P.02-03
| DISCERNINDO, COMENTANDO, AGINDO |
A revolução "alternativa"
C. A.
Torcendo o sentido das palavras, ajuda-se a revolução geral dos costumes.
Em meio ao atual caos das ideias e das mentes, não surpreende que as palavras –– o que são elas, senão a expressão das ideias! –– vão sendo muitas vezes submetidas a forte torção.
Ora –– observava recentemente o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira ––, está se dando hoje em dia uma transformação curiosa em algumas palavras: dentre os vários significados que elas podem ter, é um mais longínquo, quase forçado, que vai prevalecendo sobre os demais, e tendendo a suplantá-los. É desse tipo a modificação revolucionária que se vai operando na palavra alternativo e seus derivados.
Esse vocábulo tem sua origem no latim alter (um outro, uma outra coisa). Aplicado em seu sentido corrente, podemos falar, por exemplo, num tratamento alternativo, mediante a utilização de dois remédios de efeitos diversos, que são ingeridos pelo doente, ora um, ora outro, alternativamente, segundo prescrição médica. Ou em férias alternativas, no mar ou na montanha, conforme as conveniências.
Entretanto, eis que a palavra alternativo vem tomando, ultimamente, um outro sentido. Passou a designar algo de meio cismático, que rompe com o curso normal das coisas e toma uma nota de extravagância. Fala-se então em "medicina alternativa", como um conjunto de práticas que fogem aos padrões clássicos da medicina, uma espécie de curandeirismo. Há jornais que publicam uma seção chamada "Vida alternativa", indicando com isso uma vida fora de bases racionais, frequentemente dada à magia ou à vagabundagem.
Como se vê, a palavra alternativo é adotada para designar toda sorte de coisa torcida, que está fora do lugar, fora dos eixos, fora da lei. Não se trata de um uso de todo incorreto desse vocábulo, pois realmente a coisa meio cismática ou herética, extravagante, pelo fato de ser diversa da normal, coloca uma alternativa. Só que é uma falsa alternativa. Mas, do modo como vem sendo utilizada, a palavra indica que a opção má é tão válida quanto a boa. E nisso ela vai tomando um significado revolucionário, pois vai nivelando o que é torto com o que é direito, o que é ilegal com o que está dentro da lei.
Dessa forma, a "medicina alternativa" seria um tipo de medicina a escolher, tão legítima quanto a outra; a "vida alternativa" seria um modo de vida pelo qual se pode optar tanto quanto pelo outro, e assim por diante. É como nivelar a doença com a saúde, a penúria com a prosperidade, a ininteligência com a razão. Nessa acepção, até o nefando pecado de homossexualismo constituiria uma "via alternativa" para a sexualidade.
É com essas torções de sentido que, muito jeitosamente, a palavra alternativo vai sendo utilizada de modo revolucionário.
Ainda há pouco, um jornal noticiava que na Dinamarca um "Estado alternativo completa 20 anos". A notícia explica que, dentro do Estado dinamarquês, constituiu-se o "Estado Livre de Christiania", assim proclamado por "marginais, alternativos e drogados".
* * *
Não se trata aqui de mera questão de palavras. Quem deseje prestar bem atenção, perceberá que o mundo todo está caminhando para ser "alternativo". Revolucionar o sentido de uma palavra ajuda a promover uma revolução mais ampla dos conceitos, dos hábitos, dos valores.
O que vemos no mundo de hoje? É o tênis que substitui o sapato, é o seminudismo que já entrou e prepara o nudismo, é a neobarbárie que expulsa a civilização. Muitas das reformas que vão sendo introduzidas na Igreja dão-lhe cada vez mais o triste aspecto de uma "Igreja alternativa".
Quais os principais responsáveis por essa situação? Serão os maconheiros, os homossexuais, os vagabundos que se dizem "alternativos"? Não. Os piores fautores são os dirigentes da sociedade não-"alternativa", que têm toda forma de complacência com esse estado de coisas invasor.
Basta dizer que, na Dinamarca, Christiania não parece causar horror. Pelo contrário, atrai 50 mil turistas por ano!
| ASSESTANDO O FOCO |
Editorial
Mikhail Gorbachev afirmou que suas reformas eram, ao contrário do que muitos pensavam, um aprofundamento do socialismo. E reconheceu, em outra ocasião, que não sabia para onde elas conduziriam. Como consequência, foi ejetado do poder por essas mesmas reformas de resultados tão incertos.
Em posição idêntica, qualquer homem público procuraria analisar os erros eventualmente cometidos e, por considerável período de tempo, desapareceria do cenário mundial. Declarações? Parcimoniosas - só quando solicitadas - e as estritamente indispensáveis para esclarecer algo de interesse.
Pouco mais de quatro meses após sua renúncia à presidência da URSS - pelo simples fato de a mesma ter cessado de existir - reapareceu um Gorbachev lampeiro, fazendo uma tournée pelos EUA, como se nada tivesse acontecido.
O objetivo da viagem - alguns lances dela são comentados nas páginas da presente edição - consistiu ostensivamente em levantar recursos para a Fundação
Gorbachev, uma espécie de think tank (banco de ideias), que reúne ideólogos comunistas desejosos de moldar o futuro! Em momento algum Gorbachev reconheceu o fracasso do socialismo. Como escapatória, repisou que não mais faz sentido "continuar discutindo o que é melhor, capitalismo ou socialismo".-Ele que está, literalmente, de chapéu na mão a mendigar dólares dos que seriam seus arqui-inimigos capitalistas...
Era preciso termos chegado aos dias atuais, quando a lógica parece ter cessado de reger as mentes, para presenciarmos um fracassado expor ao público, com grande aparato, seu "novo pensamento político": - que parece ser a baleia de uma alternativa entre capitalismo e socialismo, a surradíssima terceira via!
Em tempos normais, a carreira política desse personagem estaria encerrada. Porém, como vivemos numa época excecional - a incongruência está na ordem do dia - não nos deve surpreender se ainda vier a confiar a um tal homem alguma nova missão importante no panorama internacional.
Página seguinte