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| REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO – PARTE III | (continuação)
A História narra os inúmeros dramas que a Igreja vem sofrendo nos vinte séculos de sua existência. Oposições que germinaram fora dela, e de fora mesmo tentaram destruí-la. Tumores formados dentro dela, por ela cortados, e que já então de fora para dentro tentaram destruí-la com ferocidade.
–– Quando, porém, viu a História, antes de nossos dias, uma tentativa de demolição da Igreja, já não mais feita por um adversário, mas qualificada de "autodemolição" em altíssimo pronunciamento de repercussão mundial?(10)
Daí resultou para a Igreja e para o que ainda resta de civilização cristã, uma imensa derrocada. A Ostpolitik vaticana, por exemplo, e a infiltração gigantesca do comunismo nos meios católicos, são efeitos de todas estas calamidades. E constituem outros tantos êxitos da ofensiva psicológica da III Revolução contra a Igreja.
Hoje em dia, lendo estas linhas sobre a Ostpolitik, alguém poderia perguntar, ante a enorme transformação que houve na Rússia, se esta não resulta de uma jogada "genial" da Hierarquia eclesiástica. O Vaticano, baseado em informações do melhor quilate, teria previsto que o comunismo, corroído por crises internas, começaria por sua vez a autodemolir-se. E, para estimular o quartel-general mundial do ateísmo materialista a praticar essa autodemolição, a Igreja Católica, situada no outro extremo do panorama ideológico, teria simulado sua própria autodemolição. Com isto teria atenuado muito sensivelmente a perseguição que então sofria da parte do comunismo: entre moribundos certas conivências seriam concebíveis. A flexibilização da Igreja teria, pois, criado condições para a flexibilização do mundo comunista.
Caberia responder que, se a Sagrada Hierarquia tinha noção de que o comunismo estava em condições tais de indigência e de ruína que seria obrigado a se autodemolir, ela deveria denunciar essa situação e convocar todos os povos do Ocidente a preparar as vias do que seria o saneamento da Rússia e do mundo, quando o comunismo caísse efetivamente, e não deveria calar sobre o fato, deixando que o fenômeno se produzisse à margem da influência católica e da cooperação generosa e solícita dos governos ocidentais. Pois só fazendo tal denúncia seria possível evitar que o desmoronamento soviético chegasse à situação na qual se encontra hoje, isto é, um beco sem saída, onde tudo é miséria e imbroglio.
De qualquer forma, é falso que a autodemolição da Igreja tenha apressado a autodemolição do comunismo, a menos que se suponha a existência de um tratado oculto entre ambos nesse sentido – uma espécie de pacto suicida --, tratado esse, para dizer pouco, carente de legitimidade e utilidade para o mundo católico. Isto para não mencionar tudo quanto essa mera hipótese contém de ofensivo aos Papas em cujos pontificados esta dupla eutanásia se teria verificado.
B. A Igreja, moderno centro de embate entre a Revolução e a Contra-Revolução
Em 1959, quando escrevemos Revolução e Contra-Revolução, a Igreja era tida como a grande força espiritual contra a expansão mundial da seita comunista. Em 1976, incontáveis eclesiásticos, inclusive Bispos, figuram como cúmplices por omissão, colaboradores e até propulsores da III Revolução. O progressismo, instalado por quase toda parte, vai convertendo em lenha facilmente incendiável pelo comunismo a floresta outrora verdejante da Igreja Católica.
Em uma palavra, o alcance desta transformação é tal que não hesitamos em afirmar que o centro, o ponto mais sensível e mais verdadeiramente decisivo da luta entre a Revolução e a Contra-Revolução, se deslocou da sociedade temporal para a espiritual, e passou a ser a Santa Igreja, na qual, de um lado, progressistas, criptocomunistas e pró-comunistas, e de outro lado, antiprogressistas e anticomunistas se confrontam.(*)
(*) Desde os anos 30, com o grupo que mais tarde fundou a TFP brasileira, empregamos o melhor de nosso tempo e de nossas possibilidades de ação e de luta, nas batalhas precursoras do grande prélio interior da Igreja. O primeiro lance de envergadura nessa luta foi a publicação do livro Em Defesa da Ação Católica (Editora Ave Maria, São Paulo, 1943), que denunciava o ressurgimento dos erros modernistas incubados na Ação Católica do Brasil. Cabe mencionar também nosso posterior >>>
Legendas desta página:
– No dia 19 de agosto de 1989, pela primeira vez abre-se uma brecha na Cortina de Ferro, entre a Hungria e a Alemanha.
600 pessoas precipitam-se por ela (foto abaixo), escapando da tirania vermelha. Era o prelúdio do êxodo maciço que culminou com a queda do Muro de Berlim.
Hoje, fala-se da possível invasão da Europa Ocidental por hordas de famintos vindos do Leste e do Magreb maometano.
As diversas tentativas de incursão de desvalidos albaneses na Itália (a direita) teria sido como que um primeiro ensaio desta nova "invasão de bárbaros" no Velho Continente.
Um entrechoque entre o Primeiro Mundo e o Terceiro poderá servir de camuflagem mediante a qual o comunismo, metamorfoseado, daria sequência à luta de classes preconizada por Marx.
– O progressismo, instalado por quase toda parte, vai convertendo em lenha facilmente incendiável pelo comunismo a floresta outrora verdejante da Igreja Católica.
D. Pedro Casaldáliga, Bispo-Prelado de São Félix do Araguaia, recebe do advogado Idibal Pivela o uniforme de guerrilheiro sandinista trazido da Nicarágua.
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