Acresce que, se a Casa foi desmontada e restaurada em diversos locais por mão humana, não se entende como teria sido possível conservar as exatas proporções geométricas da Casa de Nazaré, cujos fundamentos hoje coincidem perfeitamente com os muros de Loreto. Tampouco teria sido possível que ninguém percebesse que a Casa estava sendo desmontada e depois reconstruída, mais ainda no breve lapso de uma noite, no centro do santuário de Nazaré e depois na Itália.
Todavia, mais inexplicável é o fato de a Santa Casa ter sido finalmente depositada cortando uma velha estrada de terra. A Prefeitura de Recanati havia proibido já naquela época construir casas nas estradas públicas e ordenou demolir todos os prédios que fossem feitos em violação à norma.
Outra grande dificuldade provém da ausência de meios naquela época para transportar uma casa inteira, ainda que desmontada tijolo por tijolo e pedra por pedra. Tratar-se-ia de algumas toneladas. O transporte por terra teria sido impossível, pela demora e pela quantidade de charretes, animais e homens necessários. Por mar, embora mais factível, teria sido também demorado e sujeito a perdas nas tempestades. Mais complicado ainda seria cortar as paredes em partes e levá-las sem desmanchar numa viagem de 3.000 quilômetros e depois recolar sem deixar sinais dos pontos de junção. Esses fatores, explicou o Prof. Nicolini, postulam a impossibilidade de um transporte com os meios técnicos da época.
Também é errada e falsa a interpretação do documento em que se baseia a teoria descartada. O Prof. Andrea Nicolotti, da Universidade de Estudos Históricos de Turim, após aprofundado exame, concluiu ser uma “falsidade histórica” a interpretação do “Chartularium Culisanense”, da qual se pretende tirar a ideia de um transporte por obra humana.
Na única linha desse documento que fala da Santa Casa está escrito textualmente: “As Santas Pedras tiradas da Santa Casa de Nossa Senhora a Virgem Madre de Deus”. Fica evidente que o documento não fala de toda uma casa, mas só de algumas pedras de uma casa cuja localização não é mencionada. Por isso é razoável concluir que dito documento — se for verdadeiro — nem se refere à Casa de Nazaré.
Da longa e detalhada demonstração do Prof. Nicolini se deduz como muito mais razoável que a traslação angélica é resultante de uma obra maravilhosa de Deus, para Quem nada é impossível e que tem operado milagres bem maiores do que esse.
Em um dia 11 de setembro aconteceu aquela denominada “mãe de todas as batalhas”. Não foi em 2001, ano do atentado contra as Torres Gêmeas, nos EUA, mas em 1683, ano da vitória das armas católicas contra o imenso exército muçulmano de Maomé IV comandado pelo Grande Vizir Kara Mustafà. Viena era a porta de entrada para a invasão maometana da Europa. E à testa dos exércitos católicos que a defendiam, destacava-se o Rei da Polônia, João Sobieski.
No dia 12 de setembro foi encontrado, sob as ruínas provocadas pelos canhões dos turcos, um quadro que representava Nossa Senhora de Loreto. A imagem tinha a seu lado um anjo que sustentava uma coroa com uma mão e com a outra, junto com um segundo anjo, segurava uma inscrição em latim: “Com esta imagem de Maria serás vencedor, ó João [Sobieski]; com esta imagem de Maria vencerás, ó João”.
Tratava-se da imagem levada havia mais de dois séculos por São João de Capistrano na triunfante cruzada contra os turcos na Hungria e em Belgrado. O capelão de todas as forças católicas, o Bem-aventurado capuchinho Marco d’Aviano, vendo a desigualdade de forças em favor do Islã, fez um voto a Nossa Senhora de Loreto, cuja Casa havia deixado Nazaré, ameaçada pelo avanço dos adeptos do Corão.
Após vencer pelas armas, o rei polonês João Sobieski entrou vitorioso em Viena e desejou ter o Bem-aventurado Marco d’Aviano a seu lado exibindo dita imagem.9 O cortejo triunfal dirigiu-se à igreja de Nossa Senhora de Loreto, com Sobieski levando como despojo o grande estandarte de Maomé IV e montando o cavalo do Grande Vizir. Ele assistiu à Missa ajoelhado e, durante o sermão, o beato capuchinho aplicou a ele o texto evangélico: “Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João” (S. João, 1,6). Muitos haviam morrido no combate e a igreja não apresentava cantores. “Não importa”, disse Sobieski; e com voz potente entoou o “Te Deum” ao pé do altar-mor da igreja da dona da Santa Casa.
Depois, o rei polonês levou consigo a imagem, esmagando o restante do exército muçulmano. Finalmente, entronizou-a em sua capela pessoal, onde mandou celebrar Missa e cantar a Ladainha Lauretana diariamente. Na Capela Polonesa da Basílica da Santa Casa em Loreto há um afresco representando o vitorioso rei polonês e o Bem-aventurado Marco d’Aviano com a referida imagem.
Sobieski enviou o estandarte de Maomé IV de presente ao Papa Bem-aventurado Inocêncio XI, o qual, em preito de homenagem, ofereceu-o como ex-voto à Basílica de Nossa Senhora em Loreto. O estandarte foi transformado em pálio e ali conservado na Sala do Tesouro. O santo Pontífice mandou imprimir no “Agnus Dei” do primeiro e do sétimo ano de seu pontificado: “Santa Maria de Loreto, rogai per nós”.
A História se repete. Hoje, mais do que na Viena de 1683, com os olhos postos na impressionante mensagem de Fátima, é premente implorarmos com redobrado fervor: “Santa Maria de Loreto, rogai por nós”.
Pintura na Capela Polonesa do Santuário de Loreto (Itália). O triunfo da Cristandade sobre o invasor muçulmano durante a batalha de Viena (12 de setembro de 1683) se deveu a Nossa Senhora sob a invocação de Loreto, conforme atestam documentos da época. Tal embate foi conduzido pelo heroico e devoto rei polonês João Sobieski. À esquerda do quadro vê-se o Bem-aventurado capuchinho Marco d’Aviano conduzindo triunfalmente uma pintura representando aquela invocação de Maria Santíssima.