Hélio Brambilla
Brasília (não o Brasil) foi surpreendida pela paralisação dos caminhoneiros. Não se tratou de greve, quase sempre promovida por pelegos sindicalistas, que no entanto se ressentem agora da oportuna extinção do imposto sindical. A interrupção dos serviços partiu de uma classe batalhadora e ordeira. O caminhoneiro é o novo tropeiro, conforme a definição de Luana Manzione Ribeiro em seu livro sobre tropeirismo: "Era um homem honesto, bravo, de cultura simples, de extrema importância para a formação cultural e geográfica do país, sendo considerado um dos ícones da nação brasileira. Seu ofício foi de extrema relevância para a interligação e comunicação das diversas regiões do país".
Para se entender o fundo de quadro do problema, cumpre lembrar que o petróleo sempre existiu no mundo. Foi utilizado em fogueiras, na calafetação de barcos, em construções, na iluminação, nas lubrificações, e até em tochas incendiárias fixadas na ponta das lanças dos guerreiros. Entre as referências mais antigas, o capítulo 6 do Gênesis menciona a existência de madeiras calafetadas com betume. Com o advento da indústria, em especial do motor a explosão, o petróleo se tornou o combustível dos meios de transporte, surgindo daí as grandes companhias petrolíferas que iniciaram a sua exploração em escala.
No Brasil, a propaganda demagógica "o petróleo é nosso" nasceu no período Vargas, e resultou na fundação da estatal Petrobrás em 1954. Depois de 20 anos em que foram sepultados alguns bilhões, ela não produzia quase nada.
Na década de 1970, por ocasião da grande crise mundial do petróleo, decorrente do conflito árabe-israelense, o Brasil foi obrigado a importá-lo, contraindo enorme dívida. A esquerda aproveitou para deblaterar contra o regime militar, o FMI, os Estados Unidos.
O restante dessa dívida com o FMI — cerca de 15 a 20 bilhões de dólares —, foi "pago" durante o governo de Lula da Silva, mas a contrapartida foi a elevação da dívida interna para mais de um trilhão de dólares no final dos 13 anos do governo petista. Na realidade o governo Lula pagou demagogicamente ao FMI um sanduíche de mortadela, e em troca passou a dever bilhões aos brasileiros.
O Prof. Murilo de Carvalho demonstra, no seu livro Dom Pedro II, que na época do império o Brasil era uma potência respeitada em todo o orbe. Antes de tudo pela estabilidade política, alicerçada na Constituição de 1824, e não na "constituição cidadã" — a "colcha de retalhos" promulgada em 1988 — cujos quase 100 remendos só tendem a aumentar. Os 50 anos de estabilidade monárquica propiciaram desenvolvimento semelhante ao dos países considerados desenvolvidos. No que se refere aos transportes, a nossa matriz eram as hidrovias e as ferrovias, além dos tropeiros. A Monarquia nos legou 18 mil km de estradas de ferro.
Dom Pedro II contratou um hidrólogo francês. Juntamente com um dos maiores geólogos brasileiros, o Barão Homem de Mello, foi concluído um estudo do planalto central — de onde nascem os rios que vazam para as principais bacias hidrográficas — visando interligar as bacias fluviais e possibilitar a navegação de Norte a Sul e de Leste a Oeste do nosso imenso território. Nos trechos não navegáveis, as ferrovias cumpririam o seu papel.
Com o advento da República, a visão de estadista parece ter desaparecido do mapa nacional. Ao longo da República Velha, o transporte movido a combustível fóssil foi incentivado por lemas grandiloquentes como "governar é abrir estradas", do então presidente Washington Luís. O curso mundial valorizou o petróleo, e o Brasil seguiu esse curso. Como consequência, temos hoje 1.720.800 km de estradas, 220.000 dos quais pavimentados. Com a escolha do modal rodoviário em detrimento dos outros, as montadoras de caminhões vieram para o Brasil, desenvolvendo aqui modelos tecnologicamente bem avançados. Mas a que preço...
Com o desenvolvimento do agronegócio, a logística rodoviária foi se consolidando, mas pouco se fazia por modais mais competitivos. Se hoje o minério é transportado por trem, o agronegócio continua a utilizar o transporte rodoviário. O resultado foi o nascimento do "bebê siamês": metade agronegócio, metade transporte rodoviário. Um não vive sem o outro. Por este lado pode-se entender o apoio dos agropecuaristas ao movimento dos caminhoneiros, apesar dos prejuízos sofridos.
Durante os 13 anos de governo petista, a administração se apoderou da Petrobrás, transformando-a em sua galinha dos ovos de ouro. A estatal se prestou para todos os arroubos e roubos, materializados em mensalões, petrolões e outros desmandos que a arruinaram. De tal modo que, se em março de 2016 ela valia R$ 126 bilhões, sua dívida alcançava R$ 450 bilhões. Não precisamos detalhar o ocorrido, basta perguntar ao juiz Sergio Moro ou folhear os jornais. Só não perguntem a Lula, pois ele nunca sabe de nada...
Dois anos depois de sua ruína — mais precisamente, em março de 2018 — a dívida da Petrobrás se