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(continuação)

se opunha ao estabelecimento de uma festa especial ao Santíssimo Sacramento".1 Ou seja, não havia dificuldades da parte da teologia ou da doutrina da Igreja.

Roberto de Tourotte, Bispo de Liège, foi também consultado. Após alguma hesitação, acolheu a proposta e instituiu a solenidade de Corpus Christi na sua diocese, sendo mais tarde imitado por outros bispos.

Perseguições incentivadas pelo ódio diabólico

Entretanto, faltava ainda uma das características dos santos, isto é, as oposições, e elas não se fizeram esperar. Uma perseguição tão violenta quanto injusta foi urdida contra Juliana. Um hagiógrafo explica como isso se deu: "Seu convento estava sob a supervisão de um superior geral, Roger, um homem depravado e de hábitos escandalosos. Ele assegurara sua posição em 1233, por meio de intrigas e suborno. Não gostando da virtude e piedade de Juliana, e muito menos de seus rogos e censuras, incitou o povo contra ela. A santa refugiou-se na cela de Santa Eva, e de lá foi para uma casa dada a ela por João, o cônego de Lausanne".2

Mas a perseguição continuou, de maneira que durante dez anos Juliana teve de perambular de convento em convento com algumas companheiras, edificando a todas por sua humildade e paciência nas perseguições.

Afinal chegaram a Namur, onde encontraram um asilo e uma capela. De acordo com um dos biógrafos, lá ela recebeu a inesperada visita de seu perseguidor Roger, que fora lhe manifestar seu arrependimento e sua admiração por ela.

O estabelecimento oficial da festa de Corpus Christi

Entretanto, ao lado dos sofrimentos e das perseguições, Santa Juliana teve a alegria de saber que em 1251 a festa tão almejada fora instituída pelo legado do Papa na Alemanha, Dácia, Boêmia, Morávia e Polônia.

Depois do sexto desterro, no dia 5 de abril de 1258, Santa Juliana entregou sua alma Deus em Fosses-la-Ville, Bélgica.

O arquidiácono de Tréveris, Tiago Pantaleão, grande amigo da santa, fora eleito Papa com o nome de Urbano IV, e uma de suas iniciativas foi instituir a solenidade de Corpus Christi como festa de preceito para a Igreja universal, na quinta-feira posterior a Pentecostes. Ele o fez através da Bula Transiturus de hoc mundo, de 11 de agosto de 1264.

"A reverência dos primeiros fiéis à Eucaristia se transformara em devoção à Pessoa adorável de Jesus, oculto sob as sagradas espécies. [...] Assim se originou toda a piedade eucarística ligada à festa do Corpo de Deus, e depois frutificada na exposição do Santíssimo Sacramento, nas Quarenta Horas, nas procissões apoteóticas dos Congressos Eucarísticos, nas visitas ao Santíssimo, nas Horas Santas, nos atos de reparação, etc".3

Foi o mesmo Urbano IV que, estando em Orvieto, quis celebrar a festa do Corpo de Deus nessa cidade. Ele já havia ordenado que se conservasse em sua igreja matriz — como sucede ainda hoje — o célebre corporal com os traços do milagre eucarístico sucedido em Bolsena no ano de 1263. Esse milagre ocorreu quando um sacerdote, estando para consagrar o pão e o vinho, duvidou da presença real de Nosso Senhor na sagrada Eucaristia. Então, da hóstia que ele tinha nas mãos começaram a escorrer gotas de sangue sobre o corporal, confirmando assim a Presença Real, que todos professamos como verdade de fé.

Esse mesmo Papa pediu ao Doutor Angélico, Santo Tomás de Aquino, que se encontrava também em Orvieto, que compusesse os textos do ofício litúrgico e da Missa da festa de Corpus Christi, o que o Santo fez por volta de 1264, com grande amor e felicidade.

Na sequência da Missa desse dia reza-se o Lauda Sion, monumento de piedade e segurança teológica unido à mais terna piedade. No quadro ao lado, citamos apenas alguns dos seus versos, para apreciação dos leitores.

NOTAS:

1. Mgr Paul Guérin, Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo IV, p. 213.
2. Id., Ib.
3. Pe. José Leite, SJ, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1993, tomo I, p. 429.

Outras obras consultadas: Dom Gaspar Lefebvre, Missal Romano Quotidiano, Bíblica, Bruges, Bélgica, 1953; Francis Mershman, St. Juliana of Liège, The Catholic Encyclopedia, CD Room edition.

 

Legenda: Santo Tomás de Aquino apresenta sua liturgia de Corpus Christi ao Papa Urbano IV – Taddeo di Bartolo, séc. XV. Museu de Arte de Filadélfia, Estados Unidos.


Lauda Sion Salvatorem

Louva, Sião, o Salvador,
O teu pastor e o teu guia
Com hinos e com cânticos.
Louva-O quanto puderes:
Supera todo louvor,
Não O louvarás suficientemente!
Não há mais sublime assunto,
Que nos possa ser proposto:
O pão vivo que dá a vida! [...]
Porque solene é este dia
Que nos lembra a instituição
Desse banquete divino [...]
Ó bom Pastor, pão autêntico!
Ó Jesus, que olhais por nós!
Alimentai-nos! Valei-nos!
Dai-nos ver o bem supremo,
Na Terra dos que já vivem!
Tudo sabeis e podeis,
Vós que nos alimentais:
Fazei-nos vossos convivas,
Herdeiros e companheiros,
Na pátria dos vossos Santos!

Amém. Aleluia.