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| REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO – PARTE III | (continuação)
ela, com o desempenho instintivo e quase mecânico de algumas atividades absolutamente indispensáveis à vida.
A aversão ao esforço intelectual, notadamente à abstração, à teorização, ao pensamento doutrinário, só pode induzir, em última análise, a uma hipertrofia dos sentidos e da imaginação, a essa "civilização da imagem" para a qual Paulo VI julgou dever advertir a humanidade.(*)
(*) "Nós sabemos bem que o homem moderno, saturado de discursos, se demonstra muitas vezes cansado de ouvir e, pior ainda, como que imunizado contra a palavra. Conhecemos também as opiniões de numerosos psicólogos e sociólogos, que afirmam ter o homem moderno ultrapassado já a civilização da palavra, que se tornou praticamente ineficaz e inútil; e estar a viver, hoje em dia, na civilização da imagem" (cfr. Exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, 8/12/1975, Documentos Pontifícios, nº 188, Vozes, Petrópolis, 1984, 6ª ed., p. 30).
São sintomáticos também os idílicos elogios, sempre mais frequentes, a um tipo de "revolução cultural" geradora de uma futura sociedade pós-industrial, ainda incompletamente esboçada, e da qual o comunismo chinês seria – conforme por vezes é apresentado – um primeiro espécimen.
C. Despretensioso contributo
Bem sabemos quanto são passíveis de objeções, em muitos de seus aspectos, os quadros panorâmicos, por sua natureza vastos e sumários como este.
Necessariamente abreviado pelas delimitações de espaço do presente capítulo, este quadro oferece seu despretensioso contributo para as elucubrações dos espíritos dotados daquela ousada e peculiar finura de observação e de análise que, em todas as épocas, proporciona a alguns homens prever o dia de amanhã.
D. A oposição dos banais
Os outros farão, a esse propósito, o que em todas as épocas fizeram os espíritos banais e sem ousadia. Sorrirão e tacharão de impossíveis tais transformações, porque são de molde a alterar seus hábitos mentais. Porque elas aberram do bom senso, e aos homens banais o bom senso parece a única via normal do acontecer histórico. Sorrirão incrédulos e otimistas ante essas perspectivas, como Leão X sorriu a propósito da trivial "querela de frades", que foi só o que conseguiu discernir na I Revolução nascente. Ou como o feneloniano Luís XVI sorriu ante as primeiras efervescências da II Revolução, as quais se lhe apresentavam em esplêndidos salões palacianos, embaladas por vezes ao som argênteo do cravo. Ou então luzindo discretamente nos ambientes e nas cenas bucólicas à maneira do "Hameau" de sua esposa. Como sorriem, ainda hoje, otimistas, céticos, ante os manejos do risonho comunismo pós-staliniano, ou as convulsões que prenunciam a IV Revolução, muitos representantes altos, e até dos mais altos, da Igreja e da sociedade temporal no Ocidente.
Se algum dia a III ou a IV Revolução tomarem conta da vida temporal da humanidade, acolitadas na esfera espiritual pelo >>>
Legenda desta página:
– Já em 1977 previa o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira "a derrocada da ditadura do proletariado em consequência de uma nova crise, por força da qual o Estado hipertrofiado será vítima de sua hipertrofia" (v. pag. 24). Isto aconteceu ao pé da letra. O insigne filho da Santa Igreja previu também a instauração de "um estado de coisas cientificista e cooperativista, no qual - dizem os comunistas - o homem terá alcançado um grau de liberdade, igualdade e fraternidade até aqui insuspeitável".
A sociedade tribal representaria uma síntese do auge da liberdade com o auge do coletivismo. Para esta meta aponta a "revolução cultural" presentemente em curso em todo o mundo. A ECO-92, realizada no Rio de Janeiro e prestigiada por mais de cem chefes de estado, entre os quais o presidente Bush, tornou patente a sanha tribalista que se vale da preservação do meio-ambiente para conquistar posições.
– A aversão ao esforço intelectual, tão comum em crianças e jovens hipnotizados pelo vídeo da TV, só pode conduzir, em fim de linha, à hipertrofia dos sentidos e da imaginação, com sério prejuízo para a razão.
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