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| REFORMA AGRÁRIA | (continuação)
to de "interesse público", novamente impor a socialização agrária.
Ficam, ademais, proibidas as propriedades consideradas grandes (latifúndios). E os limites da propriedade aceitos pela lei variam de acordo com o tipo de cultivo.
As sociedades mercantis que podem ser proprietárias de terras, também são meticulosamente reguladas.
Protege-se a integridade da terra dos grupos indígenas, esses grandes privilegiados das legislações modernas.
Ademais, facilita-se o quanto possível o uso comunitário da propriedade rural.
Ou seja, o conjunto de medidas constituiu uma abertura para a propriedade privada e a livre iniciativa... mas não tanto! É como alguém que, obrigado a devolver um dinheiro, o faz com a mão apenas entreaberta, para reter o mais possível.
* * *
Seja como for, o estrondoso fracasso da reforma agrária mexicana é um fato da maior importância para abrir os olhos de tantos ingênuos que se deixam levar pela propaganda agro-reformista. O próprio Salinas declarou: "Os mitos levaram a pobreza ao meio rural" ("EI Universal", México, 15-11-91).
Ora, no Brasil, os ingênuos, como também os mitos, não faltam...
Repercussões na imprensa
A imprensa brasileira quase nada publicou sobre o espetacular fracasso da reforma agrária mexicana. A imprensa norte-americana mostrou-se mais informativa. Eis alguns exemplos:
– "O Presidente Salinas propôs levantar a excomunhão contra o setor privado. As joint-ventures podem melhorar o ineficiente sistema agrário" ("The Wall Street Journal", 8-11-91).
– "O Governo mexicano propôs rever drasticamente sua reforma agrária para que, pela primeira vez, milhões de camponeses das cooperativas tenham a possibilidade de se tornarem proprietários" ("The Washington Post", 8-11-91).
– "Salinas iniciou uma série de reformas da sociedade, tão radicais como não havia desde a revolução de 1910-1920. O Presidente também propôs relegar ao ferro velho as leis de Reforma Agrária" ("Financial Times", 11-11-91).
– "Planos radicais para desmantelar no México o programa da reforma agrária, último e desfeito vestígio da revolução mexicana" ("El Nuevo Herald", 20-11-91).
– "Por causa de sua ineficiência, o sistema agrário já teria ruído há muito tempo se o Governo não tivesse dado grandes subsídios" ("The New York Times", 27-11-91).
– "Os ejidos cobrem 2/3 do escasso território arável do México. Mais do que propriedades rurais, são eles o símbolo dos princípios igualitários da Revolução... Em 1980, o Governo bombeou milhões de petrodólares nas fazendas coletivas, esperando comprar a autosuficiência agrícola em 1985. O esforço fracassou" ("Newsweek", 18-11-91).
Bispo quer "avançar"
O Episcopado mexicano mostrou-se bastante reticente quanto aos resultados futuros da volta atrás da reforma agrária.
Segundo "El Heraldo de México" (8-11-91), "a Conferência do Episcopado Mexicano, após qualificar o ejido como ‘o maior fracasso da Revolução mexicana considerou, entretanto que pretender remediar décadas de improdutividade, injustiça social e controle político da terra, entregando a superfície cultivável do território nacional ao mais forte, constituiria um grave erro político cujas consequências não tardaríamos a lamentar" (p. l-A).
Em declarações ao mesmo diário (p. 18-A), Mons. Javier Lozano Barragán, Presidente da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé e Bispo de Zacatecas, teme que "cheguem os latifundiários e voltemos ao regime das fazendas". Num inusitado preito de saudades ao ejido, que tanto mal fez ao camponês pobre, ele acrescenta: "Com todas as suas deficiências, o ejido representa a boa vontade de dar a terra a quem a trabalha". Como se o camponês pudesse alimentar-se de "boa vontade"! Ademais, o princípio aí enunciado de que a terra é de quem a trabalha, é claramente comunista.
O Bispo adverte ainda para o perigo de "o capitalismo selvagem" –– utiliza-se assim de um slogan bem-amado das esquerdas –– tomar conta do campo.
Por fim, com medo de que se consolide "a sociedade piramidal", Mons. Lozano augura "um avanço para um regime social igualitário". Tal pertinácia em "avançar" rumo ao igualitarismo, quando as tentativas de aplicá-lo acabam de fracassar rotundamente não só no México, mas em todo o Leste europeu, bem mostra que não é a vantagem dos pobres que procuram certos setores ditos "progressistas" da Igreja, mas sim a realização da ideologia socialista.
E, se a realidade os desmente, como no caso mexicano, pior para ela!
| TFP´s EM AÇÃO |
No Uruguai, tendência socialista em documento episcopal
MONTEVIDÉU –– A Comissão de Estudos da Sociedade Uruguaia de Defesa da Tradição, Família e Propriedade acaba de publicar, em separata de sua revista "Lepanto", um importante estudo. Nele faz graves reparos ao documento marcadamente revolucionário da Comissão Episcopal Uruguaia (CEU), intitulado Evangelho e Cultura, a ser apresentado na IV Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM), a realizar-se no dia 12 de outubro próximo, em São Domingos. Nessa reunião, que se fará sob a presidência de João Paulo lI, serão traçados rumos para o futuro da Igreja em nosso Continente, ao ensejo das comemorações do V Centenário do Descobrimento e Evangelização da América.
Além de publicado no maior jornal de Montevidéu, "El País", o estudo da TFP foi divulgado por uma caravana de jovens que percorreu 16 cidades uruguaias. Televisão, rádios e publicações diversas noticiaram a campanha, a qual alcançou grande repercussão.
Em seu documento, os Bispos uruguaios fazem um balanço da situação do país, formulando radical condenação de seu sistema econômico, político e social, no qual subsiste a propriedade privada e a livre iniciativa. Ao mesmo tempo, propõem a adoção de um regime com fortes traços socialistas: um sistema baseado num homem novo, associado em pequenas comunidades, sem hierarquia, sem classes sociais e até sem qualquer abundância material. "Trata-se de passar –– dizem eles –– da cultura do meu e do teu, para a cultura do nosso".
Enquanto setores de esquerda, como o movimento MLN –– Tupamaros, se regozijaram com o documento Evangelho e Cultura, este produziu "perplexidade, quando não a consternação, no uruguaio comum". Mesmo um Prelado, Mons. Galimberti, Bispo de San José, discrepou publicamente do documento da CEU.
É, de fato, desconcertante que os Bispos uruguaios acenem para uma alternativa socialista, no momento em que esse regime desmorona no Leste europeu, tendo levado populações inteiras às mais penosas condições de vida. Em sentido diverso, o estudo da TFP transcreve algumas declarações a respeito da cumplicidade e conivência de autoridades eclesiásticas com o comunismo reconhecimentos feitos a posteriori ––, como a do Presidente da Conferência Episcopal Francesa, Cardeal Décourtray: "Todos nós somos semelhantes a Ceaucescu [o sinistro ditador comunista romeno], se não por nossos atos, ao menos por nossas omissões".
Questão social: fundo religioso
Ao considerar que a questão social é antes de tudo econômica, o documento Evangelho e Cultura se contrapõe ao ensino tradicional dos Papas, que desde o início salientaram que a questão social é antes de tudo moral e religiosa sustenta a TFP uruguaia.
Além disso, em suas apreciações de ordem econômica, os Bispos uruguaios consideram o capitalismo –– ao contrário do que se veem hoje obrigados a reconhecer os próprios socialistas ––, como sendo um sistema dotado de imenso poder maléfico, responsável praticamente por todos os males da sociedade. A única prova que dão em apoio a suas afirmações é "a experiência cotidiana das CEBs"...
O Uruguai –– salienta ainda a TFP –– já foi um país extraordinariamente rico, alcançando padrões dos mais altos do mundo, os quais, atualmente, se bem que bastante diminuídos, continuam ainda sendo dos mais elevados do Continente. O que ocorreu no Uruguai foi um exemplo singular de contra desenvolvimento econômico, causado precisamente pelo intervencionismo estatal, ditadura sindical e outros fatores socializantes, que reduziram a iniciativa privada a uma situação de anemia.
Tomando em consideração as nuvens negras que se acumulam no horizonte, tanto pela ameaça da agitação revolucionária desencadeada em oposição às comemorações do V Centenário do Descobrimento e Evangelização da América como pelos desdobramentos, no Ocidente, do desmoronamento do regime soviético, a TFP uruguaia considera que o documento da Conferência Episcopal pode se constituir em lenha que venha alimentar o fogo.
Suplica, por isso, à Virgem da Imaculada Conceição, Padroeira do Uruguai, sua especial proteção ao país, ante os perigos que nesta hora o rondam.
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