CARTA DO DIRETOR
Caro leitor,
Tema de suma importância para os presentes dias é exposto na matéria de capa da presente edição. O termo com que ele se define, desconstrução, como também as respectivas ideias errôneas, estão sendo amplamente difundidos pela mídia, e consequentemente os valores religiosos, verdades, instituições, costumes estão sendo “desconstruídos”. Esse processo de desconstrução se insere num processo multissecular de desagregação, bem descrito na obra Revolução e Contra-Revolução, do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.
A partir do fim do século XIX, desenvolveu-se uma escola filosófica segundo a qual o mais importante do ser humano não seria sua essência — isto é, sua unidade, verdade, bondade e beleza — mas sua existência. E essa corrente existencialista vem produzindo um paulatino minguamento da importância atribuída até então às qualidades objetivas do ser, substituídas por uma crescente valorização das experiências individuais, sem vínculos com a Lei natural e o bem comum.
Nas décadas 1950-60, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir — marxistas, promotores de diversos desvios morais, inclusive a poligamia — foram como que “profetas” do existencialismo, cujos fatores de demolição, desagregação, destruição vêm atingindo especialmente a família, alvo preferencial dessa desconstrução. Interpretações contraditórias vêm sendo dadas por várias Conferências Episcopais à exortação apostólica Amoris laetitia, gerando lamentável confusão entre as uniões adulterinas e o Sacramento do matrimônio, uma obra de desconstrução que provoca dúvidas e insegurança doutrinária entre os fiéis.
A partir do momento em que a célula básica da sociedade deixa de cumprir com seus fins específicos, multiplicam-se os flagelos sociais, como queda populacional, delinquência juvenil, vício das drogas — desastrosas consequências desse processo, que vem debilitando a sociedade no mundo “pós-moderno”.
O artigo acentua, entretanto, que há uma luz nesse túnel de confusão e inversão de valores. A Cristandade celebrou no ano passado o centenário das aparições de Fátima, e lembramos a propósito a necessidade de empreendermos valorosa luta contra essa desconstrução, confiando sempre em Nossa Senhora, que prometeu em Fátima a vitória da Cristandade.
Desejo aos diletos leitores profícua leitura dessa importante e grave matéria.
Em Jesus e Maria,
Paulo Corrêa de Brito Filho
Diretor
PÁGINA MARIANA
Toda confiança em Nossa Senhora, mesmo quando tudo parecer perdido
Luís Dufaur
Há 160 anos, a família de Santa Bernadette vivia situação desesperadora, quando ocorreu a miraculosa aparição na Gruta de Lourdes
Em 11 de fevereiro de 1858, a família de Santa Bernadette Soubirous enfrentava mais uma jornada de penúrias humilhantes na vida quotidiana. A família fora proprietária de moinho de trigo, que lhe conferia projeção social e econômica, mas havia caído na miséria, tendo perdido o moinho e o lar. Tinha que viver num cachot (enxovia, quarto insalubre), numa parte de delegacia abandonada que ainda hoje se pode visitar [foto].
No tugúrio não havia o que comer, nem lenha para aquecimento naquele inverno, e Francisco Soubirous saiu cedo à procura de algum trabalho. Após muito tentar, encontrou um serviço humilhante para quem fora dono de moinho: carregar lixo hospitalar do posto de saúde de Lourdes e queimá-lo fora da cidade, numa gruta chamada Massabielle, onde por vezes se guardavam animais. Com os vinte sous (tostões) que ganhou, sua esposa Louise preparou uma sopa para o almoço familiar.
Enquanto Francisco estava fora, Louise ouviu gritos da vizinha, a Sra. Croisine Bouhort, que a chamava desesperadamente, pois agonizava mais uma vez seu filhinho Justin, que nascera raquítico. A paciência e tato de Louise havia impedido o desenlace em mais de uma oportunidade, mas a família já perdera a esperança de salvá-lo. Naquele dia de privações, Louise fez novamente o prodígio de manter em vida a criancinha doente.
Dias depois, quando já se haviam divulgado as aparições de Nossa Senhora, Croisine Bouhort se encontrou novamente na iminência da morte do filho. Tocada pela graça, correu com a criança agonizante e a imergiu na fria fonte da gruta de Lourdes, enquanto todos tentavam dissuadi-la. Mas ela estava certa, quando intuiu a possibilidade do milagre, e Justin foi um dos primeiros miraculados de Lourdes. No dia 8 de dezembro de 1933, com 77 anos de idade, o próprio Justin — vigoroso horticultor da cidade francesa de Pau — assistiu na Praça de São Pedro, em Roma, à canonização de Santa Bernadette pelo Papa Pio XI.
Quantas e quantas vezes consideramos difícil o dia que estamos vivendo! Tudo se passa de maneira