AMBIENTES – COSTUMES – CIVILIZAÇÕES
Bécassine – Verdadeiros tratadinhos de sociologia viva
Plinio Corrêa de Oliveira
(Excertos da conferência proferida em 14 de maio de 1980. Sem revisão do autor.)
Sempre considerei um verdadeiro sociólogo o artista Joseph Pinchon (1871-1953), autor dos desenhos dos livros de Bécassine, personagem da literatura infantil da época.
Camponesa da Bretanha, Bécassine era filha do casal Labournez. Viviam em Clocher-les-Bécasses, cidadezinha de nome encantador que existia em função do castelo de Monsieur e Madame de Grand-Air, os marqueses da região.
Comparadas com as roupas e os modos de ser no meu tempo de menino [início do século XX], as ilustrações mostram características do ambiente social equivalente em São Paulo, consideravelmente afrancesado.
Os livros de Bécassine são verdadeiros tratadinhos de sociologia. Uma cena característica, anterior à Primeira Guerra Mundial, mostra o batizado na família de Bécassine — uma festa de camponeses, para a qual a marquesa foi convidada — onde se destacam três pessoas: a marquesa, o cocheiro e um camponês.
Madame de Grand-Air aparenta uns trinta anos, com algo ainda de moça e algo de senhora. O modo como ela ergue os braços é sumamente distinto. O braço sustentando a sombrinha é tão leve, que dir-se-ia não estar sujeito à ação da gravidade. Com o outro braço ela saúda Monsieur Labournez de modo afável.
O pudor do traje é notável. Está toda coberta, os braços revestidos de grandes luvas de pelica branca que chegam até a manga. Demonstra grande segurança, sentada com o porte alto e o olhar benévolo para Monsieur Labournez. Ela o olha muito de cima, sabe marcar a distância, mas também sabe passar por cima dessa distância. De ponta a ponta, é como um arco-íris de benevolência e simpatia.
A importância dela é realçada pelo cocheiro. Com jeito teso e a corpulência de um banqueiro ufano de sua importância, ele guia o coche e sua fisionomia parece dizer: Abram caminho para a Marquesa de Grand-Air. Essa atitude do cocheiro contrasta com a afabilidade da marquesa. Fica bem uma senhora desse nível fazer-se preceder por um homem capaz de defendê-la, garantindo a segurança e dando-lhe a possibilidade de ser muito graciosa, acolhedora e leve.