P.30-31 | INTERNACIONAL | (continuação)

Eleições americanas: Armagedon para toda a Terra

Após acirrada campanha, o pres. Bush é reeleito par amais um mandato de quatro anos.

Na campanha presidencial americana, o macrocapitalismo publicitário, multimilionários de esquerda, partidos socialistas moderados ou radicais, ativistas da Revolução Cultural, progressismo católico, torceram desesperadamente, e em todos os países, para vergar as resistências da opinião pública americana e instalar um presidente capitulacionista. Mas, em sentido contrário, o movimento conservador americano não parava de voltar-se para a religião, a família, as genuínas tradições nacionais e a propriedade privada. Agigantou-se assim o chamado “abismo divino”(60) entre os conservadores que acreditam em Deus e liberais-esquerdistas céticos ou agnósticos.

A disputa pela presidência americana virou então uma “eleição Armagedon”,(61) porque de algum modo participaram nela todos os povos da Terra. A polêmica chegou à Santa Sé. Pelo menos 12 arcebispos e bispos americanos condenaram de público os políticos católicos abortistas ou que apoiam o “casamento” homossexual. Mas não tiveram eco unânime na Conferência Episcopal dos EUA.

Triunfo conservador sem precedentes

Em 2 de novembro o conservadorismo obteve estrondoso triunfo. “Tradição, família e fé na Casa Branca”;(62) “Onda conservadora dá vitória completa a Bush”;(63) “Valores morais, a chave da vitória de Bush na centro-direita”(64) –– eis algumas manchetes de grandes jornais. Na ocasião, 11 Estados aprovaram em plebiscito emendas constitucionais estaduais que banem o “casamento” homossexual. Todas endossadas por largas maiorias.

Os militantes esquerdistas experimentaram amarga frustração. O politólogo Thomas Frank chegou a afirmar: “Não há mais esquerda nos EUA”.(65) A subsequente renovação do gabinete do presidente Bush fortaleceu os chamados falcões.

Alternativa para a Europa: soberania, sim ou não

No início de 2004, a Europa quase toda era governada pela direita.(66) A seguir a “extrema-direita” venceu na Caríntia, Áustria, e o partido conservador na Grécia. As anômalas eleições espanholas foram um parêntese. A “extrema-direita” reapareceu com força nas eleições de Brandemburgo e Saxônia, na Alemanha.

Na escolha do Parlamento Europeu, 55,4% dos 350 milhões de eleitores não votaram. Pesou nesse resultado a recusa de uma menção ao cristianismo no projeto de Constituição Européia. Porém os governantes europeus tornaram-se surdos à lição das urnas e aprovaram esse projeto que destrói as soberanias. O anúncio do ingresso da Turquia na UE causou ainda mais calafrios, pois uma potência muçulmana poderá ter o maior peso nas decisões da UE.

E a União Europeia ingressa em 2005 sob uma espada de Dâmocles: os referendos populares podem rejeitar essa Constituição agnóstica, confusa e incompreensível, apelidada “natimorta”.(67) Desses referendos depende o futuro do continente.

Estagnação da natalidade europeia e expansão do Islã

Na Alemanha, o sistema previdenciário entrou em colapso. A causa? Não há jovens em número suficiente para manter o sistema. A perspectiva é que em 30 anos nascerão mais crianças muçulmanas que alemãs. O cenário não é muito diverso no resto da Europa.

Na Holanda, o assassinato de um cineasta por um fanático islâmico foi estopim de violências que resultaram na queima de 20 mesquitas e escolas muçulmanas. A polícia holandesa tomou de assalto um prédio, ninho de terroristas, e desmontou um acampamento de treinamento de guerrilheiros curdos.

Na França, sob pretexto de conter o extremismo islâmico, o governo proibiu o uso de símbolos religiosos nas escolas, inclusive católicos. Como revide, terroristas iraquianos sequestraram dois jornalistas franceses e exigiram a abolição dessa proibição, sob pena de assassiná-los.

Na Espanha, covarde atentado islâmico causou quase 200 mortos e mais de 1.400 feridos às vésperas de eleições gerais. O socialismo se beneficiou da tragédia e do trauma dela decorrente, vencendo inesperadamente. Uma vez no poder, retirou as tropas espanholas do Iraque; financiou oficialmente o Islã; promoveu o ensino do maometanismo nas escolas; aproximou-se da ditadura cubana; anunciou o fim do ensino do catolicismo como matéria escolar; alargou o âmbito da legislação do divórcio e do aborto e introduziu o “casamento” homossexual. O Primaz da Espanha declarou que a Igreja agora enfrenta um governo e uma mídia “dispostos a despedaçá-la”.(68)

Rússia: comunismo metamorfoseado vai reaparecendo

Na Rússia, Putin consolidou seu poder praticamente ditatorial e reacendeu a guerra fria com o Ocidente. Criou um clima de desconfiança contra a livre empresa; sufocou a mídia e a oposição política; renovou o seu mandato em eleições claramente falseadas; acabou com as eleições para governador; consumou a onipotência do poder da ex-KGB; ameaçou o Ocidente com armas inauditas; e, por fim, procurou influir nas eleições realizadas na Ucrânia em favor do candidato pró-Rússia. Apoiado pela Rússia, o Irã desenvolveu armas atômicas e trocou com Israel ameaças de represálias nucleares.

Em 2003, a Rússia bajulara a Europa e propugnara veladamente uma aliança contra os EUA. No fim de 2004, até para os europeus mais capitulacionistas ficou claro que essa aliança é muito perigosa.

China: o tigre de papel e a perseguição anticatólica

China: perseguição aos fiéis a Roma

A China seguiu recebendo enxurradas de investimentos, mas patentearam-se as colossais incongruências do seu sistema econômico e as miseráveis condições de trabalho de operários e camponeses. O governo de Pequim foi esmagando em Hong Kong as liberdades políticas e religiosas que restavam, sem incomodar-se com os maciços e virulentos protestos populares.

O governo comunista procurou obter a apostasia de bispos e sacerdotes fiéis a Roma, tentando forçar sua adesão à cismática igreja patriótica, aparentada com a igreja progressista seguidora da Teologia da Libertação no Brasil.(69) A heróica recusa dos fiéis chineses teve consequências: destruição de igrejas católicas e martírios como o do bispo de Yantai, D. Giovanni Gao Kexina, morto após anos de "reeducação" em campos de concentração.

Acobertada por Pequim, a Coréia do Norte ameaçou o Japão e o mundo com armas atômicas, reforçou a tirania com ferozes repressões e utilizou presos como cobaias para testar gases tóxicos.

América do Sul: populismo cubanizante

Vacilante e debilitado, o regime castrista atravessou o ano com violências e bravatas. O sistema elétrico da ilha faliu. Sem o turismo, máxima fonte de divisas, Fidel obrigou o povo a entregar seus dólares a troco da moeda local desvalorizada.

Enquanto na Colômbia a firme política contra a guerrilha marxista do presidente Uribe obtinha alvissareiros resultados, a Venezuela descambou cada vez mais para um regime tirânico e de miséria, nos moldes cubanos. Segundo autorizadas vozes da própria Venezuela, o presidente Chávez fraudou o plebiscito popular e consolidou-se praticamente como ditador. Contou para isso com o apoio entusiástico do PT e das esquerdas internacionais, embora fosse contestado por gigantescas manifestações oposicionistas. Chávez também despenalizou o aborto e fez compras maciças de armas na Rússia.

Abismo entre o establishment e a opinião pública

A Turquia muçulmana poderá ter o maior peso nas decisões da União Européia

No final do ano, era considerável a distância entre o establishment político e midiático e a opinião pública mundial. Um dos sintomas disso foi a acentuada queda de usuários de jornais e TVs e a contestação popular, através da Internet, de informações deturpadas veiculadas pela grande mídia. Dan Rather, o mais famoso âncora televisivo americano, teve que renunciar, após divulgar documentos falsos que visavam prejudicar o presidente Bush.

Mas a rara mídia que se aproximou do público real alcançou explosiva expansão, como a Fox, cadeia de TV que se inclinou para o movimento conservador americano e o apoiou.


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