P.28-29 | REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO – PARTE III | (continuação) progressismo ecumênico, devê-lo-ão mais à incúria e colaboração destes risonhos e otimistas profetas do "bom senso", do que a toda a sanha das hostes e dos serviços de propaganda revolucionários. Profetas estes de um estranho gênero, pois suas profecias consistem em afirmar invariavelmente que "nada acontecerá". Essas várias formas de otimismo acabarão por contrastar de tal maneira com os fatos que se seguiram às anteriores edições de Revolução e Contra-Revolução que, para sobreviver, os espíritos adeptos delas refugiar-se-ão na esperança falaz e meramente hipotética de que os últimos acontecimentos no Leste europeu determinarão o desaparecimento definitivo do comunismo, e portanto do processo revolucionário do qual este era, até há pouco, a ponta de lança. Sobre tais esperanças, ver os incisos acrescentados nesta edição ao capítulo II desta III Parte.

E. Tribalismo eclesiástico – Pentecostalismo

Falemos da esfera espiritual. Bem entendido, também a ela a IV Revolução quer reduzir ao tribalismo. E o modo de o fazer já se pode bem notar nas correntes de teólogos e canonistas que visam transformar a nobre e óssea rigidez da estrutura eclesiástica, como Nosso Senhor Jesus Cristo a instituiu e vinte séculos de vida religiosa a modelaram magnificamente, num tecido cartilaginoso, mole e amorfo, de dioceses e paróquias sem circunscrições territoriais definidas, de grupos religiosos em que a firme autoridade canônica vai sendo substituída gradualmente pelo ascendente dos "profetas" mais ou menos pentecostalistas, congêneres, eles mesmos, dos pajés do estruturalo-tribalismo, com cujas figuras acabarão por se confundir. Como também com a tribo-célula estruturalista se confundirá, necessariamente, a paróquia ou a diocese progressista-pentecostalista. Nesta perspectiva, que tem algo de histórico e de conjectural, certas modificações de si alheias a esse processo poderiam ser vistas como passos de transição entre o status quo pré-conciliar e o extremo oposto aqui indicado. Por exemplo, a tendência ao colegiado como modo de ser obrigatório de todo poder dentro da Igreja e como expressão de certa "desmonarquização" da autoridade eclesiástica, a qual ipso facto ficaria, em cada grau, muito mais condicionada do que antes ao escalão imediatamente inferior. Tudo isto, levado às suas extremas consequências, poderia tender à instauração estável e universal, dentro da Igreja, do sufrágio popular, que em outros tempos foi por Ela adotado às vezes para preencher certos cargos hierárquicos; e, num último lance, poderia chegar, no quadro sonhado pelos tribalistas, a uma indefensável dependência de toda a Hierarquia em relação ao laicato, suposto porta-voz necessário da vontade de Deus. "Da vontade de Deus", sim, que esse mesmo laicato tribalista conheceria através das revelações "místicas" de algum bruxo, guru pentecostalista ou feiticeiro; de modo que, obedecendo ao laicato, a Hierarquia supostamente cumpriria sua missão de obedecer à vontade do próprio Deus.

3. Dever dos contra-revolucionários ante a IV Revolução nascente

Quando incontáveis fatos se apresentam suscetíveis de serem alinhados de maneira a sugerir hipóteses como a do nascimento da IV Revolução, o que resta ao contra-revolucionário fazer? Na perspectiva de Revolução e Contra-Revolução, toca-lhe, antes de tudo, acentuar a preponderante importância que no processo gerador desta IV Revolução, e no mundo dela nascido, cabe à Revolução nas tendências. E preparar-se para lutar, não só no intuito de alertar os homens contra esta preponderância das tendências – fundamentalmente subversiva da boa ordem humana – que assim se vai incrementando, como a usar, no plano tendencial, de todos os recursos legítimos e cabíveis para combater essa mesma Revolução nas tendências. Cabe-lhe também observar, analisar e prever os novos passos do processo, para ir opondo, tão cedo quanto possível, todos os obstáculos contra a suprema forma de Revolução tendencial, como de guerra psicológica revolucionária, que é a IV Revolução nascente. Se a IV Revolução tiver tempo para se desenvolver antes que a III Revolução tente sua grande aventura, talvez a luta contra ela exija a elaboração de um novo capítulo de Revolução e Contra-Revolução. E talvez esse capítulo ocupe por si só um volume igual ao aqui consagrado às três revoluções anteriores. Com efeito, é próprio aos processos de decadência complicar tudo, quase ao infinito. E por isso cada etapa da Revolução é mais complicada que a anterior, obrigando a Contra- Revolução a esforços paralelamente mais pormenorizados e complexos. Nessas perspectivas sobre a Revolução e a Contra-Revolução, e sobre o futuro do trabalho que cumpre levar a cabo em função de uma e de outra, encerramos as presentes considerações. Incertos, como todo o mundo, sobre o dia de amanhã, erguemos em atitude de prece os nossos olhos até o trono excelso de Maria, Rainha do Universo. E ao mesmo tempo nos sobem aos lábios, adaptadas a Ela, as palavras do Salmista dirigidas ao Senhor: "Ad te levavi oculos meos, qui habitas in caelis. Ecce sicut oculi servorum in manibus dominorum suorum, sicut oculi ancillae in manibus dominae suae; ita oculi nostri ad Dominam Matrem nostram donec misereatur nostri".(*) (*) "Levanto meus olhos para ti, que habitas nos céus. Assim como os olhos dos servos estão fixos nas mãos dos seus senhores e os olhos da escrava nas mãos de sua senhora, assim nossos olhos estão fixos na Senhora, Mãe nossa, até que Ela tenha misericórdia de nós" – Cfr. Ps. 122, 1-2. Sim, voltamos nossos olhos para a Senhora de Fátima, pedindo-Lhe quanto antes a contrição que nos obtenha os grandes perdões, a força para travarmos os grandes combates, e a abnegação para sermos desprendidos nas grandes vitórias que trarão consigo a implantação do Reino d'Ela. Vitórias estas que desejamos de todo coração, ainda que, para chegar até elas, a Igreja e o gênero humano tenham de passar pelos castigos apocalípticos – mas quão justiceiros, regeneradores e misericordiosos – por Ela previstos em 1917 na Cova da Iria. >>>

Legendas desta página:

Na Índia dos gurus, a comunidade "Ashram da Santíssima Trindade", dirigida pelo monge beneditino inglês Beda Griffths, pratica uma "meditação". Paróquias com circunscrições territoriais vão se tornando obsoletas e tendem a ser substituídas por simples "grupos religiosos", sem autoridade canônica e inspirados por estranhos "profetas".
A Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima – que lacrimou milagrosamente em Nova Orleans (EUA), há 20 anos – em visita à Sede do Conselho Nacional da TFP, na capital paulista. Na crise contemporânea, é mais do que oportuno invocarmos a Virgem de Fátima, utilizando-nos da frase do salmista: "Levanto meus olhos para Ti, que habitas nos Céus". Página seguinte