por causa do apego às riquezas, Ele não afirmou ser impossível. Pois o bom uso dos bens terrenos, aliado a uma vida de piedade, pode também levar à santidade. Por isso o Divino Mestre o escolheu, depois de ter chamado alguns modestos pescadores.
Mateus então, para comemorar o seu chamado para o Colégio Apostólico, “ofereceu-lhe um grande banquete”. Note-se a palavra grande! Dele participaram, além do Divino Mestre e seus primeiros discípulos, “muitos publicanos e pecadores” (Mt 9, 10).9
“Cristo quis, como em seguida declarará aos fariseus, oferecer ocasião àqueles homens, desprezados por todos e espiritualmente abandonados, de conhecer a doutrina de seu novo reino, que vinha pregando, no qual todos, sem exceção, tinham entrada. ‘Veio Cristo ao banquete — explica São João Crisóstomo —, veio a Vida ao convite, para fazer viver consigo aos que estavam condenados à morte’”.10
Embora o Evangelho também não registre, é possível que Mateus, fiel ao conselho de perfeição dado por Nosso Senhor ao moço rico, tenha antes de O seguir vendido todos seus bens e dado o produto aos pobres.
Depois desta passagem do Evangelho, São Mateus desaparece do cenário bíblico, só sendo mencionado na lista dos Apóstolos.
Mas é certo que, como discípulo e Apóstolo, ele permaneceu junto ao Divino Mestre durante os três anos de sua vida pública, desfrutando de sua intimidade, sendo testemunha de seus milagres e ensinamentos — que depois narrou em seu Evangelho. Como também de sua ressurreição e ascensão aos Céus. Junto a Nossa Senhora e aos outros Apóstolos, recebeu o Espírito Santo por ocasião de Pentecostes, pregou em Jerusalém e depois partiu para evangelizar o mundo.
Sobre os países evangelizados por São Mateus há divergências. “Santo Irineu (+202) nos diz que ele pregou o Evangelho entre os hebreus. São Clemente de Alexandria acrescenta que ele fez isso durante quinze anos, e Eusébio afirma que, antes de ir a outros países, ele escreveu seu Evangelho em sua língua materna. Antigos escritores [...] quase todos mencionam a Etiópia, ao sul do Mar Cáspio (não a Etiópia na África), e alguns a Pérsia e o reino dos Partas, Macedônia e Síria” como lugares evangelizados por ele”.11
Segundo a tradição corrente, São Mateus morreu mártir, provavelmente na Etiópia, apesar de São Clemente de Alexandria, baseado no escritor Heracleon, afirmar que ele teve morte natural. Os vários relatos existentes sobre seu martírio são considerados apócrifos e carentes de valor histórico. Outros escritos atribuídos ao Apóstolo, além do seu Evangelho, são também considerados apócrifos.
D. Guéranger segue a tradição de que São Mateus “morreu na Etiópia, de onde seu corpo foi levado para Salerno; a igreja catedral dessa cidade lhe está dedicada. Clemente de Alexandria diz que São Mateus era de grandíssima austeridade de vida e a tradição conta que morreu mártir por ter defendido os direitos da virgindade que se oferece a Deus”.12
Pouco antes da Paixão, Nosso Senhor Jesus Cristo disse aos Apóstolos que “o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará tudo, e vos trará à memória tudo quanto eu vos disse” (Jo 14, 26). Foi isso que possibilitou aos Evangelistas escreverem seus Evangelhos.
Santo Irineu, Bispo de Lyon e Padre da Igreja (início do século II), afirma que São Mateus escreveu seu Evangelho para os judeus, e Orígenes (185-254) especifica que, por isso, foi escrito em língua hebraica. Pelo que os exegetas salientam seu caráter judaico, que é plenamente confirmado pelo próprio Evangelho.
Quanto à data em que foi escrito, também há muita divergência. Santo Irineu afirma que “Mateus escreveu o seu evangelho entre os hebreus, enquanto Pedro e Paulo pregavam em Roma e fundavam a Igreja”. “Foi este o tempo em que as paixões nacionalistas do judaísmo se foram inflamando cada vez mais, em que a pregação de um Messias crucificado devia parecer uma traição da causa santa do povo de Deus. Foi ‘a hora em que julgavam prestar um serviço a Deus’ matando os apóstolos (Jo 16,2). Era o tempo em que, fugindo de cidade em cidade, não podiam terminar [‘as cidades de Israel’] até que viesse o Filho do Homem (Mt 10,23) para castigo dos judeus que se obstinavam na incredulidade. Não havia mais cabimento continuar a pregação na Palestina. Foi então que São Mateus, como os demais apóstolos, deve ter tomado a resolução de ‘sacudir o pó dos pés’ (Mt 10, 14) e dirigir-se definitivamente aos gentios. Para este momento histórico, foi escrito o primeiro Evangelho”.13
“Na Igreja antiga ‘o evangelho segundo Mateus’ obteve a maior autoridade entre todos. Foi ele o mais usado, o mais citado e comentado, e foi sempre colocado em primeiro lugar. Ele é chamado o católico, porque traz os textos mais importantes sobre o primado de Pedro (16, 17-19), sobre a jurisdição na Igreja (18, 18) e a missão universal de evangelização de todas as gentes (28, 19-20). [...] São Mateus nos propõe um vastíssimo material, mas numa concisão que se restringe sempre ao essencial para provar a sua tese da emancipação da Igreja da sinagoga”.14
A Santa Igreja celebra a festividade de São Mateus no dia 21 de setembro.