P.24-25

(continuação)

encontrava reduzida a R$ 341 bilhões, enquanto o seu valor de mercado representava R$ 293 bilhões. Na véspera da estancada do preço do petróleo, a Petrobrás chegou a valer R$ 380 bilhões, para uma dívida de R$ 340 bilhões. Todos comemoraram como um sucesso. Nem os órgãos de imprensa nem o governo previram que a mesma chama que acendeu os fogos de artifício da véspera, no dia seguinte pôs fogo no Brasil. E aí sim, tudo parou!

O então diretor da estatal Pedro Parente, cuja competência ninguém nega, é um tecnocrata típico, com a recuperação de algumas empresas no currículo. No entanto, deve-se ter cautela com os superespecialistas, pois costumam saber muito do pouco e quase nada do muito. Ou seja, sabem resolver um problema específico, mas não têm a visão de conjunto sobre os acontecimentos gerais e suas consequências.

Petrobrás, um mal estatal

O problema da Petrobrás é ser estatal e monopolista. Quando se lançou o lema "o petróleo é nosso", as empresas privadas não foram incentivadas a entrar no negócio, e as poucas existentes foram "incentivadas" a sair dele. Porventura os empresários seriam ou são marcianos? Se a exploração de petróleo fosse privada, tudo seria diferente. É claro que o Estado faria grandes estoques estratégicos, comprados da iniciativa privada, assim como procede com a Companhia Nacional de Abastecimento, ao adquirir produtos agrícolas para ter um estoque regulador.

Como fica nesse contexto a segunda safra ("safrinha", como se dizia há pouco tempo)? Difícil prognosticar. Pelas amostragens, as coisas pareciam caminhar bem. As exposições agropecuárias e agrishows conheceram recordes de público e de negócios. Em Ribeirão Preto o número de visitantes aumentou 22%, com delegações de 46 países, gerando 2 bilhões de reais em negócios. No ano passado, nossa safra de soja por pouco não superou a americana, mas há indícios de que o conseguiremos em breve. Detemos mais de 50% das exportações mundiais de açúcar, e devemos bater novos recordes na sua produção. O etanol já abastece mais de 25% dos veículos nacionais, além de sua mistura na gasolina, com teores que variam de 17 a 25%. O PT abandonou o setor, levando ao fechamento mais de 80 unidades, mas agora as usinas estão em franca recuperação.

Etanol e bagaço da cana

Cumpre ressaltar que as mais de 400 usinas brasileiras vêm produzindo energia elétrica com as sobras do bagaço da cana. São 11,7% de toda a energia gerada no Brasil, ou mais de uma vez e meia a produção da hidrelétrica de Itaipu. Por feliz coincidência, quando o petróleo e seus derivados provocaram uma das maiores crises do Brasil, engenheiros japoneses da Toyota e seus colegas brasileiros conceberam o motor do carro híbrido Prius, com milhões de unidades vendidas no mundo, e agora funcionará com etanol e eletricidade. A energia do motor vem de uma bateria alimentada por um ponto (tomada) de recarga, e o motor interno de combustão funcionará com etanol.

O protótipo partiu de São Paulo, passou por regiões produtoras de cana-de-açúcar do interior paulista e parou em Ribeirão Preto, onde ocorreu o seu lançamento oficial. Nesse trajeto (336 km), consumiu 25 reais de etanol. De Ribeirão Preto a Brasília, rodou 1.580 km com muito bom desempenho. Se houver apoio político, poderemos dar adeus à Petrobrás. Ou melhor, poderíamos, pois sobre os combustíveis alternativos pesa uma desdita: "A cabeça dos dirigentes da Petrobrás não é flex", como lamentou a verve baiana do cientista Bautista Vidal. Ou seja, não toleram os biocombustíveis. A batalha promete ser árdua.

Portanto, existem alternativas. Precisamos apenas correr ao encontro delas, pois o ciclo do petróleo acabará um dia, como acabou a Idade da Pedra; não por falta de pedras, mas porque o homem inventou a siderurgia. Um novo ciclo em matéria de combustíveis não deverá tardar.

Âncora verde

A produção de suco vem alcançando patamares históricos. Produzimos 1/3 do café mundial, e exportamos quase 40% de todo o café comercializado no mundo. Grande número de outros produtos estão sendo cultivados no outono-inverno. Nos primeiros cinco meses do ano as exportações já ultrapassam US$ 94 bilhões — 9,4% a mais que as do ano passado — e 45% desse total se devem ao agronegócio.

O presidente da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, em seu recente livro Os Tons de Verde, salienta que o Brasil alimenta mais de 1.500.000.000 de pessoas mundo afora, mesmo tendo de preservar 63,3% do nosso território. Ou seja, 563.736.030 de hectares estão preservados. Isso não é pouco, caro leitor, trata-se de uma área maior que os 28 países da Comunidade Europeia.

Além dessa preservação, o Brasil dispõe de 7,8 milhões de hectares de florestas plantadas, que respondem por 91% de toda a madeira utilizada no País. Nesse total ainda poderia ser incluída três vezes a área da Noruega. Mas não se consegue compreender que a Noruega, possuindo capitais aplicados em mais de 150 empresas brasileiras, financia todo tipo de ONGs para infernizar os nossos produtores rurais.

O agronegócio gera 33% dos empregos nacionais, e nos últimos 15 anos produziu um superávit de exportações equivalente a um trilhão de dólares. Graças a esses resultados, nossas reservas cambiais estão chegando a US$ 400 bilhões.

Não o posto, mas o imposto

O presidente Temer e certos setores da imprensa passaram a qualificar de subsídio o que está sendo concedido aos caminhoneiros. Mas Adriano Pires, um dos maiores especialistas do País em energia, colocou a realidade em outros termos: "O problema não é o posto [de combustível], e sim o imposto do combustível". Ou seja, a proposta foi retirar um tanto do imposto extorsivo, que em alguns estados ultrapassava 50% do produto nos postos de combustível.

Para que se possa ter uma ideia da "farra dos tributos", no último fórum promovido pelo jornal "O Estado de S. Paulo", a Dra. Camila Junqueira, da Endeavor Brasil, disse: "A regra [dos tributos] não pode mudar o tempo inteiro. A legislação do ICMS foi atualizada 558 vezes nos últimos 4 anos. Fica impossível dar conta das mudanças!". Seria o caso de repetir que há método nesta loucura. Neste ponto, apesar de muito atingido, o agronegócio aplaudiu a paralisação dos caminhoneiros, porque também é sugado pelo alto preço do diesel.

Roubos em propriedades rurais

Além da preocupação que paira em todo o País sobre as próximas eleições, assistimos à tragédia do aumento de mais de 300% de roubos às propriedades rurais. Leva-se de tudo: máquinas, equipamentos, produtos agrícolas, gado de corte e de leite, ordenhadeiras e resfriadores de leite, adubos e defensivos químicos.

Um dos candidatos a presidente já chegou a propor uma bolsa-fuzil para os proprietários se defenderem; outro se apressou a lhes prometer facilidade para a obtenção do porte de armas. Contudo, o mais importante ninguém prometeu: a mudança da legislação. Se o proprietário ou um funcionário dele atingir um meliante, em legítima defesa própria ou da propriedade, terá alguma cobertura da Justiça? Pouco provável, pois o fato concreto é que hoje a lei favorece o bandido em detrimento do homem de bem.

LEGENDAS:
- Brasil exporta quase 40% de todo o café comercializado no mundo.
- O presidente da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, e a capa de seu recente livro "Os Tons de Verde".