(continuação)

em multidão, nos confessionários formavam-se filas, e diante do altar se viam numerosos cristãos orando pela salvação de seus infelizes irmãos. O próprio Santo Padre fazia uma longa adoração diante do SS. Sacramento exposto na sua capela particular.

Às oito horas e meia, o lúgubre cortejo pôs-se em movimento. Após um piquete de dragões — em meio a uma multidão inquieta, ruidosa algumas vezes e silenciosa outras — havia uma longa procissão de religiosos e de confrades da Misericórdia, cobertos de sacos negros, com uma tocha na mão e salmodiando em tom grave a ladainha dos agonizantes. Vinha depois a fatal carreta, cercada de carabineiros e seguida do boia [carrasco]. Os dois condenados estavam sentados no mesmo banco, ladeado cada qual por um sacerdote e tendo à sua frente um terceiro sacerdote portando uma imagem da Santíssima Virgem. Do seio da multidão que enche as ruas, praças e janelas, a uníssona pergunta: Sono convertiti? Estão convertidos? Confessaram-se? Quanto a um dos condenados, os sacerdotes assistentes respondiam afirmativamente, com um sinal de cabeça repetido muitas vezes. Ficaríeis impressionados ouvindo todo aquele povo, tão impressionável e tão expansivo, endereçar mil bênçãos ao criminoso, e tranquilizá-lo: "Meu filho, meu irmão, bendito sejas; anima-te; mandarei rezar uma missa por tua alma; prometo uma novena por ti, uma comunhão, uma esmola; não te esqueceremos; cuidaremos de tua mulher, de tua mãe, de tua irmã e de teus filhos".

Culpado de parricídio, o outro condenado tinha permanecido surdo às solicitações da misericórdia. Ante o sinal do padre, que informava Non è convertito, essa mesma multidão se desfazia em repreensões, ameaças, maldições: "Birbone! [patife] Então vais morrer como um turco? Daqui a pouco estarás no tribunal de Deus! Vai, desgraçado, serás condenado por toda a eternidade!". Impossível descrever a impressão produzida pela voz de todo um povo, pronunciando antecipadamente a sentença eterna de bênção ou de maldição, que seria dada alguns minutos depois aos condenados no tribunal do Supremo Juiz.

À medida que o cortejo se aproximava do local da execução, os sacerdotes redobravam sua insistência com o obstinado, enquanto o movimento do cortejo era propositalmente retardado. Enfim chegou-se a alguns passos do cadafalso, erguido não longe da igreja de São João decapitado. Os dois condenados desceram à Confortatoria, capela provisória estabelecida diante da igreja. Foi ouvida pela última vez a confissão do criminoso arrependido, e ministrada a Santa Comunhão. Depois dos vinte minutos concedidos para a ação de graças, ele subiu ao cadafalso. Ali, segundo o costume de Roma, se pôs de joelhos, e nesta atitude religiosa recebeu o golpe da morte.

Junto ao segundo condenado ficaram os confortatori, aos quais se reuniram por caridade alguns sacerdotes e religiosos conhecidos por sua santidade, esgotando todos os recursos do zelo para tocar sua alma endurecida. Já era passada a hora da execução, e o carrasco esperava a sua vítima. Mas, por um rasgo dessa longanimidade que caracteriza a lei pontifícia, a espera foi prorrogada até que o desgraçado adquirisse tranquilidade. Se ele permanecesse insensível, somente à noite a justiça teria seu curso. O criminoso de que falamos continuou a repelir durante três horas, com uma espécie de furor, os caritativos conselhos que lhe davam, sobretudo recusando-se a abrir os lábios para a oração. Por fim, um dos sacerdotes, que acabava de descer do cadafalso, lhe disse: "Meu filho, se não quereis orar por vós, orai ao menos pelo vosso companheiro que está agora na eternidade". Começaram então o De profundis. Ele descerrou enfim os dentes, recitou a oração e pôs-se a derramar lágrimas. E exclamou afinal: "Basta! Não quero morrer como um turco; quero confessar-me". Com muitas lágrimas, recebeu os sacramentos e subiu em pouco ao cadafalso, rodeado das bênçãos e promessas de todo o povo. Tornado manso como um cordeiro, perguntou: "O que é preciso fazer?". Ante a resposta, "pôr-vos de joelhos", ele se ajoelhou. Indicaram-lhe o lugar para colocar a cabeça, e ele assim fez. Depois de haver pronunciado três vezes os santos nomes de Jesus e Maria, recebeu o golpe fatal.

Como o primeiro condenado estivera tão bem-disposto, lhe haviam recomendado que orasse pelo seu infeliz companheiro, e sem dúvida ele o tinha feito. Quem sabe o valor, diante de Deus, da oração do culpado que se arrepende, misturada com seu próprio sangue, e morre para expiar os seus crimes? Logo depois da execução, o sino da igreja de São Nicolau in Arcione anunciou aos fiéis, que haviam ficado em adoração, que tudo estava consumado — eram duas horas da tarde. Deu-se a bênção e tornou-se a guardar o SS. Sacramento no tabernáculo.

Desde a manhã, numerosos confrades haviam percorrido a multidão, pedindo esmolas a fim de celebrar missas pelas almas dos condenados, que nos dias seguintes até o oitavo tiveram belíssimos ofícios religiosos. Quanto aos seus corpos, os confortatori os haviam levado religiosamente para a igreja da Confraria, onde os enterraram, após terem salmodiado o ofício dos defuntos. No frontispício dessa igreja, lê-se apenas esta inscrição: Per ta misericórdia. O padroeiro do lugar é também um supliciado: São João Batista, cuja cabeça esculpida em pedra, por baixo da inscrição, forma o único ornato da fachada.

Poderia Roma assegurar melhor a salvação do culpado, do que mostrando o grande valor de uma alma a seus olhos? Assim se faz do cadafalso um espetáculo verdadeiramente moral.

Duas particularidades sobre o carrasco. Entre os antigos romanos, o executor não podia entrar na cidade, e sua habitação solitária estava além do Tibre. Exceto quando se tinha necessidade do seu ministério, desgraçado do carrasco se ousasse transpor a ponte do Santo Anjo: o povo o faria em pedaços. Além disso, ele não recebia acima de três cêntimos por execução, para que o engodo do ganho não o expusesse a tornar-se pecador, desejando a morte do semelhante. Este último traço revela um conhecimento tristemente profundo do coração humano.


LEGENDAS:
- Igreja de São João decapitado, em Roma.
- Escudo dos Confrades da Misericórdia.