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Eusébio põe a classe em alvoroço
Leo Daniele
A desigualdade entre os órgãos do corpo, como entre os membros da sociedade humana, é necessária para o bom funcionamento do todo.
Os dias tinham voltado a correr tranquilos na simpática cidade de Santa Edwiges, e também na escola que leva o nome da santa padroeira, quando algo tornou a movimentar os espíritos daquela operosa população: subitamente ali surgiram agentes de uma empresa de publicidade, desconhecida na região, afixando por toda parte grandes cartazes de propaganda da "Eco-92".
As sábias lições de Dona Carolina sobre ecologia haviam repercutido vivamente, não apenas na escola, mas também em toda a pequena cidade. De índole tradicionalmente católica, aquela laboriosa população não podia deixar de se ver assaltada por fortes desconfianças quanto a certa propaganda ecológica, de fundo ateu e igualitário, para a qual a respeitável professora alertara seus alunos em diversas aulas.
Na Escola Santa Edwiges, as aulas de Dona Carolina prosseguiam também. A bondosa professora, que leciona História Natural e Biologia, vinha discorrendo, desta vez, sobre a maravilhosa e sábia organização do corpo humano, disposta pelo Criador.
–– Vejam, meus caros alunos – dizia ela – como o perfeito funcionamento do nosso corpo provém de uma imensa variedade de órgãos desiguais em nobreza, funções e importância, mas dispostos numa mútua e harmônica colaboração, para o bem comum do organismo. E nisso contribuem desde os órgãos mais modestos até os mais elevados e decisivos. Os pés carregam o peso do corpo, mas recebem do coração o sangue que os alimenta e lhes garante a vida. E são protegidos pela cabeça, cujo centro nervoso transmite as "ordens" da inteligência e da vontade e lhes evitam desastres, como pisar sobre espinhos ou precipitar-se em abismos.
Para dar à inteligência conhecimento dos riscos que correm os pés, e com eles todo o organismo, estão os olhos, os ouvidos e outros órgãos de nossos sentidos. Se algum sábio quisesse fazer uma descrição completa da riquíssima interdependência e mútua colaboração dos órgãos de nosso corpo, sua vida inteira não bastaria. O bem comum do todo se obtém pelo exercício de cada órgão no lugar e função que lhe compete.
–– Puxa, professora – exclama admirado Fernando – como é bela a sabedoria de Deus que assim ordenou as coisas!
–– De fato – retoma a professora – você poderá contemplar tal sabedoria em muitos outros aspectos da ordem estabelecida por Deus. Por exemplo, nas sociedades humanas, que são formadas de criaturas desiguais em dons, funções, importância e dignidade, mas que, se souberem colaborar mutuamente, cada uma no seu lugar e na sua função, produzirão maravilhas de cultura e civilização.
–– Agora compreendo a aberração da "luta de classes"– diz Bonifácio, vivamente satisfeito – e da revolta de quem é menos ou tem menos contra os que são ou têm mais, em nome de uma pretensa igualdade entre os homens. Imagine a senhora – continua ele – que no corpo humano os pés e as pernas se recusassem a carregar o tronco, por se sentirem oprimidos por este. E que, em contrapartida, o coração se recusasse a irrigar com sangue aqueles. E a cabeça, com seu centro nervoso, por vingança, deixasse de comandar uns e outros... Todo o organismo caminharia para o caos e o desastre. O mesmo necessariamente se dá com uma sociedade que se deixa envenenar pelas ideias socialistas de "luta de classes" pregada pelo marxismo, como a senhora nos tem ensinado.
A esta altura, Eusébio, o filho da psicóloga – que ficara um tanto abalado em suas convicções ecologistas – intervém de modo intempestivo:
–– Professora, a senhora viu a notícia da "Eco-92"? Aqueles assuntos de que a senhora tratou conosco vão ser debatidos em grande assembleia internacional, a reunir-se no Rio de Janeiro, em junho próximo.
–– É verdade – acrescenta Fernando. Os ecologistas radicais querem atribuir às plantas, aos animais, e até aos minerais uma importância e uma dignidade que eles não possuem. E com isso rebaixar o homem. Se eles ouvissem o que Dona Carolina e nós estamos aqui comentando, ficariam muito contrariados. Sem poder negar as desigualdades de órgãos e funções que Deus estabeleceu no corpo humano, entretanto as negam categoricamente para o organismo social, e até para a própria ordem da natureza.
–– Alto lá! – intervém Eusébio – concordo agora com vocês que entre os minerais, vegetais, animais e homens há grandes desigualdades. Mas entre estes últimos não as pode haver. Deus criou todos os homens iguais. E quererem uns ser mais do que outros, ou ter mais, é orgulho, falta de caridade, que gera injustiças e opressões.
A esta altura. vários falam ao mesmo tempo, e o burburinho se generaliza na sala.
Sobrepondo-se ao vozerio, Bonifácio dirige-se á professora:
–– Afinal, a desigualdade social é justa ou injusta? Professora! O que ensina a doutrina católica a respeito? Diga-nos, por favor!
O toque da campainha dando encerramento à aula interrompe as calorosas palavras de Bonifácio. Dona Carolina então conclui:
–– Em próxima aula, se Deus quiser, trataremos disso. Entretanto, não deixem de comentar com seus amigos e conhecidos tais assuntos, pois são próprios a nos abrir novos horizontes intelectuais, e a nos auxiliar a compreender o mundo e o momento histórico em que vivemos.
Comente, comente, também, leitor de Catolicismo!
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