P.04-05 | REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO – EXCERTOS DA PARTE I E PARTE II |

Revolução e Contra-Revolução

Alguns excertos capitais da primeira e segunda partes da obra Revolução e Contra-Revolução, do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicada na íntegra em Catolicismo nº 100, de abril de 1959. As muitas crises que abalam o mundo hodierno –– do Estado, da família, da economia, da cultura etc. –– não constituem senão múltiplos aspectos de uma só crise fundamental, que tem como campo de ação o próprio homem (principalmente o homem ocidental e cristão). Tal crise apresenta cinco características fundamentais: universal, una, total, dominante e processiva.

Decadência da Idade Média

Já no século XIV se vislumbra, na Europa cristã, uma transformação de mentalidade. O apetite dos prazeres terrenos se vai transformando em ânsia. Há um paulatino deperecimento da seriedade e da austeridade dos antigos tempos.

Pseudo-Reforma e Renascença (séc. XVI)

O tipo humano inspirado nos moralistas pagãos, que o Humanismo e a Renascença introduziram como ideal na Europa católica, já era o genuíno precursor do homem sensual, laico e pragmático dos nossos dias. O orgulho e a sensualidade, em cuja satisfação está o prazer da vida pagã, suscitaram o protestantismo. O orgulho deu origem ao espírito de dúvida, ao livre exame, à insurreição contra a autoridade eclesiástica, em especial à revolta contra o Papado. A sensualidade triunfou com a supressão do celibato eclesiástico e a introdução do divórcio.

Revolução Francesa (séc. XVIII)

Profundamente afim com o protestantismo, herdeira dele e do neopaganismo renascentista, a Revolução Francesa realizou, não só no campo religioso como ainda no temporal, uma obra de todo em todo simétrica à da Pseudo-Reforma. Em matéria religiosa, proclamou o deísmo, deu guarida ao ateísmo, especiosamente rotulado de laicismo. E na esfera política, atirando-se contra o Rei e os nobres, implantou o tríplice dogma –– liberdade, igualdade, fraternidade –– segundo o qual toda desigualdade é uma injustiça, toda superioridade um perigo para os subordinados, e a liberdade o bem supremo.

Comunismo (séc. XX)

No ambiente doutrinário-psicológico criado pela Revolução Francesa, irromperam, no século XIX, o socialismo utópico e o comunismo dito científico de Marx. Em 1917, o segundo tomou o poder na Rússia. Assim, de uma explosão inicial de orgulho e sensualidade decorreram as três grandes revoluções da História do Ocidente: a primeira –– Pseudo-Reforma Protestante; a segunda –– Revolução Francesa; e a terceira –– Revolução Comunista. Constituem elas um processo único, em três etapas, que se chama simplesmente REVOLUÇÃO.

Revolução nas tendências, nas ideias, nos fatos

Podem-se distinguir na Revolução três profundidades. A Revolução nas tendências é a mais profunda. Postas em desordem, as tendências começam por modificar as mentalidades, os modos de ser e de viver, as expressões artísticas e culturais, sem tocar desde logo nas ideias. Dessas camadas profundas da mentalidade, a crise passa para o terreno ideológico, doutrinas novas eclodem. É a Revolução nas ideias. Esta, por sua vez, estende-se ao terreno dos fatos, onde passa a operar a transformação dos costumes, das leis e das instituições. Duas noções, concebidas como valores metafísicos, exprimem bem o espírito da Revolução: igualdade absoluta, liberdade completa. E duas são as paixões que mais a servem: o orgulho e a sensualidade.

A Contra-Revolução

Se a Revolução é a desordem, a Contra-Revolução é a restauração da Ordem. E por Ordem entendemos a paz de Cristo no reino de Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, anti-igualitária e antiliberal. É no vigor de alma que vem ao homem pelo fato de Deus governar nele a razão, a razão dominar a vontade, e esta dominar a sensibilidade, que é preciso procurar a serena, nobre e eficientíssima força propulsora da Contra-Revolução. Tal vigor de alma não pode sequer ser concebido sem se tomar em consideração o papel da graça divina. Quando os homens resolvem cooperar com a graça de Deus, são as maravilhas da História que assim se operam: é a conversão do Império Romano, é a conversão dos bárbaros e a formação da Idade Média, é a Reconquista da Espanha a partir de Covadonga, são todos esses acontecimentos que se dão como fruto das grandes ressurreições de alma de que todos os povos são suscetíveis. Ressurreições invencíveis, porque não há o que derrote um povo virtuoso e que verdadeiramente ame a Deus.

Legendas da página:

– Acima de nós, apenas Deus, eis o brado de revolta que parece evolar-se dos lábios destes corifeus do protestantismo: era a Primeira Revolução. Da esquerda para a direita, Lutero, Escolampádio, João Frederico (o Eleitor de Saxe), Zvinglio e Melanchton.
– Revolução Francesa foi a herdeira e a continuadora da Revolução Protestante. A revolta contra o Rei repetiu e requintou a revolta contra o Papa. A revolta contra os nobres foi a transposição, para o âmbito civil, da revolta contra a Hierarquia Eclesiástica. A esquerda: noite do 14 para o 15 de julho de 1789.
– Por sua vez, os fuzis comunistas impuseram as últimas consequências niveladoras da Revolução Protestante e da Revolução Francesa, consumando a terceira das grandes revoluções que derrubaram a Civilização Cristã no mundo inteiro. Página seguinte