(continuação)
capital, determinando o restabelecimento da ordem pela força. Porém, na Praça Znamienski, tropas do regimento Pavloski atiraram numa multidão que não atendeu a ordem de dispersar. Morreram quarenta manifestantes, e isso foi o estopim para a revolta da guarnição de São Petersburgo. Na manhã de 27 de fevereiro, três dos regimentos da capital estavam amotinados. Oficiais foram linchados. O Ministério do Interior foi saqueado. A turba multa, atiçada por agitadores, invadiu lojas, restaurantes e residências particulares.2 Os arsenais foram invadidos, e milhares de fuzis roubados. A bandeira vermelha foi hasteada no Palácio de Inverno.
No dia seguinte, 28 de fevereiro, cientes de que o Tzar havia determinado a dissolução da Duma, os deputados não acataram a ordem e constituíram uma junta executiva de 12 membros — dez progressistas e dois socialistas, um dos quais Kerensky — denominada "Comitê Provisório dos Membros da Duma para a Restauração da Ordem". Nesse mesmo dia foi fundado também o Soviete de Petrogrado, constituído de "deputados" escolhidos aleatoriamente nas fábricas e quartéis.
Nicolau II se encontrava em Pskov, no front. Atordoado pela precipitação dos acontecimentos, pressionado pela Duma, por altas patentes do Exército e, infelizmente, por grandes nobres, resolveu abdicar no dia 2 de março. Primeiramente em favor de seu filho Alexis. Depois, levando em consideração a hemofilia do Tzarevitch, doença então incurável, transferiu a coroa para seu irmão, o Grão-Duque Miguel, o qual recusou aceitá-la sem eleições gerais e uma confirmação prévia do Parlamento.
As rédeas do poder na Rússia passaram então ao Governo Provisório, encabeçado inicialmente pelo príncipe Lvov, de tendência liberal, e posteriormente por Alexander Kerensky, mas tendo ao lado o Soviete de Petrogrado, com poderes semelhantes aos da Comuna de Paris de 1793.
Era o momento de entrar em cena Lenine, exilado na Suíça desde 1914.3 Juntamente com outros 32 "camaradas", partiu de Zurique no dia 27 de março — num trem fornecido pelo governo alemão, e com "status extraterritorial" — rumo ao Báltico, no norte da Alemanha, onde embarcou num vapor rumo a Estocolmo. Daí se dirigiu a São Petersburgo. Por volta da meia-noite de 3 de abril, chegou na Estação Finlândia, recebido com os acordes da Marselhesa (os bolcheviques se viam como sucessores dos jacobinos da Revolução Francesa).
Os acontecimentos de fevereiro e março de 1917 constituíram propriamente a Revolução Russa, com a queda do trono e a instalação de um governo provisório, fraco e indeciso, mas necessário enquanto elemento de transição e de preparação dos espíritos para o que viria depois.4 A revolução posterior, de outubro, não passou de um "putsch", por meio do qual os bolcheviques se assenhorearam do poder.5
Nicolau II, sua esposa e filhos passaram os meses seguintes à abdicação em prisão domiciliar, no palácio de Tsarskoye Selo, nas cercanias de São Petersburgo. Porém, a presença do Tzar e de sua família constituía grave incômodo para os novos governantes da Rússia. A tal ponto que entabularam negociações com a Inglaterra, a fim de obter exílio para a família imperial. No último momento o governo de Sua Majestade britânica recuou, temendo a reação desfavorável do Labour Party, o Partido dos Trabalhadores.
No início de agosto de 1917, era iminente um ataque alemão à capital, o que levou Kerensky a ordenar que a família imperial e alguns servidores fossem transferidos para Tobolsk, cidade da Sibéria ocidental.
Instalados na mansão do governador, as condições da detenção eram toleráveis, e a família do Tzar apreciava uma vida modesta e simples. As três filhas mais velhas tinham, inclusive, trabalhado caritativamente no hospital de guerra, desde 1914, para grande desconcerto do povinho, que se admirava de ver princesas vestidas como simples enfermeiras. Ao contrário de Tsarskoye Selo, onde eram constantemente assediados por agitadores comunistas, a vida corria em seu ritmo normal. Os sinos da igreja tocavam todos os dias, e os moradores se reuniam em frente da casa para cumprimentar a família do Tzar. "Estamos bem aqui, vivemos na calma e em paz" — escreveu o Tzar em 10 de dezembro de 1917.
Dois meses depois, o Governo Provisório era derrubado pelos bolcheviques. Encarapitados no poder, estes ignoraram a família imperial até março de 1918. A assinatura do acordo de Brest-Litovsk — que, entre outras coisas, libertou as nações do Báltico, a Polônia e a Ucrânia — suscitou também muita insatisfação na Rússia. Os bolcheviques temiam uma restauração monárquica, e chegaram mesmo a cogitar num julgamento público do Tzar deposto, à maneira do que a Convenção fizera na França com Luís XVI. No final de maio, no entanto, resolveram entregá-lo, junto com a família, ao soviete6 de Yekaterinburg, que os aprisionou na casa "requisitada" ao comerciante Ipatiev, usada para "serviços especiais".
Nessa casa de Ipatiev, a família do Tzar foi reduzida a viver em completo isolamento, com seu médico e poucos criados. Seus carcereiros ergueram uma paliçada dupla em torno
LEGENDAS:
- Grã-Duquesa Maria.
- Grã-Duquesa Anastásia.
- Tzarevitch Alexei.
- Lenine voltou à Rússia com apoio do governo alemão, para liderar a revolução comunista e sepultar o império Romanov.