| MATÉRIA DE CAPA | (continuação)

fator de impopularidade e decadência. Esta ordem que assoma nos horizontes de hoje pactuando ab initio com o ídolo do dia, que é a mania do novo, e inscrevendo em seu frontispício o nome de Deus, sela-se a si própria com o ferrete do efêmero. Enquanto for nova, viverá. O que implica dizer que viverá muito pouco.

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Pensa de modo diverso a Santa Igreja de Deus. Das mãos do Papa [na época Pio XII], nunca partirão para o mundo moderno promessas chispeantes e rútilas de uma próxima idade de ouro, e seus lábios sacrossantos jamais se abrirão para lisonjear a idolatria do “novo”, prometendo ao mundo algo de inteiramente diverso do passado.

A Igreja começa por exigir a derrubada do ídolo. Ela o quer quebrado. Quer destruídos seus altares, feitas em pedaço suas imagens, atirados aos quatro ventos os instrumentos de seu culto. A Igreja não se incomoda com o “novo” nem com o “velho” tanto quanto com o “verdadeiro” e o “bom”. Enquanto não rompermos com a idolatria do “moderno”, do “novo”, não teremos criado em nós, nem em torno de nós, ambiente propício à ação da Igreja. Ela não nos promete uma “ordem nova”. Ela nos promete uma ordem verdadeira, uma ordem construída com respeito para com a essencial e invariável ordem da natureza, e toda impregnada de um princípio ordenador vital incomparável, que é o sobrenatural. É isso o que a Igreja nos promete. Nesta ordem, encontra-se tudo quando houve de justo, de grande, de belo, de verdadeiro no passado. Nela se encontra também a possibilidade de muito e muito fazer ainda em conformidade com as linhas essenciais deste passado. Do passado deverá sobreviver tudo quanto é imutável. Do presente, só pode sobreviver o que estiver em conformidade com as coisas definitivas que o passado nos legou. Em outros termos, tudo quanto a Igreja construiu de definitivo no passado se conservará. Os homens devem procurar construir mais coisas dentro da linha do definitivo, coisas que serão “novas” no melhor sentido da palavra e de tal maneira “novas”, que gozarão a eterna novidade que o definitivo tem aos olhos dos homens sensatos.

Tudo bem pesado, trata-se de reconduzir o homem às rotas gloriosas da civilização cristã católica que abandonou, e de o conservar, não fixo e estável no mesmo ponto, mas em marcha ascensional nessa estrada, em demanda de alturas sempre maiores, de uma ordem cada vez mais profundamente identificada com a natureza e retificada pelo sobrenatural, sem os miasmas de desregramento, de cupidez, de sensualidade, de incredulidade, que, tornando o homem um revoltado contra a ordem da natureza e os benefícios inestimáveis da graça, fazem dele um filho das trevas, um sombrio partidário do reino da anarquia e da ruína. As obras deste homem serão necessariamente obras de ruínas e de trevas. Não se espere dele outra coisa. Sua grandeza se medirá pela grandeza de seus crimes e de suas devastações. Sua glória se medirá pelo número de oprimidos que gemerem a seus pés. Esta sinistra contrafação da grandeza e da glória será a única que os seus semelhantes saberão ver e aplaudir. Com homens assim, as obras não podem durar, e as que durarem causam horror. (**)

Notas: (*)http://www.pliniocorreadeoliveira.info/LEG_430502_PROBLEMASINTERNACIONAIS.htm#.V4A2b9KU3IU (**)http://www.pliniocorreadeoliveira.info/LEG_430509_ReformemosoHomem.htm#.V4A96NKU3IU (***) Os negritos são nossos.
| VIDAS DE SANTOS |

São Bernardo de Claraval

Plinio Maria Solimeo

“Doutor Melífluo”, pregador de Cruzada, fundador de Claraval, sua ação se estendeu do claustro à Igreja universal, e depois a todo o mundo.

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Neste mês de agosto comemoramos tantos e tão grandes santos, que fica difícil a escolha de um para nossa coluna. Com efeito, no dia 1º. temos o notável Santo Afonso Maria de Ligório e, no dia seguinte, São Pedro Julião Eymard, fundador dos Sacramentinos. Logo depois, no dia 4, São Cura d’Ars e no dia 8, São Domingos de Gusmão, fundador dos dominicanos. No dia 20 festejamos o grande São Bernardo e no dia 21, o imortal Papa São Pio X. Logo em seguida, no dia 23, Santa Rosa de Lima, padroeira da América Latina, no dia 25, São Luís Rei de França, e por fim, no dia 28, o grande Padre e Doutor da Igreja, Santo Agostinho. Como já tratamos de todos esses santos em nossa coluna, voltamos hoje com novas informações sobre São Bernardo, fundador do mosteiro de Claraval, que comemorou no ano passado o nono aniversário de sua fundação, ocorrida no dia 25 de junho de 1115.

Bernardo e a reforma da Igreja

Um abade cisterciense, nosso contemporâneo, assim situa São Bernardo em sua época: “No primeiro quarto do século XII a Igreja vive uma grande renovação, que dura meio século: é a reforma gregoriana. Uma reforma eficaz, que restabelece a ordem na sociedade cristã do Ocidente, e põe remédio aos principais abusos. Os frutos são inimagináveis: entram em vigor as coleções de cânones, estabelece-se uma administração, e se restauram, adaptam e aperfeiçoam as instituições. [...] Bernardo tem a graça de compreender que a Igreja necessita de uma reforma, não tanto legislativa e jurídica, quanto espiritual; não de corte organizativo e político, mas essencialmente religioso. Neste nível tão elevado, ele desdobrará todas suas energias durante outro quarto de século, em [...] obras dos mais diversos gêneros, mas cujo denominador comum é promover, no maior número possível de cristãos, a renovação do homem interior: a união pes-

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