Plinio Corrêa de Oliveira
Há uma narração da morte de Stalin, redigida por sua própria filha, que é muito bem feita.
Ponham diante dos olhos as vastidões do Kremlin. Misteriosa fortaleza-palácio, inteiramente murada, em Moscou. Dentro dela, mais um drama se desenrola: a morte do ditador Stalin. Um homem devasso, que está expirando.
A inevitável doença, ou envenenamento, que atinge determinado paroxismo e que produz o estraçalhamento, a dilaceração: a alma está se separando do corpo. Stalin encontra-se impotente, mas seu organismo poderoso luta contra a morte.
Mas, apesar dessa reação — uma espécie de fúria selvagem e de poder biológico e psicológico —, a morte vai prostrando o ditador. Ele vai sendo estraçalhado e reagindo com uma impetuosidade, uma força de resistência maior à medida que vai notando que os golpes da morte vão se abatendo sobre ele.
Constata-se, porém, que Stalin morre longe da graça de Deus. Nada há que externe a ideia de religião. A vida dele foi a de um ateu e de um propugnador do ateísmo. De um homem que, ainda que se às ocultas acreditasse em Deus, de tal maneira ofendeu o Criador, que é de se presumir que tenha caído no pecado de desespero, ou no pecado da negação da existência de Deus.
Portanto, morrendo com ódio, desesperado. Sua reação é vã, o ar vai faltando, sua natureza está minada por todos os lados. Em certo momento, o ditador percebe a situação em que se encontra. Ele, que não tinha feito outra coisa na vida a não ser governar pelo terror, impulsionado pela força do ódio, abre os olhos e — talvez sem dar-se bem conta do que estava acontecendo, considerando-se envenenado ou vítima de uma conspiração — fita todos os presentes no local com um olhar terrível; e, sentindo confusamente que estava sendo derrotado, procura ainda reagir.
A seguir, levanta o braço num gesto de ameaça — a única coisa que ele sabia fazer. Pouco depois, Deus chama sua alma para julgamento. O braço cai, ele não é senão um cadáver.
O homem que passou a vida inteira odiando, e que havia governado com brutalidade, verga, quebra, rui. Sobrevém a placidez do cadáver.
Para uma pessoa que sabe interpretar essas cenas com os olhos da fé, uma só coisa constata como epílogo: a vitória de Deus!