P.14-15 | CADERNO ESPECIAL | (continuação)

Batismo de Jesus

Então foi Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se-lhe, dizendo: Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim? E, respondendo Jesus, disse-lhe: Deixa por agora, pois convém que cumpramos assim toda a justiça. Ele então deixou-o (aproximar-se). E, depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água; e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como pomba, e vir sobre ele. E eis (que se ouviu) uma voz do céu, que dizia: Este é meu filho amado, no qual pus as minhas complacências.

Comentários do Padre Luís Cláudio Fillion

(Excertos) Um dia viu João Batista aproximar-se dele um homem de cerca de trinta anos, cuja fisionomia irradiava reflexos de uma majestade e santidade que vivamente o impressionaram. Era Jesus, que havia deixado seu retiro de Nazaré, tendo caminhado pelas margens do Jordão para receber o batismo do Precursor. À primeira vista, esta atitude parecia singularmente estranha. Que necessidade tinha o Salvador do mundo, Ele que era a própria pureza, de semelhante cerimônia que implicava pecado e penitência? Mas, precisamente, o Verbo havia se encarnado para carregar os pecados dos homens e expiá-los, adequava-se, pois, a seu encargo ou missão de Redentor tomar as aparências de pecador e penitente, no momento em que ia começar seu ministério, até que chegasse o tempo de ser nossa vítima sobre a Cruz. Quando João O viu adiantar-se para receber o batismo, resistiu a isto como pôde dizendo: "Eu é que devo ser batizado por Ti, e és Tu que vens a mim?" Ao que Jesus respondeu: "Deixa-me fazer agora; pois convém que cumpramos toda a justiça". João não mais protestou e batizou o Messias. Mas, como em outras circunstâncias humilhantes de sua vida, recebeu Jesus então de seu eterno Pai um testemunho brilhante. Apenas saiu das águas do rio, o Céu pareceu se abrir e viu-se o Espírito Santo descer sobre Ele em forma de pomba, enquanto uma voz vinda do Céu dizia: "Este é meu Filho amado, no qual pus a minha complacência". Houve pois, nesse momento, como que uma segunda Epifania* de Jesus, e, por assim dizer, sua ordenação, sua consagração como Messias Redentor. N. da R.: Epifania significa a manifestação de Nosso Senhor ao mundo inteiro, ocorrida por ocasião da adoração do Menino-Deus pelos Reis Magos. ("Nuestro Señor Jesucristo según los Evangelios", Ed. Difusión, Buenos Aires, 1917, pp. 95-96).

Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino na "Catena Aurea"

São Jerônimo –– O mistério da Santíssima Trindade se patenteia no batismo. Jesus Cristo [o Filho] é batizado, o Espírito Santo baixa em forma de pomba e ouve-se a voz do Padre dando testemunho do Filho. Santo Agostinho –– Não deve causar admiração que se patenteie o mistério da Santíssima Trindade no batismo de Nosso Senhor, posto que nosso batismo não é outra coisa senão a representação de tão augusto mistério. Quis Deus que primeiro se verificasse junto a Ele, o que depois haveria de ordenar a todo o gênero humano. O Pai ama o Filho; mas como um pai ama a um filho, não como um amo estima seu servo; como unigênito, não como filho adotado, e por isso acrescenta: no qual pus as minhas complacências.

Festa de Nossa Senhora do Monte Carmelo

(16 de julho) No século XII, como conseqüência do estabelecimento do Reino Latino de Jerusalém, muitos peregrinos da Europa vieram se juntar aos solitários da santa montanha do Carmelo, na Palestina, aumentando-lhes assim o número. Pareceu bom dar à sua vida, até então mais eremítica que conventual, uma forma que fosse mais de acordo com os hábitos ocidentais. Foi quando o Legado Aimeric Malafaida, Patriarca de Antioquia, os reuniu em uma comunidade sob a autoridade de São Bertoldo, a quem foi dado pela primeira vez o título de Prior Geral. Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém e igualmente Legado Apostólico, completou, nos primeiros anos do século seguinte, a obra de Aimeric, concedendo uma Regra fixa à Ordem, que começou a se expandir em Chipre, na Sicília e nos países de além-mar, favorecida pelos príncipes e pelos cavaleiros, de volta da Terra Santa. Logo depois, tendo Deus abandonado os cristãos do Oriente aos castigos merecidos por suas faltas, tornaram-se tais, nesse século de adversidades para a Palestina, as represálias dos sarracenos vitoriosos, que uma assembleia geral, realizada no Monte Carmelo, sob os auspícios de Alain le Breton, decretou a emigração total dos religiosos, não deixando para cuidar do berço da Ordem senão alguns poucos sedentos de martírio. No preciso momento em que ela se extinguia no Oriente (1245), Simão Stock foi eleito Geral, no primeiro Capítulo do Ocidente, reunido em Aylesford, na Inglaterra. Na noite do dia 15 para 16 de julho do ano de 1251, a graciosa Soberana do Carmelo confirmava a seus filhos, por um sinal externo, o direito de cidadania que Ela lhes havia obtido nas novas regiões para as quais os havia conduzido seu êxodo. Senhora e Mãe de toda a Ordem religiosa, Ela lhes conferia de suas próprias e augustas mãos o escapulário, parte do vestuário que caracteriza a maior e mais antiga das famílias religiosas do Ocidente. São Simão Stock, no momento em que recebia da Mãe de Deus essa insígnia, enobrecendo-a ainda pelo contato de seus dedos sagrados, ouviu a própria Virgem Santíssima dizer: "Todo aquele que morrer dentro deste hábito não sofrerá de maneira nenhuma as chamas eternas". A Rainha dos Santos manifestou-se posteriormente a Jacques d’Euze, que o mundo iria saudar em breve como novo Papa sob o nome de João XXII. Anunciava-lhe Ela sua próxima elevação ao sumo pontificado, e, ao mesmo tempo, recomendava-lhe publicar o privilégio de uma pronta libertação do purgatório, que Ela havia obtido de seu divino Filho para seus filhos do Carmelo: "Eu, sua Mãe, descerei por misericórdia até eles, no sábado que se seguir à sua morte, e a todos que encontrar no purgatório livrá-los-ei e levá-los-ei à montanha da eterna vida". São as próprias palavras de Nossa Senhora, citadas por João XXII na bula em que ele disto deu testemunho, e que foi chamada Sabatina em razão do dia designado pela gloriosa libertadora, no qual Ela exerceria o misericordioso privilégio. A munificência de Maria, a piedosa gratidão de seus filhos pela hospitalidade que lhes dava o Ocidente, a autoridade, enfim, dos sucessores de Pedro, tornaram logo essas riquezas espirituais acessíveis a todo o povo cristão, pela instituição da Confraria do Santo Escapulário, que faz seus membros participarem dos méritos e privilégios de toda a Ordem do Carmo. Quando o Papa Bento XIII, no século XVIII, estendeu a festa do dia 16 de julho para a Igreja inteira, ele, por assim dizer, nada mais fez do que consagrar oficialmente a universalidade do fato de que o culto da Rainha do Carmelo havia conquistado quase todas as latitudes do orbe. – D. Prosper Guéranger, L’Année Liturgique – Le temps après la Pentecôte, Maison Alfred Mame et Fils, Tours, 1922, tomo IV, excertos das pp. 149-153.
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