CAPA
Atual crise política: conluio espúrio entre a esquerda católica, a esquerda política e o macrocapitalismo de cunho socialista
Comunicado do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
A corrupção generalizada tem como causa remota a crise moral de nossa sociedade; mas sua causa próxima foi o aparelhamento do Estado brasileiro e da economia nacional com vistas à execução de uma agenda política.
Há poucos dias os jornais informaram que o País voltara a crescer e a inflação a cair. O Governo Temer tinha completado um ano com alguns importantes avanços, sobretudo no que diz respeito ao desaparelhamento1 de diversos setores do Estado antes dominados pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Como um raio em céu azul, no fim do dia 17 de maio, a imprensa brasileira publicou trechos da delação premiada dos donos da JBS, a maior companhia de carnes do mundo e uma das maiores empresas do Brasil.
Delação da JBS
A JBS, antiga Friboi, atingiu o faturamento de 116 bilhões de reais em 2014. Naquele ano, havia superado até mesmo a Vale do Rio Doce e a Petrobrás. O pequeno açougue de Anápolis, no interior de Goiás, fundado em 1953, tinha agora mais de 200 mil empregados espalhados em vários países do mundo2.
Segundo a delação premiada firmada com a Procuradoria Geral da República, a JBS financiou campanhas, de forma direta ou indireta, de 1.829 candidatos de 28 partidos, nas eleições de 2014. Com isso, admitem os delatores, a empresa teria formado "um reservatório de boa vontade" junto aos agentes públicos corrompidos3.
O jornal espanhol "El País", em sua edição em português, lembra que essa delação é uma segunda bomba atômica na política brasileira. Depois da delação do Fim do Mundo, como era conhecida a delação da Odebrecht, essa jogou todos os políticos "na fogueira, num lance sem precedentes na história brasileira"4.
Não cabe aqui entrar na análise das acusações, cuja investigação deve ser realizada pelos órgãos competentes, mas sim analisar as causas, remotas e próximas, do que está se passando no Brasil.
A causa remota é obviamente a crise moral, pelo abandono dos Dez Mandamentos da Lei de Deus na vida pública e privada da Nação. Na medida em que o Brasil se afasta dos princípios cristãos e da prática moral que deles se deduz, é inevitável que a corrupção se generalize em todos os setores e a todos os níveis da sociedade, particularmente em relação ao erário público.
Porém, a causa mais próxima — e, em certo sentido, também a mais superficial — pode ser encontrada ao se responder à seguinte pergunta: como um pequeno açougue, fundado em 1953 na cidade de Anápolis, interior de Goiás, se tornou a maior empresa de carnes do mundo?
As campeãs nacionais
Durante o Governo Lula (2003-2010), o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) escolheu as chamadas "campeãs nacionais", empresas que seriam beneficiadas pelo financiamento público. No caso da JBS, não se tratou simplesmente de um empréstimo a juros, mas de uma parceria, na qual o banco público chegou a ter 31% do capital da empresa privada5.
O valor dessa parceria? Segundo a revista "Piauí", que fez uma longa matéria sobre a JBS, o banco público nela investiu mais de 10 bilhões de reais entre 2007 e 2009. A revista transcreve a resposta de Wesley Baptista, um dos donos da empresa, às críticas que se faziam ao grupo pela expressiva participação do BNDES (e, posteriormente, também da Caixa Econômica Federal): "O BNDES tem participação na JBS como tem em mais de 500 empresas"6.
Não foi apenas através dos bancos públicos que o Estado brasileiro foi adquirindo participação nas empresas privadas, mas também através dos bilionários fundos de pensão das empresas estatais.
Isso se dá com várias empresas, entre as quais, por exemplo, a Vale do Rio Doce. Entre os maiores acionistas desta última, encontram-se, por exemplo, a FUNCEF, o PREVI, a PETROS e a Fundação CESP, além do BNDES7, pelo que, em 2015, o Palácio do Planalto (à época ainda nas mãos do PT) detinha 52,5% de controle na Vale do Rio Doce, segundo reportagem do "Diário do Poder"8. Isso lhe permitia ditar o rumo da empresa, como fez, em 2011, ao substituir seu então presidente Roger Agnelli por um que contava com o apoio da presidente Dilma Rousseff.
O caso da Vale do Rio Doce ilustra como o Estado brasileiro, não sendo dono das empresas privadas, tornou-se, entretanto, um sócio importante em muitas delas, com grande poder de influência nas deliberações societárias. Através desse mecanismo de compra de ações por parte do Poder Público, essas empresas podem ser usadas como braços de um projeto de desenvolvimento estatista, com roupagem privada.
Uma nova Nomenklatura?
Algo semelhante ocorreu nos antigos países comunistas. Quando a Cortina de Ferro caiu, antigos funcionários da Nomenklatura soviética9, membros do Partido Comunista, adquiriram as ações das antigas empresas estatais, agora privadas. Os novos "capitalistas" nasciam das entranhas do Estado comunista.
(continua)
LEGENDA: Segundo a revista "Piauí", o BNDES investiu na JBS mais de 10 bilhões de reais entre 2007 e 2009