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Batalha de Matapão...

Representação dos estaleiros nos quais Portugal tornou realidade seu sonho das navegações.

(continuação)

a fazer uma manobra para corrigir sua má posição, o navio da dianteira veneziana, Madonna dell’Arsenale, virou em roda, acabando por se distanciar. Os venezianos julgaram tratar-se de uma estratégia do comando, e seguiram imediatamente o seu exemplo. Somente a frota que seguia com os portugueses permaneceu em seu lugar, pois não havia recebido nenhuma ordem para tal movimento. Essa evolução fez as posições se inverterem, ficando os portugueses na vanguarda dos cristãos. O vento também cessou inteiramente, e durante bom tempo os venezianos se viram incapazes de retornar à linha de combate.

O Grão-Paxá muçulmano aproveitou para avançar com sua Capitânia, uma poderosa embarcação de cento e dez peças e 1.400 homens de equipagem. Seguido por mais quinze de suas sultanas, romperam num furioso ataque às naus de Portugal e da Santa Sé. Os portugueses tiveram de resistir por horas na vanguarda, respondendo incessantemente com formidável fogo sobre os inimigos. Durante toda a batalha, o Conde de São Vicente fez o possível para se aproximar dos turcos com o Nossa Senhora do Pilar, tornando-se sempre o atacante e o alvo principal, pois seu navio era o mais bem equipado e poderoso.3

Às cinco horas da tarde, diante da resistência portuguesa que lhes causava grandes estragos, os turcos desanimaram e logo começaram a se retirar. Mas o navio Nossa Senhora do Pilar, apesar de quase destroçado, fez um arrojado avanço sobre os inimigos, seguindo-os e batendo-os. As demais naus portuguesas fizeram o mesmo, mas não puderam alcançar o inimigo. Por fim, a chegada de um tempo forte obrigou-os a cessar a perseguição e retornar ao porto.

A fuga dos turcos dessa batalha, associada à trégua que fizeram após a perda de Belgrado, privaram os portugueses de uma maior glória. Os venezianos não conseguiram ser mais que testemunhas dos feitos dos portugueses nessa batalha. Embora tenha ficado muito avariada, a esquadra portuguesa registrou a morte de apenas oitenta homens, além de cento e vinte feridos, tripulantes em sua maioria do Nossa Senhora do Pilar. Já os turcos tiveram mais de cinco mil baixas. Após essa épica batalha, nossa esquadra rumou para Lisboa, onde aportou em 6 de novembro, com a glória de ter ajudado a livrar a Cristandade de um grande perigo.

O Papa celebrou muito essa vitória e fez grandes elogios à nação portuguesa, a cujo Senhor Rei D. João V – “verdadeiro Rei Católico, verdadeiro filho da Igreja” – agradeceu paternalmente por tão grande realização. E ao Conde do Rio Grande mandou um Breve, no qual lhe agradecia pelo zelo e valor com que sua Armada triunfara da esquadra inimiga. 

Principais fontes consultadas:

• Gabinete Histórico, que a sua majestade fidelíssima, o Senhor Rei Dom João VI oferece Fr. Cláudio da Conceição – Tomo VII – Desde 1717 até 1729. Editora: Impressão Régia (Lisboa). Edição de 1820.

• Mário Domingues, D. João V, o homem e a sua época. Editora Romano Torres. Edição de 1964.

Notas:

1.http://revistapesquisa.fapesp.br/2011/11/30/por-mares-sempre-navegados/

2. Ver o último artigo publicado na edição de junho/2018.

3. https://threedecks.org/index.php?display_type=show_ship&id=7848

D. João V e a Batalha do Cabo Matapão (1717) – Domenico Duprà. Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa.

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