Hélio Brambilla
Cícero descreve a alegria do agricultor diante da maravilha que é o desabrochar da semente.
Após 13 anos de desgoverno petista, período em que até o linguajar regrediu, constitui salutar refrigério a evocação de autores clássicos como o grande Cícero, profusamente citado por suas qualidades de escritor e orador. Caiu-me recentemente sob os olhos um texto dele, que citarei mais adiante. E o motivo para isso é que se encaixa perfeitamente no panorama deste início de 2019, quando o saldo da exportação do agronegócio brasileiro ultrapassou a marca histórica de US$ 100 bilhões.
Em seu discurso de posse, o novo Presidente manifestou apoio irrestrito ao setor rural, com destaque claro e categórico para o direito de propriedade. Enquanto isso, vamos caminhando para o 70º aniversário do livro Reforma Agrária – Questão de Consciência, cujo impacto sobre o regime janguista foi devastador. Nele o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e os coautores defendiam o direito de propriedade com uma argumentação doutrinária cerrada, levantando verdadeira questão de consciência em relação a uma lei socialista e anticristã que estabelecesse o confisco de terras particulares pelo Estado e violasse dois Mandamentos da Lei de Deus: "Não roubar" e "Não cobiçar as coisas alheias".
À época, certa propaganda sub-reptícia e enganosa cochichava nos ouvidos dos centristas acomodados: Por que propriedade? Não seria melhor prosperidade ou pátria? Ouvi e li mais de 100 vezes esta cincada pouco jocosa, mas muito venenosa. Hoje vemos como um dos graves problemas da agropecuária vem exatamente das ameaças contra a propriedade, rotuladas com o disfarce de Reforma Agrária, demarcações indígenas, quilombolas, proteção ambiental.
Cícero descreve a alegria do agricultor diante da maravilha que é o desabrochar da semente, além de uma espécie de crédito que o agricultor tem sobre a terra, que nunca recusa o seu trabalho. O que lhe agrada não é apenas o que o solo produz, mas também a potência generosa da própria terra. Fala ainda das profundezas das terras revolvidas e trabalhadas para receberem o grão semeado, primeiramente retendo-o, protegendo-o da luz. Indica depois como o calor e a pressão o fazem eclodir e germinar. Dele surge um broto verde, que dá raízes e se eleva num caule embainhado em sua casca, e daí sai uma espiga de grãos bem ordenados, protegidos da voracidade dos passarinhos pela muralha de suas pontas.
O encanto da agricultura não se resume às campinas e colheitas, aos vinhedos e arbustos; é preciso também contar com as hortas e os vergéis, o gado no pasto, as colmeias de abelhas e as flores inumeráveis. Nada é mais proveitoso nem mais belo que um campo cuidadosamente cultivado, mostrando que nenhum labor é tão digno de um rei quanto o trabalho dos campos (Cfr. Cícero, Saber Envelhecer, Coleção L e PM Pocket, volume 66, p. 44 e 47). De fato o agricultor encarna a figura de um rei, por menor que seja a sua propriedade: possui um território no qual só ele manda; sua família, juntamente com os agregados, constituem seu povo; sobre esse povo ele exerce seu senhorio. Bem esta era a perspectiva de Plinio Corrêa de Oliveira, e não outro é o motivo que leva as esquerdas a odiarem o proprietário rural.
Por pouco tempo Cícero não alcançou o Divino Mestre percorrendo os campos da
"Nada é mais proveitoso nem mais belo que um campo cuidadosamente cultivado, mostrando que nenhum labor é tão digno de um rei quanto o trabalho dos campos" (Cícero).