P.14-15 | CADERNO ESPECIAL | (continuação)

Volta do Egito para Nazaré

São Mateus, 2, 19-23 –– São Lucas, 2, 40 Morto Herodes, o anjo do Senhor apareceu a José, no Egito, durante o sonho, e lhe disse: "Levanta-te, toma o Menino e sua mãe e volta para a terra de Israel, porque são já mortos os que queriam matá-lo"1. José, levantando-se, tomou o Menino e sua mãe, e veio para a terra de Israel. Sabendo, porém, que Archelau reinava na Judéia, em lugar de Herodes, seu pai, receou ir para ali. E, avisado em sonhos, retirou-se para as regiões da Galileia, indo habitar em uma cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que disseram os Profetas: "Será chamado Nazareno"2.
Notas: 1. A História confirma a narração do Evangelista. Este Herodes, de cuja morte aqui se fala, não é o mesmo que, mais tarde, mandou decapitar São João Batista e insultou a Nosso Senhor. 2. Esta palavra tem dois sentidos –– significa consagrado a Deus e habitante de Nazaré. Em qualquer destas acepções pode ser aplicada a Nosso Senhor, e por isso se lia no alto de sua cruz: Jesus Nazareno. (D. Duarte Leopoldo e Silva, Concordância dos Santos Evangelhos, Linográfica, São Paulo, 1951, 4ª edição, p. 25).

Comentário de Santo Afonso Maria de Ligório

(Excertos) Tendo Herodes falecido, depois que Jesus passou sete anos, segundo a opinião comum dos Doutores, no seu exílio no Egito, o anjo apareceu de novo a São José, e ordenou tomasse o divino Infante e sua Mãe, e voltasse à Palestina. São Boaventura considera que a volta foi mais fatigante para Jesus do que a fuga para o Egito: Ele crescera, Maria e José não podiam mais carregá-lo muito tempo em seus braços; doutro lado, nessa idade, Ele não era capaz de fazer a pé longas jornadas; o cansaço obrigava-o pois a fazer paradas freqüentes. Consideremos ainda a pena que, na viagem, nosso Salvador teve de sofrer durante as noites: já não tinha por leito, como na ida, o seio de Maria, mas a terra nua; já não tinha por alimento o leite materno, mas um pouco de pão seco, alimento bem duro para a sua tenra idade. Padeceu ainda a sede naquele deserto em que os hebreus, faltando-lhes a água, precisaram de una milagre para se dessedentar. Contemplemos e adoremos com amor todos os sofrimentos de Jesus Menino.
Santo Afonso Maria de Ligório, Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo, Vozes, Petrópolis, 1946, pp. 207-208.

Festa de Nossa Senhora Auxiliadora

(24 de maio) Essa comemoração foi introduzida no calendário litúrgico pelo decreto do Papa Pio VII, de 16 de setembro de 1815, em ação de graças por seu feliz retorno a Roma, após longo e doloroso cativeiro em Savona e na França, devido ao poder tirânico de Napoleão. A invocação "Auxilio dos Cristãos" é antiquíssima, tendo sido incluída na Ladainha Lauretana pelo Papa São Pio V em 1571, como preito de gratidão à Virgem Santíssima, em virtude da vitória dos cristãos na célebre batalha de Lepanto. * * * Durante os cinco anos de cativeiro, Pio VII recorria continuamente a Nossa Senhora sob a invocação de "Auxilio dos Cristãos". De 1809 a 1812, o Pontífice ficou aprisionado na cidade italiana de Savona, tendo então feito um voto de coroar a imagem da Mãe de Misericórdia, lá existente, caso alcançasse a liberdade. Em 1812, o Papa foi levado a Paris, permanecendo prisioneiro em Fontainebleau, onde padeceu grandes sofrimentos e humilhações infligidos pelo tirano francês. Mas, dentro de algum tempo os acontecimentos começaram providencialmente a transtornar a carreira do déspota. Em 1814, enfraquecido por derrotas sofridas em várias frentes e pressionado pela opinião pública, Napoleão permitiu que seu augusto prisioneiro voltasse para Roma. O Sumo Pontífice aproveitou o trajeto para honrar de modo especial a Mãe de Deus, coroando uma imagem sua, em Ancona, sob a invocação de Rainha de Todos os Santos. E, cumprindo o voto que fizera quando ainda prisioneiro em Savona, ornou a fronte da imagem da Mãe de Misericórdia com uma folhagem de ouro, quando passou por essa cidade. A viagem prosseguiu em meio a apoteóticas manifestações de veneração por parte das populações de todas as localidades por onde passou Pio VII. E a 24 de maio fez ele uma entrada triunfal em Roma, sendo acolhido pela população em peso. A carruagem que transportava o Sumo Pontífice avançava cona dificuldade em meio à multidão, pela via Flaviana, quando una grupo de fiéis, sob aplausos delirantes do povo, retirou os cavalos e passou a puxar o veículo até a Basílica Vaticana. Pio VII, atribuindo essa grande vitória da Igreja sobre a Revolução à potente intercessão de Maria Santíssima, quis manifestar-Lhe sua gratidão mediante o estabelecimento de uma festa, de âmbito universal, dedicada a essa bela invocação mariana. * * * Tal invocação tomou novo incremento no mundo católico devido à ação de um dos maiores santos da época contemporânea: São João Bosco, fundador da Pia Sociedade de São Francisco de Sales (salesianos) e das Filhas de Maria Auxiliadora. Os companheiros de São João Bosco notaram que, desde 1860, ele começara a invocar a Santíssima Virgem com o título de Maria Auxiliadora, Maria Auxilium Christianorum. Em dezembro de 1862, tomou o Santo a resolução de construir uma igreja dedicada àquela invocação. E declarou, na ocasião: "A Virgem Santíssima deseja que a honremos com o título ou advocação de ‘Auxiliadora’; os tempos que correm são tão tristes que temos verdadeira necessidade de que a Santíssima Virgem nos ajude a conservar e defender a Fé cristã como em Lepanto, como em Viena, como em Savona e Roma .... e será a igreja-mãe de nossa futura Sociedade e o centro donde se irradiarão todas nossas obras em prol da juventude". Seis anos após, em 21 de maio de 1868, era solenemente consagrada, em Turim, pelo Arcebispo da cidade, a magnífica igreja de Maria Auxiliadora. O sonho de Dom Bosco transformara-se em realidade e aquela devoção difundiu-se especialmente, desde então, por todo o Orbe católico, em larga medida, devido à atuação da Congregação Salesiana.
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