ximo de 40% do PIB.(24) Em novembro, a soma dos tributos, taxas e contribuições diretas e indiretas pagos por quem ganhasse R$ 3 mil mensais equivalia a 172 dias de trabalho por ano.
Em 2003, as famílias brasileiras já tinham diminuído o consumo em 3,3%, e a renda do trabalhador diminuíra 7,4%. A classe média empobrecera e 2,5 milhões caíram para o patamar da classe pobre. Em maio de 2004, 150 milhões (85% dos brasileiros) tiveram dificuldade para fechar as contas do mês. Em novembro, o desemprego dobrou em relação a 1993 e as vagas criadas não cobriam o aumento da população.
O PIB brasileiro calculado em dólares caiu da 12ª para a 15ª posição mundial, e o PIB per capita desceu ao 78º lugar, ficando atrás até da Jamaica. O Banco Mundial qualificou o Brasil como “um dos piores lugares do mundo” para se fazer negócios, sobretudo devido à quantidade e lentidão dos procedimentos burocráticos, custo das exigências legais, dificuldades na abertura e fechamento de empresas, registro de imóveis, crédito e cobrança de dívidas, rigidez da legislação trabalhista e falta de proteção aos investidores. O País também desceu no ranking mundial da competitividade, do 54º para o 57º lugar. Em matéria de corrupção administrativa, mais uma triste piora: de 54º para 59º lugar mundial. E a liberdade econômica? 80ª posição mundial, na faixa dos principalmente não-livres! O percentual da economia informal só foi maior na Colômbia e na Rússia!
O propagandeado programa Fome-Zero acabou esquecido e o Bolsa-Família bateu o recorde de fraudes denunciadas.(25) Subiram as indenizações a ex-opositores e ex-guerrilheiros. Em agosto, o Ministério de Justiça devia R$ 1,4 bilhão em pagamentos retroativos,(26) recebendo alguns beneficiados por mês acima do teto do funcionalismo público.(27)
A família foi profundamente vulnerada. O ministro da Saúde e a prefeita paulista lançaram um programa de educação sexual municipal. Eles mesmos ficaram constrangidos pela crueza da simulação de ato sexual representado por estudantes na aula inaugural.(28)
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou um pacote de mudanças no Código Penal que põe fim à punição do adultério, dos crimes de sedução e rapto consensual e tirou do Código Civil a expressão “mulher honesta”.(29) Outro projeto “eleva a prostituição, feminina e masculina, à categoria de profissão dos ‘trabalhadores da sexualidade’; [...] [incluindo] strippers, dançarinos que se exibem nus ou seminus, garçons e garçonetes que trabalham de forma a despertar a libido de terceiros, e gerentes de prostíbulos”.(30) 75 mil brasileiras se prostituem no exterior, segundo a Organização Internacional de Migrações.(31)
O Brasil ocupou o 4º lugar no ranking da pedofilia na Internet, com 17.016 sites. Em maio, o Disque-Denúncia federal ultrapassou 6 mil denúncias anuais de violência sexual contra crianças e adolescentes. O aborto por anencefalia vigorou por alguns meses. Em dezembro, o governo lançou debate tendente a conduzir à sua legalização civil (o aborto é punido com excomunhão pelo Código Canônico).
Em São Paulo, a prefeita petista entregou a primeira pensão a uma lésbica a título de companheira.(32) Em Curitiba, um cartório registrou por primeira vez um “casamento” homossexual.(33) No Rio Grande do Sul, decisão judicial permitiu essas uniões,(34) e no Distrito Federal outro tribunal entregou uma criança em custódia a um travesti.(35)
Houve Paradas do Orgulho Homossexual em São Paulo e no Rio. Em Brasília, o presidente Lula elogiou em carta tais eventos, por darem visibilidade aos homossexuais, bissexuais e transgêneros, os quais, segundo ele, “por muitos séculos não puderam se expor, muito menos reivindicar seus direitos”.(36)
Na América Latina, o Brasil liderou a dramática estatística de Aids da ONU, com 80.000 contágios e mais de 30.000 mortes num ano. A Organização Internacional do Trabalho alertou que o Brasil pode perder 1,2 milhão de trabalhadores até 2015 por causa da doença. Mas o diretor mundial da Onusida (o programa da ONU sobre HIV e Aids), Peter Piot, saiu satisfeito com o País. Triste satisfação... Obteve adesão do presidente Lula e julgou ter recebido apoio do secretário-geral da CNBB, D. Odilo Scherer, para convencer outros episcopados latino-americanos a não obstarem as campanhas de difusão de preservativos.(37)
A diplomacia do governo Lula visou liderar uma frente de países “pobres” contra os “ricos” — ou do “sul” contra o “norte”. O presidente visitou a China vermelha, sem dizer uma palavra em defesa dos direitos religiosos e humanos violados escancaradamente naquele país marxista.(38) Pouco depois, o regime de Pequim suspendeu as importações de grãos produzidos no Brasil, causando prejuízo de 1 bilhão de dólares. Apesar de múltiplos danos comerciais, o governo reconheceu a China comunista como “economia de mercado”;(39) deu ao Vietnã marxista o “status de nação mais favorecida na OMC” ; (40) fez concessões unilaterais à Argentina(41) e perdoou a dívida de países como o Gabão — que tem um PIB per capita superior ao do Brasil —, Moçambique, Cabo Verde e Bolívia. Tudo em aras à aliança dos países pobres!
Em agosto, o Itamaraty tentou criar um Grupo de Amigos de Cuba, para favorecer a ditadura cubana.(42) Em dezembro, o presidente Lula liderou a fundação de uma Comunidade Sul-americana de Nações. Essa iniciativa recebeu epítetos como “geopolítica fantástica”, “aventura infeliz”, “fiasco” e “sintoma do isolamento diplomático do Brasil”.(43)
Em 2004 o Legislativo gastou a maior parte do seu tempo votando Medidas Provisórias da Presidência, e o Brasil passou a ter como ministros dois membros de um partido comunista (PC do B), que não renegaram seu passado marxista.
O pensador socialista francês François Chesnais veio ao País para proclamar: “Se houvesse uma mudança política como a que ocorreu em Cuba nos anos 60, o novo sistema seria invencível”.(44) Nessa hora, a ocupação dos organismos do Estado por afiliados do PT — ou aparelhamento — já era sistemática, crescendo os temores da eternização do PT no poder.(45)
O favorecimento do PT e aliados na distribuição de verbas acelerou-se nas vésperas das eleições municipais. Entre março de 2003 e junho de 2004, 91,1% dos empréstimos municipais do BNDES destinaram-se a prefeituras petistas.(46) O PT também coletou milhões provenientes de uma porcentagem sobre os salários de militantes beneficiados pelo aparelhamento.(47)
Multiplicaram-se os projetos visando controlar parlamentares e membros do Ministério Público, da Justiça, da imprensa, da cultura, da Internet e dos telefones, delineando-se um “dirigismo cultural” no estilo soviético ou cubano, “autoritário, burocratizante, concentracionista e estatizante”.(48) “Mordaça”, “escutas celulares”, sigilos rompidos, chantagens a empresários e políticos com base em dados obtidos em CPI, foram lugares comuns do noticiário político.
O presidente da CNBB, D. Geraldo Majella Agnelo, “tradicional aliado do PT”,(49) criticou líderes protestantes que promoviam seus candidatos, em geral não-petistas. Entretanto, D. Pedro Luiz Stringhini (bispo auxiliar de São Paulo) e o padre Renato animaram o palanque da candidata Marta Suplicy;(50) em Minas, grande número de sacerdotes disputou prefeituras pelo PT; e o bispo de Quixadá (CE), quando processado pelo PT, respondeu: “Nunca vi o bispo Morelli e o Frei Betto serem condenados porque apoiam o PT em nível nacional”.(51)
A instrumentalização do poder público e a demonstração de poder econômico do PT na campanha das eleições munici-
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