(continuação)
encontrava reduzida a R$ 341 bilhões, enquanto o seu valor de mercado representava R$ 293 bilhões. Na véspera da estancada do preço do petróleo, a Petrobrás chegou a valer R$ 380 bilhões, para uma dívida de R$ 340 bilhões. Todos comemoraram como um sucesso. Nem os órgãos de imprensa nem o governo previram que a mesma chama que acendeu os fogos de artifício da véspera, no dia seguinte pôs fogo no Brasil. E aí sim, tudo parou!
O então diretor da estatal Pedro Parente, cuja competência ninguém nega, é um tecnocrata típico, com a recuperação de algumas empresas no currículo. No entanto, deve-se ter cautela com os superespecialistas, pois costumam saber muito do pouco e quase nada do muito. Ou seja, sabem resolver um problema específico, mas não têm a visão de conjunto sobre os acontecimentos gerais e suas consequências.
O problema da Petrobrás é ser estatal e monopolista. Quando se lançou o lema "o petróleo é nosso", as empresas privadas não foram incentivadas a entrar no negócio, e as poucas existentes foram "incentivadas" a sair dele. Porventura os empresários seriam ou são marcianos? Se a exploração de petróleo fosse privada, tudo seria diferente. É claro que o Estado faria grandes estoques estratégicos, comprados da iniciativa privada, assim como procede com a Companhia Nacional de Abastecimento, ao adquirir produtos agrícolas para ter um estoque regulador.
Como fica nesse contexto a segunda safra ("safrinha", como se dizia há pouco tempo)? Difícil prognosticar. Pelas amostragens, as coisas pareciam caminhar bem. As exposições agropecuárias e agrishows conheceram recordes de público e de negócios. Em Ribeirão Preto o número de visitantes aumentou 22%, com delegações de 46 países, gerando 2 bilhões de reais em negócios. No ano passado, nossa safra de soja por pouco não superou a americana, mas há indícios de que o conseguiremos em breve. Detemos mais de 50% das exportações mundiais de açúcar, e devemos bater novos recordes na sua produção. O etanol já abastece mais de 25% dos veículos nacionais, além de sua mistura na gasolina, com teores que variam de 17 a 25%. O PT abandonou o setor, levando ao fechamento mais de 80 unidades, mas agora as usinas estão em franca recuperação.
Cumpre ressaltar que as mais de 400 usinas brasileiras vêm produzindo energia elétrica com as sobras do bagaço da cana. São 11,7% de toda a energia gerada no Brasil, ou mais de uma vez e meia a produção da hidrelétrica de Itaipu. Por feliz coincidência, quando o petróleo e seus derivados provocaram uma das maiores crises do Brasil, engenheiros japoneses da Toyota e seus colegas brasileiros conceberam o motor do carro híbrido Prius, com milhões de unidades vendidas no mundo, e agora funcionará com etanol e eletricidade. A energia do motor vem de uma bateria alimentada por um ponto (tomada) de recarga, e o motor interno de combustão funcionará com etanol.
O protótipo partiu de São Paulo, passou por regiões produtoras de cana-de-açúcar do interior paulista e parou em Ribeirão Preto, onde ocorreu o seu lançamento oficial. Nesse trajeto (336 km), consumiu 25 reais de etanol. De Ribeirão Preto a Brasília, rodou 1.580 km com muito bom desempenho. Se houver apoio político, poderemos dar adeus à Petrobrás. Ou melhor, poderíamos, pois sobre os combustíveis alternativos pesa uma desdita: "A cabeça dos dirigentes da Petrobrás não é flex", como lamentou a verve baiana do cientista Bautista Vidal. Ou seja, não toleram os biocombustíveis. A batalha promete ser árdua.
Portanto, existem alternativas. Precisamos apenas correr ao encontro delas, pois o ciclo do petróleo acabará um dia, como acabou a Idade da Pedra; não por falta de pedras, mas porque o homem inventou a siderurgia. Um novo ciclo em matéria de combustíveis não deverá tardar.
A produção de suco vem alcançando patamares históricos. Produzimos 1/3 do café mundial, e exportamos quase 40% de todo o café comercializado no mundo. Grande número de outros produtos estão sendo cultivados no outono-inverno. Nos primeiros cinco meses do ano as exportações já ultrapassam US$ 94 bilhões — 9,4% a mais que as do ano passado — e 45% desse total se devem ao agronegócio.
O presidente da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, em seu recente livro Os Tons de Verde, salienta que o Brasil alimenta mais de 1.500.000.000 de pessoas mundo afora, mesmo tendo de preservar 63,3% do nosso território. Ou seja, 563.736.030 de hectares estão preservados. Isso não é pouco, caro leitor, trata-se de uma área maior que os 28 países da Comunidade Europeia.
Além dessa preservação, o Brasil dispõe de 7,8 milhões de hectares de florestas plantadas, que respondem por 91% de toda a madeira utilizada no País. Nesse total ainda poderia ser incluída três vezes a área da Noruega. Mas não se consegue compreender que a Noruega, possuindo capitais aplicados em mais de 150 empresas brasileiras, financia todo tipo de ONGs para infernizar os nossos produtores rurais.
O agronegócio gera 33% dos empregos nacionais, e nos últimos 15 anos produziu um superávit de exportações equivalente a um trilhão de dólares. Graças a esses resultados, nossas reservas cambiais estão chegando a US$ 400 bilhões.
O presidente Temer e certos setores da imprensa passaram a qualificar de subsídio o que está sendo concedido aos caminhoneiros. Mas Adriano Pires, um dos maiores especialistas do País em energia, colocou a realidade em outros termos: "O problema não é o posto [de combustível], e sim o imposto do combustível". Ou seja, a proposta foi retirar um tanto do imposto extorsivo, que em alguns estados ultrapassava 50% do produto nos postos de combustível.
Para que se possa ter uma ideia da "farra dos tributos", no último fórum promovido pelo jornal "O Estado de S. Paulo", a Dra. Camila Junqueira, da Endeavor Brasil, disse: "A regra [dos tributos] não pode mudar o tempo inteiro. A legislação do ICMS foi atualizada 558 vezes nos últimos 4 anos. Fica impossível dar conta das mudanças!". Seria o caso de repetir que há método nesta loucura. Neste ponto, apesar de muito atingido, o agronegócio aplaudiu a paralisação dos caminhoneiros, porque também é sugado pelo alto preço do diesel.
Além da preocupação que paira em todo o País sobre as próximas eleições, assistimos à tragédia do aumento de mais de 300% de roubos às propriedades rurais. Leva-se de tudo: máquinas, equipamentos, produtos agrícolas, gado de corte e de leite, ordenhadeiras e resfriadores de leite, adubos e defensivos químicos.
Um dos candidatos a presidente já chegou a propor uma bolsa-fuzil para os proprietários se defenderem; outro se apressou a lhes prometer facilidade para a obtenção do porte de armas. Contudo, o mais importante ninguém prometeu: a mudança da legislação. Se o proprietário ou um funcionário dele atingir um meliante, em legítima defesa própria ou da propriedade, terá alguma cobertura da Justiça? Pouco provável, pois o fato concreto é que hoje a lei favorece o bandido em detrimento do homem de bem.
LEGENDAS:
- Brasil exporta quase 40% de todo o café comercializado no mundo.
- O presidente da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, e a capa de seu recente livro "Os Tons de Verde".