P.12-13 | REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO – PARTE III | (continuação) mais coerente com ela. É o método direto e fulminante, do qual os mentores do comunismo esperavam, com o mínimo de riscos de fracasso, o máximo de resultados, no mínimo de tempo. O pressuposto deste método é a capacidade de liderança dos vários PCs, pela qual lhes era dado criar descontentamentos, transformar estes descontentamentos em ódios, articular estes ódios numa imensa conjuração, e levar assim a cabo, com a força "atômica" do ímpeto desses ódios, a demolição da ordem atual e a implantação do comunismo.

- Declínio da liderança do ódio, e do uso da violência

Ora, também esta liderança do ódio vai escapando das mãos dos comunistas. Não nos alongamos aqui na explicação das complexas causas do fato. Limitamo-nos a notar que, no transcurso destes vinte anos, a violência foi dando aos comunistas vantagens cada vez menores. Para prová-lo, basta lembrar o malogro invariável das guerrilhas e do terrorismo disseminados por Cuba em toda a América Latina. É bem verdade que, na África, a violência vem arrastando quase todo o continente em direção ao comunismo. Mas esse fato muito pouco diz a respeito das tendências da opinião pública no resto do mundo. Pois o primitivismo da maior parte das populações aborígines daquele continente as coloca em condições peculiares e inconfundíveis. E a violência ali não tem obtido adeptos por motivações principalmente ideológicas, mas também por ressentimentos anticolonialistas, dos quais a propaganda comunista soube valer-se com sua costumeira astúcia.

- Fruto e prova desse declínio: a III Revolução se metamorfoseia em revolução risonha

A prova mais clara de que a III Revolução vem perdendo nos últimos vinte ou trinta anos sua capacidade de criar e liderar o ódio revolucionário é a metamorfose que ela se impôs. Quando do degelo pós-stalianiano com o Ocidente, a III Revolução afivelou uma sorridente máscara, de polêmica se tornou dialogante, simulou estar mudando de mentalidade e de atitude, e se abriu para toda espécie de colaborações com os adversários que antes tentava esmagar pela violência. Na esfera internacional, a Revolução passou assim, sucessivamente, da guerra fria para a coexistência pacífica, depois para a "queda das barreiras ideológicas", e por fim para a franca colaboração com as potências capitalistas, rotulada, no linguajar publicitário, de Ostpolitik ou de détente. Na esfera interna dos vários países do Ocidente, a "politique de la main tendue", que fora, na era de Stalin, um mero artifício para embair pequenas minorias católicas esquerdistas, transformou-se numa verdadeira détente entre comunistas e pró-capitalistas, meio ideal usado pelos vermelhos para entabular relações cordiais e aproximações dolosas com todos os seus adversários, quer pertençam estes à esfera espiritual, quer à temporal. Veio daí uma série de táticas "amistosas", como a dos companheiros de viagem, a do eurocomunismo legalista, afável e prevenido em relação a Moscou, a do compromisso histórico etc. Como já dissemos, todos estes estratagemas apresentam, hoje em dia, vantagens para a III Revolução. Mas estas são lentas, graduais, e subordinadas, em sua frutificação, a mil fatores variáveis. No auge de seu poder, a III Revolução deixou de ameaçar e agredir, e passou a sorrir e pedir. Ela deixou de avançar em cadência militar e usando botas de cossaco, para progredir lentamente, com passo discreto. Ela abandonou o caminho reto – sempre o mais curto – e escolheu um ziguezague no decurso do qual não faltam incertezas. – Que imensa transformação em vinte anos!

C. Objeção: os sucessos comunistas na Itália e na França

Mas –– dirá alguém –– os sucessos alcançados pelo comunismo por meio da

Legenda da página 13

A brutalidade comunista chocou o Ocidente. Por isso, os principais líderes vermelhos fizeram manobras para tentar recuperar a simpatia perdida. Lenin (esquerda) lançou a NEP ("Nova Política Econômica"), com concessões ao sistema econômico pré-revolucionário. Stalin (centro) dissolveu a III Internacional, suscitando ingênuo entusiasmo em todo o mundo livre. Kruschev (direita) promoveu o chamado "degelo", arrancando ainda maiores aplausos. Mas essas manobras não foram suficientes para desarmar psicologicamente o Ocidente. Foi assim que Gorbachev sentiu a necessidade de ir bem mais além, e lançou a imensa cartada política da perestroika: a maior jogada psicológica da história do comunismo, que vem precipitando a este num complicado processo de metamorfose.

Legendas das páginas:

– As conversações Reagan-Gorbachev e os acordos delas resultantes constituem exemplos frisantes di's táticas "amistosas" e desprevenidas empreendidas por líderes ocidentais em relação ao comunismo.
– No transcurso destes vinte anos, a violência foi dando aos comunistas vantagens cada vez menores. Para prová-lo, basta lembrar o malogro invariável das guerrilhas e do terrorismo disseminados pela América Latina. Página seguinte