| MATÉRIA DE CAPA |(continuação)

que a Casa de Loreto é a mesma de Nazaré”, observou o frade historiador.

Maquete da casa de Nazaré: as três paredes foram para Loreto; a gruta e os alicerces ficaram.

Investigação do arqueólogo Nerio Alfieri

“Naturalmente — prossegue o Frei Giuseppe Santarelli — as investigações mais importantes foram executadas nos tempos modernos. Sobretudo as realizadas em Nazaré entre 1955 e 1960, supervisionadas pelo padre Bellarmino Bagatti, um dos mais ilustres arqueólogos do século XX, e as realizadas em Loreto pelo arquiteto Nerio Alfieri, professor de arqueologia na Universidade de Bolonha.

“As investigações do Prof. Alfieri demonstraram que esta construção está cheia de anomalias absurdas, em claro contraste com as construções da região e também com as regras urbanísticas existentes no século XIII.

“A casa não tem bases próprias, é constituída somente por três paredes, as quais, até uma altura de quase três metros, estão construídas com pedra, quando é sabido que na região não existem pedreiras e que todas as construções daquela época eram feitas com tijolos.

“É anômalo que a única porta, a original, se encontre no centro da parede larga e não da pequena, como em todas as igrejas e capelas daquele tempo; e que esteja colocada ao norte, exposta a fortes e frequentes intempéries, contra todo costume de construção local.

“É anômalo também que a única janela esteja colocada a oeste e, portanto, aberta a uma pequena iluminação. Prática de construção também não executada na época.

“Todavia, se compararmos com os resultados das investigações feitas em Nazaré, todas essas anomalias desaparecem. A Casa de Loreto não tem bases porque as bases estão em Nazaré, onde antes se encontrava. Possui somente três paredes porque estava apoiada em uma gruta escavada na rocha, que abrigava um único bloco habitacional”.

Arquiteto Nanni Monelli: concordância das medidas

Um estudo extraordinário, realizado em 1982 pelo arquiteto Nanni Monelli, demonstrou que as medidas da casinha de Loreto e também a espessura de suas três paredes correspondem perfeitamente às medidas das bases que se encontram em Nazaré. As pedras e paredes são tipicamente palestinas, como o são também os tipos de trabalho aplicados na pedra.

“Nanni Monelli aprofundou a investigação das pedras. Chegou à conclusão de que estão trabalhadas com uma técnica específica desses lugares palestinos, própria da cultura nabatea”, sublinha o Pe. Santarelli.

Os graffitti

“Eu — acrescenta o Pe. Santarelli — realizei depois um estudo específico sobre os grafitti, legíveis sobre diversas pedras da Santa Casa de Loreto.

“Identifiquei por volta de 50 inscrições próprias dos judeu-cristãos da Terra Santa e semelhantes às encontradas em Nazaré. Também decifrei uma inscrição em caracteres gregos sincopados, que traduzida diz: ‘Oh Jesus, filho de Deus’ — frase inicial de uma oração que se encontra escrita em uma gruta anexa à casa de Maria em Nazaré.

“Estes e muitos outros detalhes levam à mesma conclusão: a Casa de Loreto é precisamente aquela que até 1291 se encontrava na Palestina e que era venerada havia quase 1.300 anos como a Casa da Virgem. Depois de anos de estudos, análises e investigações arqueológicas realizadas com os meios mais sofisticados, somos capazes de afirmar categoricamente que esta casa é exatamente aquela que até o final do século XIII era reverenciada em Nazaré como a Casa da Virgem”, concluiu.

Desmentida a intervenção humana

Aventaram-se hipóteses de uma trasladação operada por homens. Além de carecerem de qualquer documentação, elas se revelaram insustentáveis do ponto de vista científico. Forjou-se até a novela de que uma fantasiosa família principesca de Epiro, chamada “Angeli”, teria desmontado a Casa e transportado tijolo por tijolo, a pedido dos cruzados. Tal família teria depois reconstruído a casa em Loreto. Nas condições de transporte do século XIII, tal operação teria sido uma façanha mais milagrosa do que a trasladação angélica.

Página seguinte