P.16-17 | HISTÓRIA SAGRADA EM SEU LAR |

Águas amargas, fontes e palmeiras

Depois de atravessarem milagrosamente o Mar Vermelho, os israelitas entraram no deserto. Oportunamente veremos as causas que os levaram a ali perambular errantes durante 40 anos, como castigo de sua falta de confiança em Deus, que lhes havia dado por guia o Profeta Moisés.

As águas amargas tornam-se doces

"Moisés tirou Israel do Mar Vermelho, e saíram para o deserto de Sur; e caminharam três dias no deserto sem encontrar água. E chegaram a Mara, mas não podiam beber as águas de Mara, porque eram amargas; por isto pôs àquele lugar una nome conveniente, chamando-o Mara, isto é amargura. "E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: ‘Que havemos de beber?' Ele, porém, clamou ao Senhor o qual lhe mostrou um pau; e, tendo-o lançado nas águas, elas se tornaram doces"1.

Prefigura da Cruz

"Todos os intérpretes consideram [esse lenho] o símbolo da Cruz, que tem a propriedade divina de suavizar todas as amarguras da vida"2. "Porventura não foi por meio de um lenho que se tornou doce a água amargosa?"3.

Fontes e Palmeiras

"Depois os filhos de Israel foram a Elim, onde havia doze fontes de água e setenta palmeiras, e acamparam junto das águas"4. "Essas doze fontes do deserto [prefiguravam] os doze Apóstolos que regaram com a doutrina celeste as praias áridas deste mundo; as setenta palmeiras, os setenta ou setenta e dois discípulos que, renovando-se de século em século como as palmeiras, deveriam oferecer para sempre, a todos os povos, os frutos da vida eterna"5.

Novas queixas

Mais de um mês transcorrera desde que os israelitas haviam saído do Egito. "E toda a multidão dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e Aarão no deserto. E os filhos de Israel disseram-lhes: Antes fôssemos mortos na terra do Egito pela mão do Senhor, quando estávamos sentados junto às panelas das carnes, e comíamos pão com fartura; por que nos trouxestes a este deserto para matar de fome toda esta multidão?".

Murmurar contra o Profeta é murmurar contra Deus

"E Moisés e Aarão disseram a todos os filhos de Israel: Esta tarde reconhecereis que o Senhor é quem vos tirou da terra do Egito; e pela manhã vereis a glória do Senhor. E Moisés disse: "O Senhor vos dará esta tarde carnes para comer, e pela manhã pães com fartura porque ouviu a vossa murmuração que murmurastes contra Ele; por que nós o que somos? Não são contra nós as vossas murmurações, mas contra o Senhor. "Disse mais Moisés a Aarão: Dize a toda a multidão dos filhos de Israel: Apresentai-vos diante do Senhor. Ora, quando Aarão ainda falava a toda multidão dos filhos de Israel, olharam para o deserto: e eis que a glória do Senhor apareceu no meio da nuvem"6.

Lição para nós

Ao lermos estes acontecimentos, devemos lembrar-nos que o Apóstolo São Paulo (I Cor. 10,11) diz que tudo isto acontecia em figura aos israelitas. "Deus fazia conhecer daquele modo sensível os seus desígnios acerca das almas escolhidas, que, resgatadas com o seu sangue do império do demônio, peregrinam no deserto deste mundo, guiadas pela coluna nebulosa da Fé, e depois de muitas provas, securas e sofrimentos, chegam por fim ao desejado porto da salvação"7.
Notas: 1. Ex. 15, 22-25. 2. L’Ancien et Le Nouveau Testament disposés sous forme de récits suivis, P. Lethielleux, Libraire-Éditeur, Paris, 1930, p. 50. 3. Ecli. 38, 5. 4. Ex. 15, 27. 5. Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de L’Église Catholique, Gaume Frères Libraires, Paris, 1842, tomo I, p. 381. 6. Ex. 16, 2-10. 7. Côn. J.I. Roquete, História Sagrada do Antigo e Novo Testamento, Guillar Aillard, Lisboa, 1896, 9ª ed., tomo I, p. 200. | INTERNACIONAL |

Um jazigo - duas trilogias

Plinio Corrêa de Oliveira Até mesmo os direitos mais elementares de todo homem, o coletivismo de Estado os negou invariavelmente a cada povo sobre o qual instalou seu poder, como a cada infeliz indivíduo constitutivo desse povo. O que a implantação do capitalismo de Estado trouxe de novo aos países do Leste europeu nos quais se implantou ? Ele fez do Estado um Leviatã em função de cuja onipotência os poderes de reis e nobres das eras anteriores cessaram de existir. Em sua força de atração devoradora, o coletivismo de Estado ao absorver absolutamente tudo, sepultou ipso facto no mesmo abismo, no mesmo nada, no mesmo jazigo, reis e nobres, como também, não muito depois, as "aristocracias", que haviam chegado ao ápice de sua caminhada histórica. E tudo por influência, próxima em alguns casos, remota em outros, da ideologia da Revolução de 1789, na França.

Tradição, Família, Propriedade

Também as camadas sucessivamente inferiores da burguesia foram atingidas. O poder de absorção do Leviatã coletivista não poupou um só homem, nem um só direito individual. Até mesmo os direitos mais elementares de todo homem, esses direitos que lhe tocam não por força de qualquer lei elaborada pelo Estado, mas pela força natural das coisas, expressa com divina sabedoria e com igualmente divina simplicidade nos Dez Mandamentos da Lei de Deus, também esses direitos, o coletivismo os negou invariavelmente a cada povo sobre o qual instalou seu poder, como a cada infeliz indivíduo constitutivo desse povo. É o que a experiência histórica, agora patenteada pelo sinistro panorama que se descortinou com a derrubada da Cortina de Ferro, tornou evidente a todo o gênero humano. Até o direito à vida, o Estado coletivista absorveu, negando ao homem o que a moda ecológica contemporânea se esforça por garantir ao mais frágil passarinho, ao menor e mais repugnante verme. Assim, o operário, o mais insignificante servo do Estado, foi o mais recente ocupante desse jazigo. Do lado exterior desse último, na lápide mortuária, a inscrição funerária poderia trazer a designação global destas vítimas de anteontem, de ontem e de hoje. Essa designação poderia resumir-se nos três grandes princípios que o coletivismo negou, e cuja negação despertou a destemida e polêmica contestação da maior entidade anticomunista de inspiração católica do mundo moderno: TRADIÇÃO, FAMÍLIA, PROPRIEDADE E como, segundo certas lendas populares, os jazigos das vítimas das injustiças muito gritantes são sobrevoados por confusos e atormentados turbilhões de Página seguinte