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| REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO – PARTE III | (continuação)
população russa, sujeita até há pouco ao capitalismo de Estado integral, vai se havendo, até o momento, com uma passividade desconcertante. Passividade esta propícia à generalização do marasmo, do caos, e quiçá à formação de uma crise conflitual interna suscetível, por sua vez, de degenerar em uma guerra civil... ou mundial.
Foi neste quadro que irromperam os sensacionais e brumosos acontecimentos de agosto de 1991, protagonizados por Gorbachev, Yeltsin e outros coautores dessa jogada, que abriram caminho à transformação da URSS numa frouxa confederação de Estados e depois ao seu desmantelamento.
Fala-se da eventual queda do regime de Fidel Castro em Cuba e da possível invasão da Europa Ocidental por hordas de famintos vindos do Leste e do Magreb. As diversas tentativas de incursão de desvalidos albaneses na Itália teriam sido como que um primeiro ensaio desta nova "invasão de bárbaros" na Europa.
Não falta quem, na Península Ibérica como em outros países da Europa, veja estas hipóteses em um comum panorama com a ação de presença de multidões de maometanos, despreocupadamente admitidos em anos anteriores em vários pontos desse continente, e com os projetos de construção de uma ponte sobre o Estreito de Gibraltar, ligando o Norte da África ao território espanhol, o que favoreceria por sua vez mais outras invasões muçulmanas na Europa.
Curiosa semelhança de efeitos da derrubada da cortina de ferro e da construção dessa tal ponte: ambas abririam o continente europeu para invasões análogas às que Carlos Magno repeliu vitoriosamente, isto é, as de hordas bárbaras ou semibárbaras vindas do Leste e hordas maometanas provenientes de regiões ao Sul do continente europeu.
Dir-se-ia quase que o quadro pré-medieval se recompõe. Mas algo falta: é o ardor de fé primaveril nas populações católicas chamadas a fazer frente simultaneamente a estes dois impactos. Mas, sobretudo, falta alguém: onde encontrar hoje em dia um homem com o estofo de Carlos Magno?
Se imaginarmos o desenvolvimento das hipóteses acima enunciadas, cujo principal cenário seria o Ocidente, sem dúvida nos assombrarão a magnitude e a dramaticidade das consequências que as mesmas trariam consigo.
Entretanto, esta visão de conjunto nem de longe abarca a totalidade dos efeitos que vozes autorizadas, procedentes de círculos intelectuais sensivelmente opostos entre si e de imparciais órgãos de comunicação, nos anunciam nestes dias.
Por exemplo, a crescente oposição entre países consumidores e países pobres. Ou, em outros termos, entre nações ricas industrializadas e outras que são meras produtoras de matérias-primas.
Nasceria daí um entrechoque de proporções mundiais entre ideologias diversas, agrupadas, de um lado em torno do enriquecimento indefinido, e de outro do subconsumo miserabilista. À vista desse eventual entrechoque, é impossível não recordar a luta de classes preconizada por Marx. E daí surge naturalmente uma pergunta: será essa luta uma projeção, em termos mundiais, de um embate análogo ao que Marx concebeu sobretudo como um fenômeno socioeconômico dentro das nações, conflito este no qual participaria cada uma destas com características próprias?
Nessa hipótese, a luta entre o Primeiro Mundo e o Terceiro passará a servir de camuflagem mediante a qual o marxismo, envergonhado de seu catastrófico fracasso socioeconômico e metamorfoseado, trataria de obter, com renovadas possibilidades de êxito, a vitória final? Vitória essa que, até o momento, escapou das mãos de Gorbachev, o qual, embora certamente não seja o doutor, é pelo menos uma mescla de bardo e de prestidigitador da perestroika...
Da perestroika, sim, da qual não é possível duvidar que seja um requinte do comunismo, pois o confessa seu próprio autor no ensaio propagandístico "Perestroika – Novas ideias para o meu país e o mundo" (Ed. Best Seller, São Paulo, 1987, p. 35.): "A finalidade desta reforma é garantir .... a transição de um sistema de direção excessivamente centralizado e dependente de ordens superiores para um sistema democrático baseado na combinação de centralismo democrático e autogestão". Autogestão esta que, de mais a mais, era "o objetivo supremo do Estado soviético", segundo estabelecia a própria Constituição da ex-URSS em seu Preâmbulo.
2. Obstáculos inesperados para a aplicação dos métodos clássicos da III Revolução
A. Declínio do poder persuasivo
Examinemos antes de tudo essas circunstâncias.
A primeira delas é o declínio do poder persuasório do proselitismo comunista.
Tempo houve em que a doutrinação explícita e categórica foi, para o comunismo internacional, o principal meio de recrutamento de adeptos.
Em largos setores da opinião pública e em quase todo o Ocidente, por motivos que seria longo enumerar, as condições se tornaram hoje, em muito ponderável medida, infensas a tal doutrinação. Decresceu visivelmente o poder persuasivo da dialética e da propaganda comunista doutrinária integral e ostensiva.
Assim se explica que, em nossos dias, a propaganda comunista procure cada vez mais fazer-se de modo camuflado, suave e lento. Tal camuflagem se faz ora difundindo os princípios marxistas, esparsos e velados, na literatura socialista, ora insinuando na própria cultura que chamaríamos "centrista" princípios que, à maneira de germens, se multiplicam levando os centristas à inadvertida e gradual aceitação de toda a doutrina comunista.
B. Declínio do poder de liderança revolucionária
À diminuição do poder persuasivo direto do credo vermelho sobre as multidões, que o recurso a esses meios oblíquos, lentos e trabalhosos denota, junta-se um correlato declínio no poder de liderança revolucionária do comunismo.
Examinemos como se manifestam esses fenômenos correlatos e quais os frutos deles.
- Ódio, luta de classes, Revolução
Essencialmente, o movimento comunista é e se considera uma revolução nascida do ódio de classes. A violência é o método
Legendas da página:
– Busto (1370) de Carlos Magno - Câmara do Tesouro, Catedral de Aix-la-Chapelle (Alemanha).
O grande Imperador opôs-se vitoriosamente, no século IX, a duas ameaças contra o império católico. os bárbaros, a Leste, e os muçulmanos, ao Sul.
– Moscou, 6 de novembro de 1990. Na própria comemoração da revolução bolchevista, cartaz anti-leninista na ex-URSS: sintoma do desprestígio do credo comunista no então público soviético.
– Usando um cabo de aço, os romenos removem a estátua de Lenin em Bucareste.
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