Marcos Luiz Garcia
A gravata já não é necessária” é o título de matéria publicada no diário madrilense “El País” de 16 de maio último. A articulista, Estel Vilaseca, baseia-se em reflexões de Vanessa Friedman, jornalista de modas do “The New York Times”, sobre o fato de três figuras de destaque midiático da esquerda internacional – Barack Obama, Pablo Iglesias e Alexis Tsipras – estarem cada vez mais dispensando o uso da gravata e apresentando-se de maneira mais informal e “espontânea”.
Ao evidenciar tal proceder, Vilaseca não visa criticá-los nem desestimulá-los em sua tendência despojadora. Pelo contrário, a intenção da articulista é atrair para a esteira rolante que conduz ao neoprimitivismo cavernícola o mundo civilizado. Com efeito, o homem moderno está se aproximando cada vez mais dos cavernícolas...
Quem tiver oportunidade de analisar o livro de Melissa Leventon, A história ilustrada do vestuário, da PubliFolha, constata que ao longo de toda a história da humanidade, salvo algumas exceções, os homens sempre buscaram instintivamente se adornar cobrindo o próprio corpo e valorizando sua aparência.
A civilização cristã aprimorou o bom gosto e as vestimentas se elevaram em categoria e elegância. Isso se deu especialmente na França. Também, em grande parte por influência da “Filha Primogênita da Igreja”, em toda a Europa. A vestimenta era a moldura das boas maneiras, do respeito mútuo e da elevação de espírito.
O fato de os homens não serem meros animais, mas sim animais racionais, dotados de inteligência, impôs ao longo da História que eles se apresentassem de modo a expressar sua mentalidade, sua personalidade. O adorno sobre o corpo visa ressaltar a alma. Além disso, pode expressar a dignidade e as funções de quem faz uso desse adorno. Se alguém quiser conhecer a mentalidade de outrem, um indício importante consiste em analisar como ele se veste e deseja ser visto pelos outros.
Mas não é só isso. A maneira de se apresentar expressa ainda a consideração do homem em relação aos demais seres humanos. Essa mútua consideração chegou a constituir um ambiente do verdadeiro esplendor de vida, em todos os níveis sociais, como ocorreu na época denominada Ancien Régime. Em seu livro A essência do estilo, Joan De Jean explica ter a gravata sido adotada na França por volta de 1670, durante o reinado de Luís XIV. E o portal G1, de 24 de janeiro de 2009, confirma que em 1618 um regimento croata passou pela França durante a Guerra dos Trinta Anos usando um lenço no pescoço para conter o suor. Posteriormente a nobreza, influenciada por Luís XIV, aderiu à moda, certamente aprimorando-a e popularizando-a com o nome de “cravate”, palavra derivada de croata. A “cravate” tornou-se desde então um símbolo de distinção, masculinidade e honra. Seu uso se prolongou no tempo, durante a Revolução Francesa e todo o século XIX.
No século XX ela tomou o formato atual, como um complemento indispensável ao terno. Na realidade, é o último adorno tradicional que persiste no vestuário masculino. No livro-álbum O design do século XX (pp. 140-141), de Michel Tambini, ficam evidentes a transformação da moda e a “neoprimitivização” do vestuário, acompanhando todos os demais aspectos da vida, o que vai conduzindo a humanidade à perda acentuada do bom gosto, da distinção, da elevação etc.
Há um aspecto mais grave a considerar. As transformações que a moda vem gerando ao longo dos últimos cem anos pelo menos, constituem uma manifestação de algo mais profundo, de cunho moral e religioso. Isso ao arrepio daqueles