em conjunto todos os domingos, mas por prever mais um ano em que permaneceriam em condições precárias as atividades do culto na igrejinha. Devido a isso, ele fez uma promessa a Nossa Senhora: caso a ponte de gelo se formasse, ele consagraria a pequena igreja à Virgem Santíssima.
Ao entardecer do dia 16 de março, o esperado prodígio ocorreu: o rio se congelou e formou-se uma ponte de gelo de uns dois quilômetros, suficientemente firme para permitir a passagem dos trenós carregados de pedras. Foi enviado um aviso a todos os colaboradores, e entre os dias 19 e 25 de março uma centena de trenós transportou todas as pedras necessárias para a construção da nova igreja. Logo depois o clima mudou e a ponte de gelo — chamada pelos católicos a ponte do Rosário — se desfez.
Satisfeitos por verem a proteção de Nossa Senhora quanto à nova igreja, os fiéis começaram com entusiasmo a construção. E no início do verão de 1880 ela estava pronta. A cerimônia da bênção da igreja foi realizada pelo bispo de Trois Rivières, Mons. Louis François Laflèche. A velha igreja foi poupada, e, curiosamente, será esta a que atrairá multidões no futuro.
Até aqui, poder-se-ia dizer que a narração constitui a piedosa história de uma paróquia. Nada de estranho que o virtuoso sacerdote cumpra sua promessa feita à Virgem e lhe dedique a velha igrejinha, no dia 22 de junho de 1888. Ele tinha preparado uma grande festa e convidado um renomado orador, o padre franciscano Frederik Jansoone. Após a cerimônia, foi colocada no altar-mor uma imagem de Nossa Senhora, que antes se encontrava num altar lateral da mesma igreja. Assim, a pequena igreja de Santa Maria Madalena passava a chamar-se igreja de Nossa Senhora do Santo Rosário.
Terminadas as cerimônias de consagração da igreja, três pessoas ainda se encontravam rezando no templo: o Pe. Désilets, o Pe. Jansoone e Pierre Lacroix, uma pessoa portadora de deficiências físicas.(1)
De repente, acontece um milagre, assim descrito pelo padre Jansoone: “A imagem da Virgem, que tinha os olhos completamente baixos, abriu-os totalmente. Seu olhar estava fixo, olhando adiante, bem em frente. Uma ilusão era difícil, pois sua face encontrava-se plenamente batida pelos raios do sol, que entravam por uma janela e iluminavam todo o santuário. Seus olhos eram negros, bem formados e em plena harmonia com o rosto. O olhar da Virgem era o de uma pessoa viva e tinha uma expressão de severidade misturada com tristeza. Este prodígio durou entre cinco e dez minutos”.(2)
A visão desse portento mudou totalmente a vida do Pe. Jansoone. Ele dedicou desde então toda sua vida a propagar a devoção a Nossa Senhora do Rosário do Cabo e foi o primeiro diretor das peregrinações, que duram até os dias de hoje.
Algumas pessoas, ao tomarem conhecimento desta narração, prestam muita atenção no milagre dos olhos e se esquecem da ponte do Rosário. Parece-nos mais simpático o que acontece, por assim dizer, sem esforço. Com efeito, aquilo que é extraordinário chama naturalmente muito a atenção. O fato de Nossa Senhora nos olhar, sem termos que fazer qualquer esforço, é admirável. Mas rezar com perseverança, confiar quando o Céu parece fechado para nós, acreditar quando tudo parece perdido, eis o que é difícil.
Tal perseverança na desolação é o que atrai, de modo especial, as bênçãos de Nossa Senhora. A vida real não é um filme de Hollywood, com soluções mágicas e finais felizes. Não foi assim a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não podemos esperar que a nossa o seja, pois “christianus alter Christus” (o cristão é outro Cristo). A realidade da vida é o combate, conforme a Igreja nos ensina: “Militia est vita hominis super Terram”.(3) Devemos, pois, ficar contentes quando fatos extraordinários se produzem, mas devemos sobretudo estar preparados para enfrentar com confiança, coragem e perseverança todas as adversidades da vida. Eis uma importante lição que podemos tirar da história da Padroeira do Canadá.
Nosso Senhor não deseja que nos esqueçamos de nossas necessidades, e nos ensina o que devemos pedir para nós. Se podemos fazer a vontade de Deus como os anjos do Céu, não podemos passar, como eles, sem o pão material. Por isso também devemos dizer a Deus: O pão nosso de cada dia nos dai hoje.
Nosso pão, não o dos anjos, que não nos bastaria; não também o dos outros, que não podemos roubar sem injustiça; não o dos animais, que seria muito grosseiro para nós, que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus.
Não nos dês somente o pão do qual nosso corpo tem necessidade todos os dias, mas dai também o pão sobrenatural às nossas almas.
Esse pão é a palavra de Deus, é a graça, é a Eucaristia. [...]
O pão nosso de cada dia nos dai hoje, porque todos os dias temos necessidade de Vós para a alma e para o corpo, e a palavra pão significa tudo o que é necessário a uma e ao outro.
Perdoai as nossas ofensas. Até aqui temos pedido a Deus bens para Si e para nós. Agora Nosso Senhor nos ensina a pedir que sejamos livres dos males. O maior de todos é o pecado, é a ofensa a Deus. Ninguém é inocente nessa matéria, porque o justo peca sete vezes.
Senhor! Perdoai as dívidas contraídas contra vossa justiça por nossas faltas, dívidas que nos tornaram passíveis de suplícios eternos.
Perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos aos que nos têm ofendido. Vós dissestes, Senhor, que se nós perdoássemos, nosso Pai celeste nos perdoaria. O perdão das injúrias é, pois, a condição necessária para obter vossa misericórdia; queremos preencher essa condição. É por isso que solicitamos com confiança vossa graça. Felizes os que podem dizer isso a Deus com sinceridade e franqueza! Mas infelizes aqueles que, pronunciando essas palavras, guardam em seus corações o rancor e a vingança! Que, antes de pronunciar tal prece, pensando na necessidade premente que eles têm de perdão, não hesitem em procurá-los, perdoando aos seus inimigos. [...]
Não nos deixeis cair em tentação. Deus não tenta ninguém, mas permite que sejamos tentados pelo demônio, pelo mundo e por nossas próprias más inclinações. Que infelicidade para nós, se chegarmos a sucumbir! É por isso que pedimos para sermos preservados da queda, porque sem o socorro de Deus seríamos impotentes. Peçamos mesmo a Deus que afaste de nós as tentações.
Alguns santos, é verdade, devido à sua grande confiança em Deus, pediram tentações, a fim de nelas encontrar um meio de aumentar seus méritos. No entanto, é ordinariamente mais seguro fugir das tentações, ou afastá-las pela oração. Quando elas duram, apesar de nós as rejeitarmos, não devemos nos atemorizar nem nos desencorajar, mas combatê-las, recorrendo a Deus com confiança.
Mas livrai-nos do mal. O mal do qual pedimos para sermos libertados é o pecado, que pode seguir-se à tentação; é também o demônio que nos leva ao que é culpável. Em um sentido completo, o mal é tudo o que pode nos conduzir ao pecado e nos fazer parar no caminho da virtude.
Quando dissermos isso a Deus, de todo nosso coração, não nos restará mais nada a pedir. Aquele que obteve, pela prece, a proteção de Deus, pode estar seguro. Que poderia temer do mundo aquele que Deus defende nesse mundo?
Santo Agostinho, no entanto, pensa que, mediante essas palavras, pedimos para sermos livres de todo mal pela bem-aventurança eterna. Lá não há mais ofensas, tentações, paixões para nos arrastar. Desejemos todos o Céu, onde nos será impossível ofender a Deus.
Amém. Por essas palavras “assim seja”, aprovamos e renovamos mais uma vez todos os pedidos precedentes, pedindo a Deus que os aceite e os ouça.
Legenda: Nosso Senhor perdoa os pecados da Samaritana.