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| A REALIDADE CONCISAMENTE |
Latim esquecido no Vaticano
São poucos, dentre os clérigos, aqueles que ainda conhecem e amam a bela língua de Cícero.
No último Sínodo dos Bispos, em Roma, João Paulo II queixou-se de que nenhum dos presentes estivesse falando em latim. Em tais ocasiões, o Vaticano vê-se na contingência de ir à caça de especialistas, vista a necessidade de tradução simultânea para os vários idiomas... Mesmo professores de Universidades pontifícias romanas onde, até há pouco, o uso do latim era obrigatório, inclusive entre os alunos –– vêm ensinando em língua vernácula.
Frei Reginaldo Foster, decano dos latinistas vaticanos, lamenta o fato ao comentar: "O latim é uma cultura". Pôs-se ele a campo, e passou a ministrar aulas para os interessados, após o horário de trabalho!
TFP: trilogia da modernidade
Consultor do extinto PC da URSS para assuntos ideológicos e hoje um dos diretores da "Fundação Gorbachev", o filósofo russo Alexander Tsipko declara-se, agora, "socialista cristão", eximindo-se, porém, de elucidar em que consiste a justaposição desses dois princípios intrinsecamente contraditórios.
Em entrevista à "Folha de S. Paulo", ele acentua que os conceitos de luta de classes e socialização dos meios de produção tornaram-se ultrapassados.
Suas palavras: "O mundo caminha para a direita. O liberalismo passou a conservadorismo. Prevalecem valores de uma sociedade corporativa: família, propriedade, Estado, casa, etc. Veja o caso da Inglaterra, um país democrático e com fortes resquícios do feudalismo. ‘A casa é minha fortaleza’, dizem os ingleses. A tradição é base para o sistema jurídico" [grifos nossos].
O depoimento –– partindo, ademais, de fonte tão insuspeita –– põe no devido realce a atualidade do lema Tradição, Família e Propriedade que, no Ocidente, constantemente se procura ocultar.
Caos, ou pós-comunismo
Suplemento especial contendo duzentas páginas e editado simultaneamente por grandes órgãos de Paris, Madri, Milão e Londres ("Le Monde", "El Pais", "La República" e "The Independent"), analisa o papel da EXPO-92 (Exposição Universal de Sevilha) no contexto do V Centenário dos Descobrimentos.
Segundo os autores, já chegamos ao ponto terminal do progresso: "Tudo foi descoberto [nestes quinhentos anos] até o limite da capacidade criadora do homem. [Os fatos] parecem coincidir com o fim de um ciclo... A ruína de todo o sistema soviético e a explosão dos nacionalismos do Leste [por exemplo] não farão parte desta última fuga estonteante da História, que dará ocasião a um novo caos mais desordenado, mas menos precipitado?"
Vaticínios desse porte sugerem haver quem deseje conduzir o mundo em direção ao caos. Analistas ou "profetas" do caos proliferam à nossa volta. Importa saber se é mera coincidência.
Jovens fogem da Pastoral
Décadas atrás, o pujante movimento das Congregações Marianas, e outros do gênero, faziam esperar um promissor futuro católico para o Brasil. Hoje, após as devastações e deserções provocadas pelo progressismo, o quadro é diferente.
Segundo o representante da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude, em São Paulo, a média de perseverança dos rapazes e moças entre 15 e 24 anos inscritos nos movimentos católicos é de um ano e meio. Em geral, entram por desfastio e logo saem.
Se aos jovens fosse ensinada a verdadeira doutrina católica, sobretudo no campo da moral, um ponderável número deles poderia aderir estavelmente. Como ocorria num passado não distante. Quando se ensina a verdade inteira, a graça de Deus toca as almas.
Se hoje organizações católicas não conseguem atrair os jovens, é porque elas vivem imersas numa crise que as desfigura por inteiro. As regras e práticas tradicionais foram abandonadas... e as novas redundaram num desastre!
Propagando o amor-livre
Os deputados socialistas franceses Jean Yves Autexier e Jean Pierre Michel pretendem estender a pessoas juntadas e não casadas os benefícios da Previdência Social, bem como os relativos a doações e sucessões. O projeto denominado "Contrato de União Civil" (CUC) , visa favorecer, "pelo menos, dois milhões de concubinos, sem contar os homossexuais" –– segundo declarou Autexier ao jornal parisiense "Libération".
Comenta o diário: "O CUC ignora o sexo, se o indivíduo é gay ou não; por exemplo, um irmão pode unir-se à irmã; e, ademais, o dever de fidelidade, a grande promessa do matrimônio, não entra em consideração".
Esta mal velada forma de estimular o concubinato, o homossexualismo, o incesto –– o amor livre em suma –– está contida no "Projeto 2000" do Partido Socialista Francês.
| EM TEMPO |
Hilariante? Ou trágico?
A abertura dos arquivos secretos da extinta KGB tornou pública e oficial a notícia: toda a alta hierarquia da chamada "igreja ortodoxa" russa pertencia aos quadros dessa sinistra agência de espionagem e assassínios, sem excluir o patriarca Alexis II. Ao revelar esse informe estarrecedor, um colunista social do Rio considera-o "hilariante". Por quê?
Em defesa dos fuzilamentos
Jorge Ferrera, do Departamento de Relações Internacionais do Comitê Central do PC cubano, em entrevista a um jornal paulista, procurou negar importância ao fuzilamento sumário de dois anticomunistas em Cuba, com esta "brilhante" argumentação: "O julgamento de dois assassinos [sic!] não chega a ser um caso tão importante que exija observadores internacionais".
Repugnante e odioso
"Le Nouvel Observateur", de Paris, consagra dez páginas de recente edição à abominável forma de "turismo sexual" praticado por europeus na Tailândia. Calcula-se que, desta forma, cerca de 500 pessoas sejam diariamente contaminadas pelo vírus da AIDS naquele país.
Nossa "medicina" cubana
Inspirado no modelo fidel-castrista, o Programa de Agentes Comunitários da Saúde Pública mostrou-se rotundo fiasco. Vinte mil agentes contratados para atuar no Norte e Nordeste nada conseguiram fazer no combate às endemias que assolam certos rincões do País. O novo Ministro, ao que parece, reformulará o desastroso plano.
Doença sem cura?
Em entrevista recente ao "Jornal do Brasil", o conhecido Cirurgião cardíaco, Eurycledes de Jesus Zerbini, assinala: "A pior doença do brasileiro é moral... Desde o Império nós estamos sofrendo uma decadência muito grande... Desde aquela época caminhamos para baixo... Não se faz nada sem comprar do Poder Público, com gorjetas e comissões, o encaminhamento de qualquer projeto".
Paradoxo republicano
"No Império, somente eram eleitores os que tivessem renda líquida anual de cem mil réis, por bens de raiz, indústria, comércio ou emprego. Hoje, todos podem votar. Mas o eleito é, quase sempre, aquele que gasta milhões na campanha". A curiosa comparação é de Evaristo de Moraes Filho, ao discursar como patrono dos bacharéis de Direito da Universidade Federal de Maceió ("Jornal do Brasil", 11-5-92). Realmente, o Império era mais coerente.
"Fome" de uísque?
O Secretário de Imprensa do Palácio do Planalto, Pedro Luís Rodrigues, frisou que a onda de saques no Rio constitui ação organizada. Sua conclusão é lógica: "Quem está com fome não rouba uma caixa registradora ou uísque. Isso tem outro nome, não é saque social. Os saques no Rio não têm uma característica de ação espontânea" ("O Globo", 9-5-92).
| DESTAQUE |
Incorrigíveis... desconsolados...
Não foram poucos os que, por ingenuidade ou superficialidade, julgaram que os acontecimentos dos últimos anos na Rússia e no Leste europeu iriam determinar uma retificação de rumos por parte da esquerda católica. O silêncio constrangido e contrafeito de tantos eclesiásticos diante do que se passava criam muitos –– fazia pairar certa expectativa a respeito. Deixando-se embalar por tais esperanças –– melhor seria dizer "miragens" ––, houve quem julgasse estar sendo preparado um mea culpa solene e coletivo de figuras do Episcopado nacional à vista do ocorrido.
Militaria em erro, contudo, quem se obstinasse em pensar assim.
Embora a realidade dos fatos tenha posto a nu a negra falência do sistema comunista, indissociável das mazelas a que deu origem, não há sinal de que mudanças em profundidade se tenham verificado entre Prelados notoriamente conhecidos como esquerdistas, relativamente ao terna.
À testa de todos, D. Casaldáliga, Bispo de São Félix do Araguaia, em entrevista ao "Jornal dos Trabalhadores Rurais sem Terra", reafirmou continuar "acreditando na Revolução [social]... e no socialismo que poderá parecer mais utópico, mas que é o ideal humano e o ideal cristão".
Bispos não arredam pé do socialismo
Durante o recente encontro dos Bispos brasileiros em Itaici, a questão foi discutida por alguns.
Contudo, longe de alterarem os rumos de sua pregação esquerdista, eles, na ocasião, condenaram os males... do capitalismo.
Assim, D. Waldir Calheiros, Bispo de Volta Redonda (RJ), não hesitou em propor uma perestroika no regime liberal.
Reconhecendo embora que o termo socialismo está profundamente "desgastado", a ponto de "não mais o usar", D. Moacyr Grecchi, Bispo de Rio Branco (AC) e ex-presidente da CPT, nem por isso deixou de pregar a "luta pela igualdade social e pela fraternidade". Ora, em que isto se distingue do socialo-comunismo?
D. Fragoso, Bispo de Crateús (CE), temendo distanciar-se por demais de suas "ovelhas", teve esta ressalva tática: "Não me declaro hoje um socialista, porque vão entender errado a expressão e me chamar de defasado".
Por sua vez, D. Marcelo Pinto Carvalheira, Bispo de Guarabira (PB) e presidente da Regional Nordeste 2 da CNBB, foi mais além. Sem meias palavras, chegou a lamentar o desmoronamento do comunismo, que, segundo afirma, produzia no mundo certo "equilíbrio ideológico". Conforme ele, "O comunismo impôs coisas que deveriam ser aceitas espontaneamente" [sic] ("O Globo", 10-5-92).
Aqui bem se aplica o conhecido ditado francês: "plus ça change, plus c'est la même chose" –– quanto mais isto muda, mais mostra ser a mesma coisa...
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