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Texto ainda indisponível.

| REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO – PARTE III | (continuação) aludida tática, quer na Itália, quer na França, não permitem afirmar que o mesmo esteja em retrocesso no mundo livre. Ou que, pelo menos, seu progresso seja mais lento do que o do carrancudo comunismo das eras de Lenine e de Stalin. Antes de tudo, a tal objeção deve-se responder que as recentes eleições gerais na Suécia, Alemanha Ocidental e Finlândia, bem como as eleições regionais e a atual instabilidade do gabinete trabalhista na Inglaterra, falam bem da inapetência das grandes massas em relação aos "paraísos" socialistas, à violência comunista, etc.(*) (*) Essa tão vasta saturação anti-socialista na Europa Ocidental, se bem que seja fundamentalmente um revigoramento do centro e não da direita, tem um alcance indiscutível na luta entre a Revolução e a Contra-Revolução. Pois na medida em que o socialismo europeu sinta que vai perdendo as suas bases, seus chefes terão de ostentar distanciamento e até desconfiança em relação ao comunismo. Por sua vez, as correntes centristas, para não se confundirem, perante os seus próprios eleitorados, com os socialistas, terão que manifestar uma posição anticomunista ainda mais acentuada que a destes últimos. E as alas direitas dos partidos centristas terão de se declarar até militantemente anti-socialistas.
Em outros termos, passar-se-á com as correntes esquerdistas e centristas favoráveis à colaboração com o comunismo o mesmo que ocorre com um trem quando a locomotiva é freada de modo brusco. O vagão imediatamente seguinte a esta recebe o choque e é projetado em direção oposta ao rumo que vinha seguindo. E, por sua vez, esse primeiro vagão comunica o choque, com análogo efeito, ao segundo vagão. E assim por diante até o fim do comboio.
– A presente acentuação da alergia anti-socialista será apenas a primeira manifestação de um fenômeno profundo, chamado a depauperar duravelmente o processo revolucionário? Ou será um simples espasmo ambíguo e passageiro do bom senso, dentro do caos contemporâneo? – É o que os fatos até aqui ocorridos não nos permitem ainda dizer.
Há expressivos sintomas de que o exemplo desses países já começou a repercutir naquelas duas grandes nações católicas e latinas da Europa Ocidental, prejudicando assim os progressos comunistas. Mas, a nosso ver, é preciso sobretudo pôr em dúvida a autenticidade comunista das crescentes votações obtidas pelo PC italiano ou pelo PS francês (e falamos do PS, já que o PC francês se acha estagnado). Quer um quer outro partido (PSF e PCI) está longe de se ter beneficiado apenas do voto de seu próprio eleitorado. Apoios católicos certamente consideráveis – e cuja amplitude real só a História revelará um dia em toda a extensão – têm criado, em torno do PC italiano, ilusões, fraquezas, atonias e cumplicidades inteiramente excepcionais. A projeção eleitoral dessas circunstâncias espantosas e artificiais explica, em larga medida, o crescimento do número de votantes pró-PC, muitos dos quais não são de nenhum modo eleitores comunistas. E cumpre não esquecer, na mesma ordem de fatos, a influência na votação, direta ou indireta, de certos Cresos, cuja atitude francamente colaboracionista em relação ao comunismo dá ocasião a manobras eleitorais das quais a III Revolução tira óbvio proveito. Análogas observações podem ser feitas em relação ao PS francês.

3. O ódio e a violência, metamorfoseados, geram a guerra psicológica revolucionária total

Para melhor apreendermos o alcance dessas imensas transformações ocorridas no quadro da III Revolução nos últimos vinte anos, será necessário analisarmos em seu conjunto a grande esperança atual do comunismo, que é a guerra revolucionária psicológica. Embora nascido necessariamente do ódio, e voltado por sua própria lógica interna para o uso da violência exercida por meio de guerras, revoluções e atentados, o comunismo internacional se viu compelido por grandes modificações em profundidade da opinião pública, a dissimular seu rancor, bem como a fingir ter desistido das guerras e das revoluções. Já o dissemos. Ora, se tais desistências fossem sinceras, de tal maneira ele se desmentiria a si próprio, que se autodemoliria. Longe disto, usa ele o sorriso tão-somente como arma de agressão e de guerra, e não extingue a violência, mas a transfere do campo de operação do físico e palpável, para o das atuações psicológicas impalpáveis. Seu objetivo: alcançar, no interior das almas, por etapas e invisivelmente, a vitória que certas circunstâncias lhe estavam impedindo conquistar de modo drástico e visível, segundo os métodos clássicos. Bem entendido, não se trata aqui de efetuar, no campo do espírito, algumas operações esparsas e esporádicas. Trata-se, pelo contrário, de uma verdadeira guerra de conquista – psicológica, sim, mas total –– visando o homem todo, e todos os homens em todos os países. Como uma modalidade de guerra psicológica revolucionária, a partir da rebelião estudantil da Sorbonne, em maio de 1968, numerosos autores socialistas e marxistas em geral passaram a reconhecer a necessidade de uma forma de revolução prévia às transformações políticas e socioeconômicas, que operasse na vida cotidiana, nos costumes, nas mentalidades, nos modos de ser, de sentir e de viver. É a chamada "revolução cultural". Consideram eles que esta revolução, preponderantemente psicológica e tendencial, é uma etapa indispensável para se chegar à mudança de mentalidade que tornaria possível a implantação da utopia igualitária, pois, sem tal preparação, a transformação revolucionária e as consequentes "mudanças de estrutura" tornar-se-iam efêmeras. O referido conceito de "revolução cultural" abarca, com impressionante analogia, o mesmo campo já designado por Revolução e Contra-Revolução, em 1959, como próprio da Revolução nas tendências. Insistimos neste conceito de guerra revolucionária psicológica total. Com efeito, a guerra psicológica visa a psique toda do homem, isto é, "trabalha-o" nas várias potências de sua alma, e em todas as fibras de sua mentalidade. Ela visa todos os homens, isto é, tanto partidários ou simpatizantes da III Revolução, quanto neutros ou até adversários. Ela lança mão de todos os meios, a cada passo é-lhe necessário dispor de um fator específico para levar insensivelmente cada grupo social e até cada homem a se aproximar do comunismo, por pouco que seja. E isto em qualquer terreno: nas convicções religiosas, políticas, sociais e econômicas, nas impostações culturais, nas preferências artísticas, nos modos de ser e de agir em família, na profissão, na sociedade.

A. As duas grandes metas da guerra psicológica revolucionária

Dadas as atuais dificuldades do recrutamento ideológico da III Revolução, o mais útil de suas atividades se exerce, não sobre os amigos e simpatizantes, mas sobre os neutros e os adversários: a) iludir e adormecer paulatinamente os neutros; b) dividir a cada passo, desarticular, isolar, aterrorizar, difamar, perseguir e bloquear os adversários; –– essas são, a nosso ver, as duas grandes metas da guerra psicológica revolucionária.

Legendas desta página:

– O comunismo internacional se viu compelido por grandes modificações de profundidade na opinião pública, a dissimular seu rancor, bem como a fingir ter desistido das guerras e das revoluções.
– A partir da rebelião estudantil da Sorbonne, em maio de 1968, numerosos autores socialistas passaram a reconhecer a necessidade, para a implantação da utopia igualitária, de uma forma de revolução tendencial, prévia às transformações políticas e socioeconômicas. Página seguinte