P.14-15
| CADERNO ESPECIAL | (continuação)
Perda e encontro do Menino Jesus no Templo
(Lc.II,41-52)
Jesus entre os doutores
E seus pais iam todos os anos a Jerusalém, no dia solene da Páscoa. E, quando chegou aos doze anos, indo eles a Jerusalém segundo o costume daquela festa, acabados os dias (que ela durava), quando voltaram, ficou o Menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o advertissem. E, julgando que Ele fosse na comitiva, caminharam uma jornada, e (depois) procuravam-nO entre os parentes e conhecidos. E, não O encontrando, voltaram a Jerusalém em busca d’Ele. E aconteceu que, três dias depois, O encontraram no Templo sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que O ouviam estavam maravilhados da sua sabedoria e das suas respostas. E, quando O viram, admiraram-se. E sua Mãe disse-lhe: Filho, por que procedeste assim conosco? Eis que teu pai e eu Te procurávamos cheios de aflição. E Ele disse-lhes: Para que Me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-Me nas coisas de meu Pai? E eles não entenderam o que lhes disse. E desceu com eles, e foi a Nazaré, e era-lhes submisso. E sua Mãe conservava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e diante dos homens.
Comentários do Padre Luís Cláudio Fillion
(Nuestro Señor Jesucristo según los Evangelios, Ed. Difusión, Buenos Aires, 1917, pp. 84-85).
(Excertos)
Quando o grupo, no qual iam Maria e José, se pôs em marcha para a Galileia, Jesus ficou em Jerusalém sem avisar seus pais.
Depois de inutilmente tentarem achá-lo em cada conjunto de pessoas, José e Maria voltaram a tomar tristemente o caminho de Jerusalém, continuando a procurá-lo por todo o trajeto e também na cidade, desde que lá chegaram. Até que, no terceiro dia, encontraram Jesus em uma dependência onde os rabinos realizavam suas sessões acadêmicas. Estava sentado aos pés dos doutores segundo o estilo oriental, escutando-os e interrogando-os. Suas perguntas e respostas continham tanta sabedoria que todos os assistentes estavam estupefatos de admiração.
Quando perceberam que Ele estava nesta importante assembleia, Maria e José ficaram por sua vez maravilhados, pois conheciam a modéstia e o silêncio, habituais n’Ele, e o cuidado com que até então ocultava sua natureza superior. Uma amorosa queixa saiu do coração de Maria: "Filho, por que agiste assim conosco? Vê como teu pai e eu cheios de aflição Te procurávamos". Respeitosamente respondeu-lhes Jesus: "Como Me procuráveis? Não sabíeis que devo Me ocupar com as coisas de meu Pai?"
Verdadeiro Filho de Deus, não devia consagrar-se antes de tudo e inteiramente aos assuntos de seu Pai? Ele se admirava, pois, por seu lado, de que Maria e José não tivessem interpretado neste sentido seu desaparecimento momentâneo, eles que O conheciam melhor que ninguém.
Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino na "Catena Aurea"
São João Crisóstomo –– O Senhor não operou nenhum milagre durante sua infância; somente este [a disputa com os Doutores, no Templo], como refere São Lucas, mediante o qual mostrou-Se admirável.
Grego ou Geómetra –– À vezes, [Jesus] começava por instituir a lei com palavras e depois a comprovava com obras, como diz São João em seu Evangelho (cap. 10): "O bom pastor dá a vida por suas ovelhas"; e, com efeito, pouco depois (desejando nossa salvação) nos deu sua própria vida; outras vezes, pelo contrário, dava primeiro o exemplo e depois explicava a maneira de viver bem, como neste trecho, em que, por suas obras, nos ensina haver três coisas que devem ser antepostas às demais: amar a Deus, honrar seus pais e dar preferência a Deus, mesmo em relação aos próprios pais. Porque, quando foi repreendido por eles, considera como de pouca importância todas as coisas que não são de Deus, e logo obedece também a seus pais.
Festa do Sagrado Coração de Jesus
D. Prosper Guéranger, L’Année Liturgique– Le temps après la Pentecôte, Maison Alfred Mama et Fils, Tours, 1922, quinzième éd., Tome 1, excertos das pp. 540–545.
Estando diante do Santíssimo Sacramento um dia, dentro da oitava de Corpus Christi (em junho de 1675) –– narra Santa Margarida Maria Alacoque, religiosa visitandina e grande vidente, escolhida por Nosso Senhor para comunicar ao mundo a devoção a seu Sagrado Coração ––, recebi de meu Deus enormes graças de seu amor. E sentindo-me tocada pelo desejo de Lhe retribuir algo, de Lhe pagar amor com amor, disse-me Ele: "Tu não Me podes conceder maior retribuição do que fazendo o que já tantas vezes te pedi". Então, mostrando-me seu divino Coração: "Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até esgotar-se e se consumir para lhes testemunhar seu amor; e como recompensa não recebo da maior parte deles senão ingratidões, por suas irreverências e seus sacrilégios, e por friezas e desprezos que têm para comigo neste Sacramento de Amor. Mas o que Me é ainda mais sensível é que são os corações que Me são consagrados que se comportam assim. É por isto que te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava de Corpus Christi seja dedicada a uma festa especial para honrar meu Coração, que se comungue nesse dia e se faça reparação através de um pedido de perdão, a fim de reparar as afrontas que Ele recebeu durante o tempo em que esteve exposto nos altares. Eu te prometo também que meu Coração se dilatará para derramar com abundância os efeitos de seu divino amor sobre aqueles que Lhe dispensarem esta honra e se empenharem para que ela Lhe seja prestada".
Confidente do Salvador e depositária de suas expressas intenções sobre o dia e a finalidade a que o Céu queria ver destinada a nova festa, Santa Margarida Maria ficou realmente encarregada de promulgá-la e dirigir sua celebração no mundo inteiro.
Para conseguir o resultado que ultrapassava as forças pessoais da humilde religiosa, o Senhor havia aproximado misteriosamente de Santa Margarida Maria um dos mais santos religiosos que possuía então a Companhia de Jesus, o Revmo. Pe. Cláudio de la Colombière. Ele reconheceu a santidade das vias pelas quais o Divino Espírito conduzia a santa e se fez o apóstolo devotado do Sagrado Coração, em Paray-Ie-Monial primeiramente e até na Inglaterra, onde ele mereceu o glorioso título de confessor da fé, nos rigores das prisões protestantes. Esse fervoroso discípulo do Coração do Homem-Deus morreu em 1682, esgotado por trabalhos e sofrimentos. Mas, na ocasião, a Companhia de Jesus inteira herdou seu zelo em propagar a devoção ao Sagrado Coração.
A aprovação formal da Sede Apostólica a essa devoção não deveria tardar muito em relação ao empenho já manifestado pela piedade católica quanto ao divino Coração. Roma havia já concedido numerosas indulgências às práticas privadas e erigido mediante breves pontifícios inúmeras confrarias quando, em 1765, Clemente XIII, cedendo às instâncias dos Bispos da Polônia e da Arquiconfraria Romana do Sagrado Coração, emitiu o primeiro decreto pontifical em favor da festa do Coração de Jesus, aprovando para comemorá-la uma Missa e um Ofício. Concessões locais estenderam pouco a pouco este primeiro favor a outras circunscrições eclesiásticas, até que enfim, no dia 23 de agosto de 1856, Pio IX, de gloriosa memória, solicitado por todo o Episcopado francês, emitiu o decreto que inseria no calendário litúrgico a festa do Sagrado Coração e ordenava a sua celebração à Igreja universal. Trinta e três anos mais tarde, Leão XIII elevava a rito de primeira classe a solenidade que seu predecessor havia estabelecido.
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