POR QUE NOSSA SENHORA CHORA?
Suicídios na juventude. Por quê?
Paulo Henrique Américo de Araújo
No vocabulário de expressões modernas surgiu mais uma novidade: o jogo da “Baleia Azul”. Ao contrário do que seu nome sugere, não há inocência por detrás de tal brincadeira. Ela pode até levar um jovem ao suicídio, caso a vítima aceite os desafios propostos por um desconhecido online, controlador do jogo.
No mês de maio último, a polícia encontrou alguns adolescentes à beira de uma rodovia no Distrito Federal1. Chorando de desespero, eles procuravam cumprir a última etapa da “baleia azul”: atirar-se na frente de um ônibus em alta velocidade!
Em outros casos, não houve tempo de salvar a vítima.
A onda do macabro jogo é provavelmente passageira e parece que vai saindo “de moda”. Mas um assunto de maior vulto relaciona-se diretamente com ele. Por que adolescentes suicidam-se cada vez mais?
Calculando a dimensão do problema
Segundo recente artigo da BBC Brasil2, um estudo baseado em dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, revela dados preocupantes. A primeira informação: considerando toda a população brasileira, entre 1980 e 2014, houve um aumento de 60% na taxa de suicídios.
Quanto aos dados relativos à população jovem, o mesmo artigo reproduz o que diz o estudo: “Em 1980, a taxa de suicídios na faixa etária de 15 a 29 anos era de 4,4 por 100 mil habitantes; chegou a 4,1 em 1990 e a 4,5 em 2000”. Já no período entre 2002 e 2014, a taxa subiu de 5,1 para 5,6 por 100 mil habitantes. O estudo conclui: “Assim, entre 1980 a 2014, houve um crescimento de 27,2%” na taxa de suicídios, considerando a mesma faixa de idade.
Para se ter uma ideia mais concreta do que tais números representam, a mesma pesquisa mostra que em 2014, houve, somente no Brasil, 2.898 suicídios de jovens de 15 a 29 anos.
Insisto, pois a questão se impõe: por que tantos jovens acabam com a própria vida?
É importante fazer notar, antes de tudo, que o artigo citado tenta fornecer algumas respostas à pergunta acima, usando declarações de diversos sociólogos e psicólogos. Segundo esses especialistas, “o problema é normalmente associado a fatores como depressão, abuso de drogas e álcool, além das chamadas questões interpessoais, violência sexual, abusos, violência doméstica e bullying”.
De fato, podemos encontrar tais causas por detrás dos suicídios. Contudo, o que impele um jovem a usar drogas, por exemplo, ou o que ocasiona sua depressão? Qual é a raiz da violência doméstica?
A falta da noção do sofrimento na vida
O mais fundo do problema reside, sem dúvida, na decadência moral generalizada do mundo contemporâneo. Essa decadência afeta diretamente a constituição da família. Se a família se desfaz, é inevitável a propensão do jovem para as drogas e a violência, de um lado; e sua menor capacidade, por outro lado, de suportar as dificuldades quotidianas, cujo desfecho pode ser a depressão.
Há mais um fator, ignorado pelo artigo da BBC: o mundo contemporâneo oferece sem cessar múltiplos divertimentos e prazeres. Sendo a juventude o grupo que mais deveria se “beneficiar” deles, a lógica conclui que, quanto mais jovem, maior o desejo de aproveitar a vida e, portanto, mais afastada a hipótese de suicídio.
Contudo, não é o que ocorre na prática. E aqui fica desmascarada uma grande ilusão de nossos dias: quanto mais gozo da vida, mais felicidade. Se assim fosse, deveria haver menos suicídios, sobretudo entre os jovens.
Volto ao jogo da “Baleia Azul”. Supostamente, jovens conectados à internet têm diante de si possibilidades ilimitadas de entretenimento. Diversões fáceis e constantes, sempre mais almejadas. No banquete frenético de diversões aparece outra: um jogo de desafios cada vez mais ousados. O último deles termina em suicídio.
Assim, a saturação dos prazeres leva à frustração, a qual, por sua vez, provoca a busca intensa de novidades
(continua)
Legenda:
- O jogo da “Baleia Azul”: desafios cada vez mais ousados, sendo o último o suicídio!