Sobre a mesma temática analisada nas páginas precedentes (artigo de Catolicismo de fevereiro de 1952), ou seja, a possibilidade de constituição de blocos de nações reunidas numa federação nos moldes da atual União Europeia, seguem dois magistrais artigos premonitórios de Plinio Corrêa de Oliveira para o jornal “Legionário”, do qual na época era diretor.
Essas matérias foram redigidas em 2 e 9 de maio de 1943, durante a II Guerra Mundial. Nelas o Prof. Plinio já advertia para o grave perigo de um projeto pós-conflito que quisesse reestruturar o mundo unificando as nações em blocos dotados, entre outras coisas, de uma moeda única. E todas elas dirigidas por uma espécie de supergoverno, com poderes acima das soberanias nacionais, que absorveriam “todos os regionalismos sadios, deformando o mundo”.
Nesse sentido, com penetração, o autor observou: “Que produções intelectuais e culturais terá um homem assim prisioneiro de um mundo que parece mais feito contra ele do que para ele? – Provavelmente a mesma que teria uma sardinha enlatada viva.”
Além desses perigos que ameaçariam os povos, o Prof. Plinio alertava para outro trágico risco, que poderia decorrer dessa projetada “ordem nova” para as nações: a eclosão de nova guerra universal ainda mais catastrófica que as duas primeiras guerras mundiais. E apontava a solução: o retorno da humanidade “às rotas gloriosas da civilização cristã católica”.
A Direção de Catolicismo
Plinio Corrêa de Oliveira
(“Legionário”, nº 560, 2 de maio de 1943)
O Sr. Oliveira Salazar, chefe do governo português, fez recentemente algumas declarações que não podem passar sem algumas observações. Disse o estadista luso que Portugal, mantendo-se embora inteiramente neutro na presente conflagração, não queria aderir sem mais exame a qualquer das várias formas de organização internacional que, segundo os comentários de certos jornais e declarações de alguns estadistas, se esboçam para depois da guerra. Com efeito, disse o Sr. Salazar, é preciso que o desejo de inaugurar uma cooperação internacional regular e fixa não nos leve ao extremo de diluir todas as pátrias nas grandes federações europeias, asiática etc., planejadas para o futuro.
Nestas declarações do governante português, nem tudo pode ser aprovado sem reservas. Assim, gostaríamos que o Sr. Salazar, quando falou da iminência do perigo comunista, também tivesse feito as necessárias referências ao perigo nazista. S. Ex.a foi ao menos imprudente. A própria estrutura das instituições a que preside presta-se facilmente à ideia de que ele simpatize com o “eixo”. Ficar-lhe-ia bem, portanto, uma declaração tão incisiva, tão categórica, tão iniludível, sobre o totalitarismo estatal da direita, que excluísse qualquer interpretação desfavorável de suas palavras. Estas declarações S. Ex.a não as fez. Não obstante, o “Legionário” considera suas observações a respeito da futura estruturação do mundo dignas de aplauso e estes aplausos ele os dá com alegria tanto maior quanto é evidente que tudo quanto nos vem de Portugal encontra em nosso coração de católicos e de brasileiros um eco particularmente grato.
* * *
As declarações da imprensa sobre o mundo de pós-guerra têm sido algum tanto confusas. É possível, pois, que muitos leitores não as tenham lido com cuidado, e que, assim, não tenham em mente o plano geral que em certos setores da opinião se esboça. Digamos, pois, a este respeito, algumas palavras.
O pensamento dominante de todos estes planos consiste em criar vastas federações de Estados formadas por povos de tradições raciais ou culturais, de interesses econômicos e geográficos afins. Cada uma destas federações formaria uma só entidade diplomática, ou seja, um só organismo comum dirigiria todas as relações do grupo com as demais. Teria também uma só moeda. Teria ainda forças militares federais e coletivas. Em suma, seria um grande supergoverno a enfeixar, conter e canalizar a soberania e as atividades dos governos federados.
Por sua vez, essas vastas federações – três ou quatro para o mundo inteiro – teriam um órgão federal que a todas uniria, e que seria uma nova “Liga