os atrativos, por vezes tão vivos, das coisas presentes, e nos leva, como aos santos, a enfrentar os mais rudes trabalhos e a nos alegrar das nossas provações! Como diz o Apóstolo, citando Isaías, lá veremos “coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Cor. 2,9).
Se o céu estrelado já é tão belo, quão mais belas serão as cercanias do trono de Deus! Se esta Terra já nos oferece tantos deleites, o que serão os deleites do Céu, em comparação com o qual a Terra parece um deserto? Mas os gozos do Céu não são meros prazeres sensíveis como os da Terra, porque mais do que um lugar de delícias, é um estado da alma que consiste na visão de Deus, na paz e no gozo do espírito.
De fato, nós gozamos no Céu sobretudo da visão direta de Deus, pois “hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face” (1 Cor. 13, 12) e, por isso, “seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como Ele é” (1 Jo 3,2).
Rejubilar-nos-emos também com o amor da amizade dos outros moradores do Céu, onde se realizará na sua plenitude a união de corações que Nosso Senhor pediu para a Igreja: “Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti” (Jo 17, 21).
E, por último, como já dissemos, gozaremos da isenção de todo mal: “Deus enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição” (id. 21,4); “Já não haverá noite, nem se precisará da luz de lâmpada ou do sol, porque o Senhor Deus a iluminará, e hão de reinar pelos séculos dos séculos” (Ap 22, 5).
Pelo contrário, o Inferno é também um lugar e um estado da alma. É o lugar dos eternos tormentos, que Nosso Senhor caracteriza como “as trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 8, 12), aquela geena feita de “fogo inextinguível, onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga” (Mc 9, 43-44). Nesse lugar, os condenados padecerão principalmente da privação eterna da visão de Deus (também chamada pena de dano). Além do mais, passarão o tempo todo na companhia dos demônios e dos outros precitos, aborrecendo-se mutuamente e cometendo entre si todo tipo de crueldades. E sofrerão, finalmente, o tormento do fogo, como se depreende dos ensinamentos de Nosso Senhor: “Sou cruelmente atormentado nestas chamas”, queixa-se, por exemplo, o homem rico da parábola (Lc 16, 24).
Se pensarmos que por um só pecado mortal o homem se afasta inteiramente de Deus e, se morrer privado de sua graça, é como o sarmento seco que é jogado ao fogo, somos loucos se não nos arrependermos imediatamente, não pedirmos a ajuda de Nossa Senhora, e não formos nos confessar para tirar benefício da infinita Misericórdia que está à nossa espera para se reconciliar conosco.
E se considerarmos a imensidade de pecados que são cometidos a cada minuto em nossa sociedade neopagã, e quantas almas vão para o Inferno por causa da atual corrupção moral, não pouparemos esforços para atender aos pedidos formulados por Nossa Senhora em Fátima, particularmente a devoção reparadora dos cinco Primeiros Sábados.
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Para concluir, apenas uma precisão: quando dissemos acima que há somente dois destinos eternos, a felicidade do Céu ou os tormentos do Inferno, estamos nos referindo a todos os batizados e aos adultos não batizados. Pois os teólogos tradicionais formularam a hipótese teológica do “limbo das crianças”, ou seja, uma morada de plena felicidade natural para as crianças e as pessoas desprovidas de razão (incapazes, portanto, de pecar) que morreram com a mancha do pecado original, as quais, por não terem sido batizadas, não podem gozar da visão beatífica.
Esta hipótese, que tem prevalecido nos manuais desde a Idade Média, entretanto não exclui que Deus possa ter disposto outros meios, não comunicados aos homens, para salvar até mesmo as crianças que morrem sem o batismo. Por exemplo, abrindo para elas uma oportunidade de escolher entre o bem e o mal.
Representação do Juízo Final na fachada da catedral de Reims (França)