P.30-31
| REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO – PARTE III | (continuação)
Conclusão
Interrompemos a parte final de Revolução e Contra-Revolução, edição brasileira de 1959, para atualizar, nas páginas que precedem, o texto original.
Isto feito, perguntamo-nos se a pequena Conclusão do texto original de 1959 e das edições posteriores ainda merece ser mantida, ou se comporta, pelo menos, alguma modificação. Relemo-la com cuidado. E chegamos à persuasão de que não há motivo para não mantê-la, bem como não há razão para alterá-la no que quer que seja.
Dizemos, hoje, como dissemos então:
Na realidade, por tudo quanto aqui se disse, para uma mentalidade posta na lógica dos princípios contra-revolucionários, o quadro de nossos dias é muito claro. Estamos nos lances supremos de uma luta, que chamaríamos de morte se um dos contendores não fosse imortal, entre a Igreja e a Revolução. Filhos da Igreja, lutadores nas lides da Contra-Revolução, natural é que, ao cabo deste trabalho, o consagremos filialmente a Nossa Senhora.
A primeira, a grande, a eterna revolucionária, inspiradora e fautora suprema desta Revolução, como das que a precederam e lhe sucederem, é a Serpente, cuja cabeça foi esmagada pela Virgem Imaculada. Maria é, pois, a Padroeira de quantos lutam contra a Revolução.
A mediação universal e onipotente da Mãe de Deus é a maior razão de esperança dos contra-revolucionários. E em Fátima Ela já lhes deu a certeza da vitória, quando anunciou que, ainda mesmo depois de um eventual surto do comunismo no mundo inteiro, "por fim seu Imaculado Coração triunfará".
Aceite a Virgem, pois, esta homenagem filial, tributo de amor e expressão de confiança absoluta em seu triunfo.
Não quereríamos dar por encerrado o presente artigo, sem um preito de filial devotamento e obediência irrestrita ao "doce Cristo na terra", coluna e fundamento infalível da Verdade, Sua Santidade o Papa João XXIII.
"Ubi Ecclesia ibi Christus, ubi Petrus ibi Ecclesia". É pois para o Santo Padre que se volta todo o nosso amor, todo o nosso entusiasmo, toda a nossa dedicação. É com estes sentimentos, que animam todas as páginas de "Catolicismo" desde sua fundação, que nos abalançamos também a publicar este trabalho.
Sobre cada uma das teses que o constituem, não temos em nosso coração a menor dúvida. Sujeitamo-las todas, porém, irrestritamente ao juízo do Vigário de Jesus Cristo, dispostos a renunciar de pronto a qualquer delas, desde que se distancie, ainda que de leve, do ensinamento da Santa Igreja, nossa Mãe, Arca da Salvação e Porta do Céu.
Posfácio de 1992
Com as palavras anteriores concluí as várias edições de Revolução e Contra-Revolução publicadas desde 1976. Ao ler essas palavras, quem tem em mãos a presente edição, aparecida em 1992, se perguntará necessariamente em que pé se encontra hoje o processo revolucionário. Vive ainda a III Revolução? Ou a queda do império soviético permite afirmar que a IV Revolução já está em vias de irromper no mais profundo da realidade política do Leste europeu, ou mesmo que já venceu?
É necessário distinguir. Nos presentes dias, as correntes que propugnam a implantação da IV Revolução se estenderam – em formas embora diversas – ao mundo inteiro, e manifestam, mais ou menos por todas as partes, uma sensível tendência a avolumar-se.
Nesse sentido, a IV Revolução vai num crescendo promissor para os que a desejam, e ameaçador para os que se batem contra ela. Mas haveria evidente exagero em dizer que a ordem de coisas atualmente existente na ex-URSS já é totalmente modelada segundo a IV Revolução e que ali nada mais resta da III Revolução.
A IV Revolução, se bem que inclua também o aspecto político, é uma Revolução que a si mesma se qualifica de "cultural", ou seja, que abarca grosso modo todos os aspectos do existir humano. Assim, os entrechoques políticos que venham a surgir entre as nações que compunham a URSS poderão condicionar fortemente a IV Revolução, mas é difícil que os mesmos se imponham de modo dominante aos acontecimentos, isto é, a todo o conjunto de atos humanos que a "revolução cultural" comporta.
Mas, e a opinião pública dos países que até ontem eram soviéticos (e que em bom número ainda são governados por antigos comunistas)? Não tem ela algo a dizer sobre isto, já que representou, segundo Revolução e Contra-Revolução, um papel tão grande nas Revoluções anteriores?
A resposta a essa pergunta se dá por meio de outras: Há verdadeiramente opinião pública naqueles países? Pode ela ser engajada num processo revolucionário sistemático? Em caso negativo, qual é o plano dos mais altos dirigentes nacionais e internacionais do comunismo acerca do rumo que se deve dar a essa opinião?
É difícil responder a todas essas perguntas, dado que neste momento a opinião pública daquilo que foi o mundo soviético se apresenta evidentemente átona, amorfa, imobilizada sob o peso de 70 anos de ditadura total, na qual cada indivíduo temia, em muitos ambientes, enunciar sua opinião religiosa ou política a seu parente mais próximo ou a seu mais íntimo amigo, porque uma provável delação – velada ou ostensiva, verídica ou caluniosa – poderia lançá-lo em trabalhos forçados sem fim, nas geladas estepes da Sibéria. Entretanto, em qualquer caso, é necessário responder a essas perguntas antes de elaborar prognósticos sobre o curso dos acontecimentos no que foi o mundo soviético.
Soma-se a isso que os meios internacionais de comunicação continuam a referir-se, como já disse, à eventual migração de hordas famintas, semicivilizadas (o que equivale a dizer semibárbaras) aos bem abastecidos países europeus, que vivem no regime consumista ocidental.
Pobre gente, cheia de fome e vazia de ideias, que então entraria em choque com o mundo livre, sem compreendê-lo –– mundo este que, em certos aspectos, poderia ser qualificado de super-civilizado e, em outros, de gangrenado!
O que resultaria desse entrechoque, quer na Europa invadida, quer, por reflexo, no antigo mundo soviético? Uma Revolução autogestionária, cooperativista, estruturalo-tribalista,(cfr. Parte III, capítulo II, inciso acrescentado nesta edição ao item 1-B),
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