P.38-39 | VIDAS DE SANTOS | (continuação)

tãos que quisessem falar com o padre poderiam fazê-lo livremente.

Assim, em virtude desse ato de generosidade e desprendimento de um simples fiel, o Pe. Vaz pôde transformar a prisão, durante dois anos, em sua primeira paróquia. Foi-lhe permitido fazer uma cobertura de folhas de coqueiro no quintal da prisão, e lá ele celebrava, pregava, atendia confissões, realizava casamentos e batismos, ensinava catecismo e preparava crianças para a Primeira Comunhão.

No fim desse período, convencido da inocência do missionário, o rei libertou-o, autorizando-o além disso a construir uma igreja na capital.

Fatos extraordinários e edificantes

A vida do Pe. Vaz foi tão admirável, que um dos seus auxiliares, escrevendo ao Superior do Oratório de Goa em 1698, diz: “Como o gênero de vida do Pe. Vaz é em realidade mais sobre-humano que natural, o povo do país credita-lhe muitos milagres. Mesmo os pagãos e os muçulmanos relatam fatos sobre ele que são os mais extraordinários”. Eis alguns:

O Pe. Vaz acabara de entrar em uma casa em Colombo, onde ia celebrar, quando os holandeses chegaram. Os fiéis fugiram por todos os lados. Carregando consigo todo o material para a Missa, o santo missionário atravessou calmamente em meio aos soldados, sem que estes o vissem.

Outra vez, viajava o Pe. Vaz de Kandy a Puttalam com alguns companheiros, quando chegaram a um rio cujas águas tinham subido muito em virtude das chuvas. Confiando na Providência, o sacerdote penetrou no rio, medindo sua profundidade com uma vara. Quando alcançou o meio, com as águas não indo além de seus joelhos, chamou seus amigos para segui-lo. Não só eles, mas alguns pagãos também atravessaram o rio seguidos. Vendo isso, alguns viajantes muçulmanos desmontaram suas tendas e tentaram fazer o mesmo. Tão logo entraram no rio, a água, chegando-lhes aos ombros, voltou a correr tão violentamente que tiveram de recuar.

Um rico e influente budista de Kandy não podia suportar a ascendência que o Pe. Vaz tinha sobre o rei. Certo dia em que o sacerdote estava ausente, reunindo os influentes budistas da cidade, foi diante do rei apresentar toda sorte de mentiras e calúnias contra o sacerdote, ameaçando uma sublevação caso a igreja da missão não fosse demolida, e os sacerdotes banidos. O monarca, que enfrentava outros difíceis problemas políticos, consentiu em expulsar os padres. Mas, ao mesmo tempo, mandou avisar o Pe. Carvalho, que substituía o Pe. Vaz na missão, que ele não tinha nada a temer, e que podia levar consigo o que pudesse.

Os hindus arrasaram a igreja enquanto o Pe. Carvalho fugia levando o indispensável para a Missa, refugiando-se na fazenda de um português.

O castigo divino não tardou. O líder budista foi atacado por terrível moléstia, suas pernas se paralisaram, horrível úlcera se lhe formou na língua e todo seu corpo foi coberto de feridas. Todos os habitantes de Kandy, mesmo os pagãos, reconheceram nisso um castigo de Deus.

Pouco depois, através dos bons ofícios do médico do rei, o Pe. Vaz recebeu liberdade para pregar novamente não só na capital, mas em todo o reino.

Pesadas cruzes no final da vida

Amando ardentemente a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pe. Vaz venerava também sua Cruz, seguindo sua senda dolorosa.

Estava ele pregando certo dia, quando sua habitual febre elevou-se assustadoramente. Levado para Kandy, suas pernas se paralisaram.

Mas, havendo dois agonizantes que necessitavam dos últimos sacramentos, arrastando-se, deixou seu leito para ir socorrê-los. A caminho da segunda visita, seu carro de boi tombou, e o Pe. Vaz rolou de considerável altura para o fundo de uma ravina. Em virtude disso a paralisia das pernas tornou-se total, formou-se um abscesso em seu ouvido direito e seu maxilar endureceu, tendo-lhe sido impossível fechar a boca durante quatro dias. No decorrer desses tormentos, seu único alívio era pronunciar o dulcíssimo nome de Jesus, oferecendo-Lhe seus sofrimentos.

Vendo que seus dias estavam contados, renunciou nas mãos do Pe. José Menezes aos cargos de Vigário Geral do bispo de Cochin e de Superior Geral dos Oratorianos no Ceilão, expirando a 16 de janeiro de 1711, sendo beatificado em janeiro de 1995.

Notas:

1. Os dados que serviram de base a este artigo foram extraídos da obra do Arcebispo S. Ladislas, The Apostle of Ceylon, St. Joseph's Catholic Press, Jaffna, Sri Lanka, 1991. 2. Don, aqui, é uma corruptela do Dom português. Os nativos, ouvindo freqüentemente esse apelativo e não se dando conta de que era uma forma de tratamento, adotaram-no como nome próprio.
| GRANDES PERSONAGENS |

João Sobieski, o “Invencível Leão do Norte”

Sobieski, o Rei João III da Polônia, foi um dos maiores capitães de guerra do século XVII, e a ele se deve a salvação da Europa ao derrotar os turcos na batalha de Viena

José Maria dos Santos

João Sobieski nasceu em 1624, filho de Jaime Sobieski, castelão de Cracóvia, da pequena nobreza polaca. João e seu irmão Marcos foram educados com o maior esmero. Passaram grande parte de sua juventude em Paris e estiveram na Itália, residindo por três anos em Pádua, onde frequentaram a Universidade local. Estiveram também na Inglaterra e na Alemanha.

Ambos estavam na Turquia quando, em 1648, à morte de seu pai, tiveram que voltar à pátria. Nessa ocasião os poloneses tinham sido derrotados pelos russos na batalha de Pilawiecz, os dois irmãos quiseram desagravar seus conterrâneos e entraram na liça. Marcos foi feito prisioneiro pelos tártaros, e por eles assassinado.

Terror dos tártaros e herói nacional

Em pouco tempo a coragem extraordinária e a bravura de João Sobieski o cobriram de glória em sua nação e o tornaram o terror dos tártaros. Assim chegou ele a ser nomeado grande Marechal da Coroa e, logo depois, Comandante-em-chefe do exército polonês.

Seu primeiro grande feito nessa qualidade realizou-se em Podhajce, que estava sitiada por um exército de cossacos e de tártaros. Ele levantou, a suas expensas, um exército de 8 mil homens, guarneceu de trigo a praça sitiada e derrotou completamente o exército inimigo.

Quando em 1672 os turcos tomaram a cidade de Kamieniec, Sobieski derrotou-os completamente, tendo eles deixado 20 mil mortos e grande quantidade de armamento no campo de batalha. Esse feito provocou alívio geral na Polônia, tornando-se então Sobieski o grande herói nacional.

Sobieski aclamado rei por unanimidade

Com a morte do Rei Miguel, em 1674, Sobieski foi aclamado rei da Polônia por unanimidade, entre 17 pretendentes, sendo seis deles cabeças coroadas. A monarquia polonesa era eletiva.

Entretanto, mesmo antes de sua coroação, foi ele forçado a repelir as hordas turcas que mais uma vez tinham invadido a Polônia. Derrotou-as no ano de 1675 em Lemberg, chegando a tempo para fazer levantar o cerco de Trembowla e salvar seus defensores.

No ano seguinte, foi solenemente coroado em Cracóvia com sua esposa, Maria Casemiro Luisa, filha do marquês francês Lagrange d’Arquien.

Não teve muito tempo para gozar esse triunfo, pois foi necessário combater os russs nas províncias rutenas. Com um exército de apenas vinte

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