P.08-09 | REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO – PARTE III | (continuação)

Capítulo II - Apogeu e crise da III Revolução

1. Apogeu da III Revolução

Como vimos, três grandes revoluções constituíram as etapas capitais do processo de demolição gradual da Igreja e da civilização cristã: no século XVI, o Humanismo, a Renascença e o protestantismo (I Revolução); no século XVIII, a Revolução Francesa (II Revolução); e na segunda década deste século, o Comunismo (III Revolução). Essas três revoluções só são compreensíveis como partes de um imenso todo, isto é, a Revolução. Sendo a Revolução um processo, obviamente, de 1917 para cá, a III Revolução continuou sua caminhada. Encontra-se ela, no momento, em um verdadeiro apogeu. Na mais ampla das escalas, isto é, na escala internacional, esse apogeu era notório. Di-lo o texto um pouco mais adiante. Com o recuo do tempo, o quadro geral desse apogeu pode ser pintado com traços ainda mais vastos, quer pela extensão e pela população das nações efetiva e plenamente sujeitas a regimes comunistas, quer pelas impressionantes dimensões da máquina vermelha de propaganda internacional e pela importância dos partidos comunistas dos países ocidentais, quer, por fim, pela penetração das tendências comunistas nos diversos domínios da cultura desses países. Tudo isso, acrescido pelo pânico mundial gerado pela ameaça atômica que a agressividade soviética, servida por um poder nuclear incontestável, fazia pairar sobre todos os continentes. Tão múltiplos fatores davam origem a uma política de moleza e de capitulação quase universais em relação a Moscou. As Ostpolitiks alemã e vaticana, o vento mundial de um pacifismo incondicionalmente desarmamentista, o pulular de slogans e de fórmulas políticas que preparavam tantas burguesias ainda não comunistas a aceitar o comunismo como fato a ser consumado em um futuro não distante: todos nós vivemos sob a compressão psicológica desse otimismo de esquerda, que era enigmático como uma esfinge para os centristas indolentes, e ameaçador como um Leviatã para quem, como as TFPs e os seguidores de Revolução e Contra-Revolução em tantos países, discernia bem o "apocalipse" a que tudo isso ia conduzindo. Quão poucos eram, então, os que percebiam estar esse Leviatã carregando em si uma crise in crescendo que ele não conseguia resolver, porque era o fruto inevitável das utopias marxistas! A crise veio crescendo e parece ter desintegrado o Leviatã. Mas, como adiante se verá, essa desintegração difundiu por sua vez, por todo o universo, um clima de crise ainda mais letal. Considerados os territórios e as populações sujeitos a regimes comunistas, dispõe a III Revolução de um império mundial sem precedentes na História. Este império é fator contínuo de insegurança e de desunião entre as maiores nações não-comunistas. De outro lado, estão nas mãos dos líderes da III Revolução os cordéis que movimentam, em todo o mundo não-comunista, os partidos declaradamente comunistas e a imensa rede de criptocomunistas, para-comunistas, inocentes-úteis, infiltrados não só nos partidos não declaradamente comunistas – socialistas e outros – como ainda nas igrejas,(*) nas organizações profissionais e culturais, nos bancos, na imprensa, na televisão, no rádio, no cinema, etc. (*) Falamos na infiltração do comunismo nas várias igrejas. É indispensável registrar que tal infiltração constitui um perigo supremo para o mundo, especificamente enquanto levada a cabo na Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Pois esta não é apenas uma espécie no gênero "igrejas". É a única Igreja viva e verdadeira do Deus vivo e verdadeiro, a única Esposa mística de Nosso Senhor Jesus Cristo, a qual não está para as outras igrejas como um brilhante maior e mais rútilo em relação a brilhantes menores e menos rútilos. Mas como o único brilhante verdadeiro em relação a "congêneres" feitos de vidro... E, como se tudo isto não bastasse, a III Revolução maneja com terrível eficácia as táticas de conquista psicológica de que adiante falaremos. Por meio destas, o comunismo vem conseguindo reduzir a um torpor displicente e abobado imensas parcelas não-comunistas da opinião pública ocidental. Tais táticas permitem à III Revolução esperar, neste terreno, sucessos ainda mais marcantes, e desconcertantes para os observadores que analisam os fatos de fora dela. A inércia, quando não a ostensiva e substanciosa colaboração de tantos governos "democráticos" e sorrateiras forças econômicas particulares do Ocidente, com o comunismo assim poderoso, compõe um terrível quadro de conjunto diante do qual vive o mundo de hoje. Nestas condições, se o curso do processo revolucionário continuar como até aqui, é humanamente inevitável que o triunfo geral da III Revolução acabe se impondo ao mundo inteiro. – Dentro de quanto tempo? Muitos se assustarão caso, a título de mera hipótese, sugiramos mais vinte anos. Parecer-lhes-á surpreendentemente exíguo o prazo. Na realidade, quem poderá garantir que esse desenlace não sobrevenha dentro de dez ou cinco anos, ou antes ainda? A proximidade, a eventual iminência desta grande hecatombe é sem dúvida uma das notas que, comparados os horizontes de 1959 com os de 1976, indicam maior transformação na conjuntura mundial.

A. Na rota do apogeu, a III Revolução evitou com cuidado as aventuras totais e inúteis

Se bem que esteja nas mãos dos mentores da III Revolução lançar-se, de um momento para outro, numa aventura para a conquista completa do mundo por uma série de guerras, de cartadas políticas, de crises econômicas e de revoluções sangrentas, é bem de ver que tal aventura apresenta consideráveis riscos. Os mentores da III Revolução só aceitarão de os correr caso isto lhes pareça indispensável. Com efeito, se o emprego contínuo dos métodos clássicos levou o comunismo ao atual fastígio de poder sem expor o processo revolucionário senão a riscos cuidadosamente circunscritos e calculados, é explicável que os guias da Revolução mundial esperem alcançar a cabal dominação do mundo sem sujeitar sua obra ao risco de catástrofes irremediáveis, inerente a toda grande aventura.

B. Aventura, nas próximas etapas da III Revolução?

Ora, o sucesso dos costumeiros métodos da III Revolução está comprometido pelo surgimento de circunstâncias psicológicas desfavoráveis, as quais se acentuaram fortemente ao longo dos últimos vinte anos. –– Tais circunstâncias forçarão o comunismo a optar, daqui por diante, pela aventura? No ocaso do ano de 1989, aos supremos dirigentes do comunismo internacional, pareceu afinal chegado o momento de lançar uma imensa cartada política, a maior da história do comunismo. Esta consistiria em derrubar a cortina de ferro e o Muro de Berlim, o que, produzindo seus efeitos de forma simultânea à execução dos programas "liberalizantes" da glasnost (1985) e da perestroika (1986), precipitaria o aparente desmantelamento da III Revolução no mundo soviético. (*) (*) Sob o título Comunismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio, foi lançada, a partir de fevereiro de 1990, firme interpelação do Autor aos líderes comunistas russos e ocidentais, a propósito da perestroika. Publicada em 21 jornais de oito países, alcançou grande repercussão, especialmente na Itália (Cfr. Catolicismo de março/90).) Por sua vez, tal desmantelamento atrairia para seu supremo promotor e executor, Mikhail Gorbachev, a simpatia enfática e a confiança sem reservas das potências econômicas estatais e de muitos dos poderes econômicos privados do Primeiro Mundo. A partir disto, o Kremlin poderia esperar um fluxo assombroso de recursos financeiros a favor de suas vazias arcas. Essas esperanças foram muito amplamente confirmadas pelos fatos, proporcionando a Gorbachev e à sua equipe a possibilidade de continuar flutuando, com o timão na mão, sobre o mar de miséria, de indolência e de inação, em face do qual a infeliz

Legendas da página:

– A agressividade da ex-URSS era servida por um poder atômico incontestável, do qual o submarino nuclear Typhoon (abaixo, no porto de Murmank) é um exemplo bem característico.
– O vento mundial de um pacifismo incondicionalmente desarmamentista, como o que se comprova nesta manifestação realizada nos Países Baixos, é um sintoma frisante do otimismo irracional de certa esquerda muito prestigiada pela mídia. Página seguinte