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| INTERNACIONAL | (continuação)
espíritos malignos, poder-se-ia imaginar sobrepairando essa ronda agitada, febricitante e ruidosa, mais outra trilogia: MASSIFICAÇÃO, SERVIDÃO, FOME.
Três Revoluções
Tal é o pesado, o macabro desfecho do longo processo cuja linha geral aqui se procurou resumir, tal é o caráter inflexível de sua caminhada - vitoriosa apesar de incontáveis obstáculos - a partir da confluência histórica na qual a Idade Média declina e morre, a Renascença surge em seus alegres triunfos iniciais, a Revolução Religiosa do Protestantismo começa a fomentar e preparar de longe a Revolução Francesa, e de muito longe a Revolução Russa de 1917... que se diria invencível a força que moveu tal processo, e definitivos os resultados a que ela chegou.
"Definitivos", tais parecem ser efetivamente esses resultados se não se fizer uma análise atenta da índole desse processo.
À primeira vista, ele parece eminentemente construtivo, pois levanta sucessivamente três edifícios: a pseudo-Reforma protestante (século XVI), a república liberal democrática (século XVIII) e a república soviética (século XX).
Porém, a verdadeira índole do mencionado processo é essencialmente destrutiva. Ele é a destruição. Ele atirou por terra a Idade Média cambaleante, o Ancien Régime evanescente, o mundo burguês apoplético, frenético e conturbado, sob a pressão dele esta em ruínas a URSS, sinistra, misteriosa, apodrecida como uma fruta que há tempo caiu do galho.
Hic et nunc, não é bem verdade que os marcos efetivos desse processo são ruínas ? E, da mais recente delas, o que está resultando senão a exalação e uma confusão geral que promete a todo momento catástrofes eminentes, contraditórias entre si, que se desfazem no ar antes de se precipitarem sobre os mortais, e ao fazê-lo, geram a perspectiva de novas catástrofes, ainda mais eminentes, ainda mais contraditórias, as quais quiçá se evanescem, por sua vez para dar origem a novos monstros, ou quiçá se convertam em realidades atrozes, como a migração de hordas eslavas inteiras do Leste para o Oeste, ou hordas árabo-maometanas do Sul para o Norte ?
Quem o sabe ? Quem sabe se será isso? Se será só (!) isto? Se será ainda mais do que isso?
Vitória do Imaculado Coração
Tal quadro seria desalentador para os homens, e o é por certo para os que não têm Fé. Pelo contrário, para os que têm Fé, do fundo desse horizonte sujamente confuso e torvo, uma voz, capaz de despertar a mais alentadora confiança, se faz ouvir: Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará (Nossa Senhora em Fátima, aparição de 13 de julho de 1917).
Que confiança depositar nessa voz ? A resposta cabe numa frase: Ela vem do céu.
| VERDADES ESQUECIDAS |
Sagrado Coração de Jesus
(Extraído de Diarium Perpetuum Clericorum et Religiosorum, Typographia Pontificia in Instituto Pii IX, Roma, 1911).
No Sagrado Coração de Jesus há doçura, mas também justiça, severidade, força. Tudo em grau infinito e divino.
De uma conceituada ladainha:
Coração de Jesus, sede da grandeza e da majestade de Deus, * Tende piedade de nós!
Coração de Jesus, cuja doçura se instila perenemente na alma fiel, *
Coração de Jesus, arsenal de todas as virtudes, *
Coração de Jesus, espada aguda contra o inimigo de nossa alma, *
Coração de Jesus, terror dos demônios e de todo o inferno, *
Coração de Jesus, inimigo de toda e qualquer culpa, *
Coração de Jesus, segregado do inundo e sempre odiado pelo mundo, *
Jesus, em cujo coração permanece escondido o dia da vingança contra os corações obstinados dos pecadores, *
| HAGIOGRAFIA |
São Felipe Neri: fundador, orador e baluarte da ortodoxia
Luiz Carlos Azevedo
Ascensão contínua rumo a graus de perfeição cada vez mais altos e abrasado amor a Deus caracterizaram a vida do "Apóstolo de Roma".
Na festa de Pentecostes do ano de 1544, um varão florentino de vinte e nove anos suplicava ardentemente ao Divino Espírito Santo que lhe concedesse a plenitude de seus dons. Subitamente, sentiu ele seu coração de tal modo abrasado do amor divino, que, não mais podendo conter-se em pé, atirou-se por terra, entreabrindo as próprias vestes sobre o peito, a fim de refrescar tanto ardor.
A partir de então, o homem de Deus sempre experimentou contínua palpitação e estremecimento do coração, sobretudo quando se ocupava das coisas divinas. Na oração, suas consolações sobrenaturais eram tão grandes, que chegava a ponto de desfalecer, o que o levava a dizer: "Afastai – Vos, Senhor, afastai – Vos porque a fraqueza mortal não resiste a uma alegria tão intensa. Eis que morro, se não vierdes em meu socorro".
Assim, ébrio do Espírito Santo, São Felipe Neri (1515 – 1595) dirigia-se às escolas, às tabernas, às praças públicas para conquistar almas para Deus. Sua festa comemora-se no dia 26 do corrente.
Vocação
A vocação divina tardou em manifestar-se claramente a São Felipe. Poder-se-ia crer, sendo ele chamado a ser o fundador de uma congregação religiosa –– a dos oratorianos –– que a Providência o conduziria pela mão até a realização dessa obra, e que a vontade divina lhe indicaria logo o caminho.
Entretanto, a realidade não foi essa. Os homens providenciais por vezes hesitam, tateiam, parecem até encetar um falso caminho; outras vezes tem-se a impressão que eles se desencorajam e se faz noite sobre suas resoluções e desejos mais santos: é a estrela guia dos Reis Magos –– em sua viagem a Belém –– que se eclipsa de tempos em tempos!
São Felipe teve um desejo ardente de ir às Índias, pois invejava o martírio, o destino daqueles que partiam para não mais voltar. E foi preciso que uma voz celestial o demovesse de tal intuito: "Felipe, é vontade de Deus que vivas nesta cidade [Roma], como se estivesses num deserto".
Ele obedece, e a Cidade Eterna se transforma para ele num deserto. Nesse deserto repleto de pecadores, as multidões se acercam dele, sem perturbar-lhe a solidão. Ele fala, ensina, exorta e sobretudo reza.
Oratória
Um dos mais poderosos meios que utilizava para a conquista das almas eram as conferências públicas espirituais, às quais concorriam Cardeais, Bispos, sacerdotes e leigos.
São Felipe, ademais, reunia à sua volta turmas de rapazes desgrenhados e de modos pouco civilizados; fazia-os rezar e cantar, mais ainda, para afastá-los dos teatros e divertimentos perigosos, realizava os oratórios espirituais, isto é, representações teatrais de cenas bíblicas. Daí o nome de Oratório, dado à sua obra. E ainda hoje o termo conserva esse sentido, ou seja de um gênero musical dramático, que versa sobre assunto religioso, tirado quase sempre das Sagradas Escrituras, com solos, coro e orquestra.
O Papa Gregório XIII aprovou a instituição dos oratorianos, dando a São Felipe –– logo chamado de
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