P.02-03
| DISCERNINDO, COMENTANDO, AGINDO |
Pesquisa incomoda progressistas"
C. A.
Freira sentada no chão, numa espécie de piquenique, durante um congresso católico. A pretexto de se aproximar do povo, os "progressistas" quiseram dessacralizar a Igreja. O povo afastou-se deles.
Um sociólogo de Recife, Prof. Lemuel Guerra, apresentou tese de mestrado na Universidade Federal de Pernambuco. E para isso teve a original ideia de promover um inquérito entre católicos, a propósito de temas que atualmente dividem conservadores e "progressistas".
O resultado –– dado a lume no início deste ano (cfr. "Jornal do Brasil", 4-1-192) –– revelou-se bastante incômodo para os "progressistas". Tornou patente que sua penetração junto aos católicos pernambucanos é quase nula.
A pesquisa mostrou que praticamente a totalidade dos abordados "quer mesmo ver os padres pregando o Evangelho e celebrando ofícios religiosos". Dos consultados, 99,7% pronunciaram-se nesse sentido!
Ela deixou claro também que, mesmo em matéria política, há atualmente um forte distanciamento entre os fiéis e boa parte do Clero naquele Estado. Pois, no que se refere à chamada "conscientização política", bem-amada das esquerdas, 73,7% dos padres se mostraram favoráveis a ela, enquanto apenas 46,6% dos fiéis a aprovaram. Ademais, 74,7% destes reprovam a participação de religiosos em campanhas eleitorais.
Tal radiografia da realidade explica mais a fundo a oposição que parte do Clero pernambucano tem feito a D. José Cardoso Sobrinho, pelo fato de este ter imprimido a seu governo episcopal uma orientação diferente da de seu antecessor em Recife, D. Helder Câmara, o Arcebispo Vermelho, atendendo mais aos anseios religiosos do povo.
A questão, porém, está longe de restringir-se a Pernambuco. O mesmo Prof. Lemuel Guerra, que andou estudando o assunto, declarou ao "Jornal do Brasil": Acho que o Papa vem sabendo disso [do conservadorismo dos fiéis] há muito tempo e deve ter resolvido por isso dar uma guinada na Igreja do Brasil, afastando os padres progressistas do seu comando e até os Bispos, como aconteceu em 1985 em Pernambuco e depois em São Paulo. Para o sociólogo, teria havido uma mudança na Igreja "para não continuar perdendo adeptos".
Ao mesmo órgão de imprensa, o Cônego Miguel Cavalcante, Vigário-Geral da Arquidiocese de Olinda e Recife, afirmou: O povo não quer mesmo uma Igreja que participe de comícios ou de assembleias políticas. E esclareceu que vários padres foram afastados da Arquidiocese porque, a respeito deles, a Cúria vinha recebendo seguidas queixas de muitos fiéis.
* * *
Há mais de 35 anos, quando conheci o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira ––portanto muito antes do Concílio Vaticano II ––, ele já afirmava que o movimento dito "progressista" era imposto aos fiéis de cima para baixo, por uma determinada camada de eclesiásticos.
Lendo depois os livros e artigos desse ilustre mestre, escritos nas décadas de 40 e 50, dei-me conta de que ele já denunciara graves desvios pré-"progressistas" no interior da Igreja, vindos de altas cúpulas.
Ora, os fautores desses erros sempre os apresentaram como sendo desejados pelos fiéis: "É preciso que a Igreja se aproxime do povo", diziam. Mas, de fato, à medida que o "progressismo" foi entrando na Igreja, aconteceu que os fiéis dela foram saindo. Uns pela lamentável porta da apostasia, outros pelo alheamento. Dentre os que ficaram, poucos aderiram às novidades, a maioria permaneceu indiferente a elas, e alguns passaram a combatê-las. Estes eram os mais fiéis.
Tal realidade vai se tornando cada vez mais evidente. Se, como diziam os "progressistas", era para contentar o povo que inoculavam suas novidades na Igreja, agora que os fatos falam, gritam, berram que isso é falso, não seria o caso de voltarem inteiramente atrás e darem razão a quem estava certo?
Sublinhamos a palavra inteiramente. Pois, se ficarem apenas em pequenos recuos estratégicos, sua responsabilidade pelo esvaziamento da Igreja tornar-se-á cada vez mais acachapante.
| ASSESTANDO O FOCO |
Editorial
Reforma Agrária. Tanto se falou, tanto se escreveu sobre ela, tanto se mexeu no assunto, que a expressão ficou desgastada. De modo que, no Brasil de hoje, quase só a defendem os furibundos partidários da esquerda - católica ou não católica -, sempre aferrados aos modismos de ontem.
Mas não foram só, nem principalmente, o uso e o abuso da expressão que a esvaziaram. Foi também o fracasso, por toda parte, da Reforma Agrária.
Muitos, desde 1960, não quiseram reconhecer a limpidez serena e irretorquível, ao mesmo tempo clarividente, da argumentação desenvolvida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira contra a Reforma Agrária socialista e confiscatória. São eles agora obrigados a dar a mão à palmatória, em face dos desastres sociais e econômicos que ela semeou pelo mundo.
E não pense o leitor que estamos nos referindo sobretudo ao Leste europeu ou a Cuba - nações inteiras atiradas à mais negra miséria. Queremos salientar o fracasso da Reforma Agrária no México, país apontado até há pouco como paradigma da revolução no campo.
Ante a situação calamitosa da agricultura mexicana, fruto de um longo processo de Reforma Agrária que vem desde 1915 – é a mais antiga e a mais propagandeada das reformas agrárias –, o governo do Presidente Salinas de Gortari operou agora uma espetacular volta atrás.
E note-se que se trata de um governo saído de um partido – o Partido Revolucionário Institucional (PRI) – que domina o México há décadas, tendo como uma de suas principais bandeiras perpetuar a divisão e distribuição de terras...
O camponês mexicano chegou a um grau de pobreza tão deprimente, a economia do país se viu tão profundamente golpeada, que Salinas resolveu abrir a agricultura para a propriedade privada e a livre iniciativa, com a participação de empresas nacionais e estrangeiras.
E, se críticas merece o Presidente mexicano, é pelo fato de não ter varrido inteiramente da Constituição os princípios socialistas. Manteve ele, pelo contrário, um perigoso entulho legal, herdado da Revolução mexicana (1910-1917), que se não for revogado poderá novamente reverter a situação.
Tudo isso o leitor encontrará devidamente explicado nas páginas internas.
Página seguinte