

Bráulio Aragão Quem pense ter cessado, em nosso País, a agitação no campo, engana-se redondamente: ela vem aumentando de intensidade, mediante a atuação de organismos como o Movimento dos Sem-Terra (MST) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) –– com o decisivo respaldo da esquerda católica especialmente no Rio Grande do Sul Sentado num banco, com as mãos e os pés amarrados, certo homem, com olhar apreensivo, vê apontado para seu crânio o cano de um revólver. E ouve a ameaça: "Você vai morrer, porque mataram um companheiro nosso". O infeliz experimenta a sensação de ter chegado seu último momento de vida, enquanto percebe o barulho seco provocado pelo acionar do gatilho e a virada do tambor da arma. O gatilho é puxado por uma jovem de baixa estatura, usando minissaia, com uma boina na cabeça e dois revólveres na cintura. Todo o seu modo de agir é o de uma guerrilheira. Tal cena de tortura psicológica –– conhecida como "roleta russa" –– repete-se várias vezes durante a noite. Teria isso ocorrido em alguma das prisões políticas cubanas –– poderia pensar algum leitor ––, nas quais certos prisioneiros são executados como animais de abate, sem qualquer julgamento? Quem fizesse tal suposição teria se equivocado. O fato, inteiramente real, deu-se em 8 de abril do ano passado, num dos galpões da fazenda São Pedro –– transformado então em cárcere privado ––, no Rio Grande do Sul. A vítima é o proprietário da fazenda, Antônio Carlos Caggiano Netto. A "executora" da pretensa justiça popular –– que responde pelo nome de Irma Ostroski –– é uma das líderes dos dois mil "sem-terra" que invadiram, pilharam e parcialmente incendiaram aquela propriedade rural. O que terá incitado aqueles invasores a tais atos de vandalismo? A fome? A falta de terra? Não. A verdadeira causa dessa invasão criminosa, e de tantas outras que vêm ocorrendo em nosso território, é uma bem orquestrada tática de guerrilha rural promovida pelo Movimento dos "Sem-Terra" e apoiada pela CUT e pelo PT.
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