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| MALEFÍCIOS DE LUTERO À IGREJA... | (continuação)

tinha três mulheres. Sebastião Flash, pregador luterano, fala-nos da 'permuta entre as mulheres (commutationem uxorum)'. [...] Um predicante superior afirma [também sobre a permuta de mulheres] que 'o sentimento do pudor me veda o demorar-me mais largamente sobre fatos análogos'".58

Sobre a poligamia entre os "reformados", escreve um sério historiador: "Numerosos indícios mostram, até à evidência, que muito frequentemente Lutero tinha oralmente dado autorizações desse gênero. Segundo sua expressão, tratava-se de 'conselhos de confissão'".59 Um caso, entretanto, teve mais repercussão que os outros, devido ao personagem envolvido.

Felipe o Magnânimo, nascido em 1504, casou-se antes dos 20 anos com Cristina, filha do duque Jorge da Saxônia, e tiveram sete filhos. Considerado o mais imoral dos príncipes alemães, tornou-se um dos sustentáculos de Lutero e de sua heresia. Ora, Felipe desejava, sem deixar a primeira mulher, ter "uma segunda esposa legítima", que seria Margarida von der Saal, então com 17 anos. E queria, para isso, a aprovação por escrito de Lutero e Melanchton. O astuto Lutero não queria dá-la, para não se comprometer. Considerando, entretanto, que não tinha preço o apoio do príncipe à reforma que empreendiam, ambos cederam. No dia 10 de dezembro de 1539, deram a autorização assinada, mas com a condição de ser mantida no mais profundo segredo.

Por que o segredo? Porque a penalidade para a poligamia na Alemanha era a morte por decapitação. Mas um segredo é sempre difícil de ser mantido, e o fato não deixou de transpirar e gerar comentários. Isso obrigou o reformador a reformar-se: "Todas as fofocas sobre o assunto devem ser ignoradas, contanto que estejamos certos em consciência de que isso nos é correto, pois o que é permitido na lei mosaica não é proibido no Evangelho".60

Excessos na comida e na bebida

"O conde de Hayer, que tinha voltado a ser católico depois de ter admirado Lutero, escreveu em 1522: 'Lutero não passa de um devasso que se embriaga à moda de Mansfeld, e que gosta de se cercar de mulheres bonitas'. [...] Wolfgang Musculus veio a Wittenberg para aplainar dificuldades a respeito da missa e da ceia, e relata que, com Lutero, ele 'havia bebido, bebido de novo, e ainda bebido, sempre vigorosamente à moda de Saxe'. [...] Em 1522 Lutero foi a Erfurt para a propagação da Reforma. Melanchton resume assim a primeira noite: 'Bebemos, gritamos, como de costume'. [...] Em 1519, Lutero se acusou de 'excesso na mesa'. Em 1530, lamentou-se de ouvir 'uma verdadeira tempestade' na cabeça, e só encontrou duas explicações: 'o vinho ou o diabo'".61

A bebida era um dos seus principais remédios contra as tentações de abatimento: "Quando estou tentado, comer e beber é para mim duas vezes um jejum. A isso o mundo grita que é bebedeira. Mas Deus julgará se é bebedeira ou jejum".62

A Jerônimo Weller, que tinha frequentes acessos de melancolia, recomendou: "Beba com mais abundância [e cometa] algum pecado em ódio e acinte ao diabo, para não lhe darmos azo de perturbar a consciência com ninharias". E afirmou desinibidamente: "Por que pensas que eu bebo assim, com mais largueza, cavaqueio com mais liberdade e banqueteio-me com mais frequência, senão para vexar e ridicularizar o demônio, que me quer vexar e ridicularizar a mim? [...] Todo o Decálogo se deve apagar dos olhos e da alma a nós, tão perseguidos e molestados pelo diabo".63

Escreveu ele a Catarina, em 1540: "Vou comendo como um boêmio e bebendo como um alemão, louvado seja Deus".64 Em 1541: "Aqui passo todo o dia no ócio e na crápula".65

Lutero e o demônio

Sobre o papel do diabo na vida de Lutero, o Pe. Leonel Franca escreve: "Satanás não o deixa um instante tranquilo. Acompanha-o de dia e de noite, na igreja e na adega. Mais de uma vez declarou Lutero que a sua vida fora 'uma série de duelos' com Satã. Com o diabo dormia mais vezes que com a sua Catarina. Em toda a parte o via. [...] O espírito do mal é o deus ex-machina, que desata todos os nós difíceis. À sua ação maligna atribui o reformador todas as desordens morais, todas as calamidades sociais desencadeadas por suas doutrinas subversivas (Sobre isso, ver Guisar, Luther, III, 231-257). No opúsculo contra o duque Henrique de Brunswick, concede ao demônio a honra de citá-lo 146 vezes; no livro dos concílios, em quatro linhas, fala 15 vezes de diabos. Para ele, os adversários da Reforma têm coração satanizado, persatanizado e supersatanizado".66

Um exemplo mostra até aonde ia sua obsessão pelo diabo. Em 1531: "Um dia, em Erfurt, ele estava no coro; lia-se o evangelho do possesso (Mc 9, 16-28). Ele cai por terra e rola, gritando: 'não sou eu, não sou eu!'. Dirá mais tarde o seu adversário João Cochlaeus que, nessa cena estranha, ele e seus confrades viram os sinais, seja de uma possessão demoníaca, seja de epilepsia".67

Falando da ação do demônio que o levou a suprimir a Missa, diz o heresiarca: "Nem é de maravilhar, porque a lógica do diabo era acompanhada de voz tão espantosa, que o sangue me gelava nas minhas veias. Compreendi então por que amanhecem alguns mortos: é porque o demônio pode matar e sufocar os homens, e sem chegar a tais extremos, enredá-los em embaraços tais que podem ocasionar a morte; eu mesmo o experimentei muitas vezes".68

Lutero visto por outros falsos reformadores

Não houve tirania mais insuportável nem arrogância mais impetuosa do que a desse pregador do livre exame. "Todos os seus correligionários gemiam sob o peso de seu jugo de ferro. Münzer [Thomas Müntzer, 1490-1525] dizia: 'Há dois papas: o de Roma e Lutero, e este é mais duro'. Ao seu confidente Bullinger [Heinrich Bullinger, 1504-1575], escrevia Calvino: 'Já não é possível suportar os arrebatamentos de Lutero: cega-o a tal extremo o amor próprio, que não vê os próprios defeitos, nem tolera que o contradigam'. E a Melanchton: 'Com que impetuosidade fulmina o vosso Péricles! Singular exemplo deixamos à posteridade quando preferimos abrir mão de nossa liberdade a irritar com a menor ofensa um só homem! Dizem que é de gênio arrebatado, de movimentos impetuosos; como se esta violência não se exaltasse com lhe comprazerem os outros em tudo. Ousemos ao menos soltar um gemido livre'".69 Calvino diz ainda de Lutero: "É um grande vicioso. Oxalá trabalhasse por coibir a violência que lhe ferve sempre nas veias; oxalá se aplicasse a conhecer melhor os seus vícios".70

Seu "temperamento terrível" provocou a tragédia do isolamento, que expulsou dele seus amigos mais dedicados e colaboradores zelosos. Passou a ser considerado um mal necessário. Toda contradição o incendiava. "Um de seus devotos lamentava: 'Dificilmente um de nós pode escapar da ira de Lutero e de sua flagelação pública' (Corp. Ref., V, 314).

Karlstadt se separou dele em 1522, depois da ameaça de um encontro pessoal; Melanchton, em tons melancólicos, fala de sua violência apaixonada, de sua vontade própria e da sua tirania, e não mede palavras ao confessar a humilhação de sua servidão ignóbil. Bucer, motivado por razões políticas e diplomáticas, aceita com prudência o inevitável, 'exatamente como o Senhor nos concedeu a nós'. [Para Lutero] Zwinglio 'tornou-se um pagão, Ecolampadio [...] e os outros hereges 'têm corações corruptos endiabrados, super-endiabrados, debochados e bocas mentirosas, e ninguém deve orar por eles', todos eles 'foram trazidos à sua morte pelos ardentes dardos e lanças do diabo'".71

Enfim, como diz um historiador, "o Lutero que à distância ainda era honrado como herói e líder da nova igreja só foi tolerado em seu centro por consideração aos seus serviços passados".72

Maléficos frutos da pseudo-reforma

O reformador protestante reconheceu: "Depois que compreendemos não serem as boas obras necessárias à justificação, ficamos muito mais remissos e frios na prática do bem. Era admirável o fervor com que nos dávamos às boas obras outrora, quando por meio delas nos esforçávamos para alcançar a justificação.

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Lutero joga o tinteiro contra o demônio, numa das muitas aparições que ele mesmo cita nas suas obras.