EXCERTOS
Diante da caótica situação nacional
Plinio Corrêa de Oliveira
Agonizam nossas instituições, desprestigiam-se os princípios que até ontem eram convicção política unânime (boa ou má, não vem a pelo discuti-lo) dos brasileiros, e decaem irremediavelmente no conceito público quase todos os homens da geração passada, que o Brasil vinha, se não admirando, ao menos tolerando na administração do País.
Artigo redigido há 80 anos*, parece concebido para os dias atuais, em que o Brasil se afunda no caos devido à crise política e à incúria daqueles que deveriam elevá-lo aos altos patamares da grande vocação a que o destina a Divina Providência.
* Plinio Corrêa de Oliveira, “Legionário”, nº 246, 30 de maio de 1937. A íntegra deste artigo encontra-se disponível no link: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/LEG%20370530_Asolu%C3%A7%C3%A3oMariana.htm#.WSohe5LDHIU
Não são em geral [os políticos genericamente falando] senão inofensivas marionetes que oscilam do centro para a direita ou para a esquerda, não ao sabor de convicções, que lhes faltam, mas do impulso, desenvolvendo gradualmente um jogo que pode parecer moderno, mas que na realidade é muito velho.
Que atitude vem tomando o público em matéria de sucessão presidencial? A dizer com franqueza, a primeira impressão que se nota, em todos os brasileiros imparciais, é de asco. Não asco pela pessoa dos candidatos, a quem não queremos negar qualidades. Mas de asco profundo pela instabilidade das atitudes políticas, pela incoerência flagrante e despudorada entre atitudes da maior parte de seus sequazes, hoje, ontem e anteontem. A bem dizer, serão pouquíssimas as correntes políticas que não se encontram, agora, em uma situação que condenariam formalmente há dois ou três anos. [...]
Absolutamente não pareceria possível a ninguém que os políticos brasileiros — sobre os quais já não havia, entretanto, grandes ilusões — dessem a seus ressentimentos e a suas simpatias a inconsistência, a mutabilidade, a futilidade de brigas de meninas de colégio; que fossem tão pequeninos na vaidade e tão imensos na ambição, tão corajosos na ganância e tão tímidos no cumprimento do dever.
Esta nota dolorosa não é privativa de uma das correntes políticas. Encontra-se, pelo contrário, em quase todas. A tal ponto que um vespertino desta capital já chegou a proclamar que, realmente, a corrente política que ele defende é incoerente, porque a política brasileira é feita de incoerências, mas que a incoerência de seus adversários não é menor. No que tem toda a razão.
Qual é o resultado de tudo isto? Não é difícil percebê-lo: agonizam nossas instituições, desprestigiam-se os princípios que até ontem eram convicção política unânime (boa ou má, não vem a pelo discuti-lo) dos brasileiros, e decaem irremediavelmente no conceito público quase todos os homens da geração passada, que o Brasil vinha, se não admirando, ao menos tolerando na administração do País.
Como consequência deste formidável desgaste de homens, de instituições e de ideias, uma grande transformação se prepara. O Brasil aí está, como matéria amorfa, para ser plasmado pela corrente de homens que tenha maior sucesso na tarefa de conquistar o poder em nome de ideias novas.
Significa isto, em outros termos, que o Brasil está no momento em que deverá tomar nova forma. Se esta forma obedecer à concepção da esquerda, o Brasil será não mais o Reino de Nossa Senhora Aparecida. Se a forma for plasmada por mãos direitinhas, erguer-se-á ante nós o receio do estado totalitário, com o qual a Igreja é incompatível.
Pobre Brasil! Navegando por um mar revolto, parece que está fadado a naufragar [...].