| MALEFÍCIOS DE LUTERO À IGREJA... | (continuação)
Cada qual porfiava em vencer os outros em piedade e honestidade. E se hoje se pudesse voltar ao antigo estado de coisas, se de novo revivesse a doutrina que afirma a necessidade de fazer o bem para ser santo, outra seria a nossa alacridade e prontidão no exercício do bem".73 "No dia 17 de janeiro de 1546, no seu último sermão em Wittenberg, Lutero mostra uma onda de desânimo e desespero: 'Usura, embriaguez, adultério, assassinato, tudo isso pode ser notado' [entre os 'reformados']".74 No mesmo dia, traça as linhas patéticas "Estou velho, decrépito, indolente, cansado, frio, e agora tenho a visão de apenas um olho".75 Não tinha, sobretudo, paz.
Em 1529 ele já havia escrito sobre a sua Reforma: "Os evangélicos são sete vezes piores que outrora. Depois da pregação da nossa doutrina, os homens entregaram-se ao roubo, à mentira, à impostura, à crápula, à embriaguez e a toda espécie de vícios. Expulsamos um demônio [o papado], e vieram sete piores. Príncipes, senhores, nobres, burgueses e agricultores perderam todo o temor de Deus".76
Em um sermão de 1532, fez esta confissão: "Quanto a mim, confesso que sou desleixado tanto na disciplina como no zelo, mas sou mais negligente agora que sob o papado. Muitos outros poderiam, sem dúvida, fazer igual confissão. Ninguém tem agora, pelo Evangelho, o ardor que se via outrora".77 Nesse mesmo ano ele se reconhece "menos zeloso, menos sério, muito mais tíbio que outrora, sob o papismo".78
No mesmo sentido, escreve em 1542 a Nicolau von Amsdorf (1483-1565), bispo apóstata de Naumburg e primeiro bispo luterano do Sacro Império: "É tanto o desprezo pela palavra de Deus, tão desmesurado o crescer dos vícios, da avareza, da usura, da licenciosidade, dos ódios, das perfídias, das invejas, da soberba, da impiedade e das blasfêmias, que não é provável que Deus utilize ainda de misericórdia com a Alemanha".79
"Os outros notáveis de Wittenberg dão o mesmo exemplo [de má vida], e disso se glorificam. Em um ano, um deles teve 43 filhos. Outro cobrava juros de 40%" (T.R., t. IV, n. 4073 a.). No ano seguinte, 1539, escreveu ao pregador João Mantel: "Como Lot, eu sofro o martírio nesta abominável Sodoma".80
Enfim, inesperada mas não súbita, a morte sobreveio quando Lutero se encontrava em Eisleben. Cercado de vários comparsas, por volta das três horas da manhã de 18 de fevereiro de 1546 ele compareceu diante do justo Juiz, a Quem iria prestar contas de suas perversas obras, tão danosas à Santa Igreja e ao mundo cristão. Seu corpo foi levado para Wittenberg e sepultado no dia 22 de fevereiro na igreja do castelo, onde está também o de Melanchton. Ambos aguardam o tremendo juízo de Deus e da História.
Notas:
1. H. G. Ganss, Martin Luther, in The Catholic Encyclopedia, CD Room edition. Esta fonte será citada como TCE.
2. Id. ib.
3. Id. ib.
4. TCE.
5. Hausrath, "Luthers Leben" I, Berlin, 1904, 2, 22. TCE.
6. TCE.
7. Doktor Martin Luthers Werke, Kritische Gesamtausgabe=WA, Weimar 1883-1948, 40, I, 298). Esta fonte será citada como Weimar, no autor que a cita. Esta citação é de Erwin Iserloh, in Gran Enciclopedia Rialp, Ediciones Rialp, S.A., Madri, 1973, tomo XIV, p. 627. Este estudo será citado como GER, com o número da página.
8. Abbé J. Paquier, in Dictionnaire de Théologie Catholique, Librairie Letouzey et Ané, Paris, 1926, tomo IX, Col. 1149. Esta obra será citada como DTC, e o número da coluna.
9. WEIMAR., t. XXVI, p. 508, in J. Paquier, Luther, DTC Col. 1150.
10. Enders, t. VIII, p. 159 (1530). DTC 1151.
11. Id.ib.
12. De Wette, I, 41, in Pe. Leonel Franca, S.J., A Igreja, a Reforma e a Civilização, Editora Civilização Brasileira, S/A. Rio de Janeiro, 1934, 3ª. edição, p. 198.
13. Cfr. GER 628.
14. T.R., t. II, n. 1681, t. III, n. 3232 a., DTC cols. 1207,08.
15. DTC col. 1208.
16. GER 628.
17. T.T., t. ii, n. 122 (1531); WEIMAR. t. XI b, p. 412, 23 (1532. DTC col. 1151-52.
18. WEIMAR., t. 43, p. 461, 11 (por volta de 1541). DTC col. 1151-52.
19. TCE.
20. Id. ib.
21. Enders , "Briefwechsel", III, 208. TCE.
22. LF, 424.
23. De servo arbitrio ad Erasmum, 1525, Weimar, XVIII, 635, 709 ss. LF 424-425.
24. Weimar, VII, 145. in Pe. Leonel Franca, S.J., A Igreja, a Reforma e a Civilização, Editora Civilização Brasileira, S/A. Rio de Janeiro, 1934, 3ª. edição, p. 198. Esta fonte será citada como LF e o número da página. LF id. Ib..
25. Cfr. GER 628-29.
26. Cfr. DTC 1154.
27. De Wette, I, 234, TCE.
28. De Wette, I, 522, 500; Weimar, VII, 44. TCE.
29. Hausrath, op. Cit., I, 476. TCD.
30. TCE.
31. De Wette, op. cit., I, 417. TCE.
32. Walch, XVII,245. Id.
33. Kostlin-Kawerau, op. cit., II, 389).TCE.
34. Weimar, X, 2 Abt., 107. LF id.
35. WEIMAR., t. 18, p. 358, 14. DTC 1167.
36. De Wette, II, 538; Weimar, XV, 240. LF 187.
37. Weimar, XVIII, 96-97. LF id.
38. Weimar, XX, 724). LF id.
39. Erl., XII, 218-21; XLVI, 205. LF 187-88.
40. Weimar, XXX, 3 Abteilung, 317. LF 189.
41. Weimar, XL, 1, Abt., 132. LF 190.
42. Ed. Wittenberg, 1551, t. IV, p. 378. LF 190.
43. GER 630.
44. WEIMAR., t. XV, p. 774,18. DTC 1170.
45. De Wette, op. Cit., III, 61. Id. Ib.
46. Cfr. Id. Ib.
47. Luther and Luthertum (Mainz, 1904) de Heinrich Denigle, católico intérprete do monge apóstata. In TCE.
48. TCE.
49. Id. Iv.
50. Enders, op. Cit., III, 253. TCE.
51. TCE.
52. De Wette, II, 40-41. LF 196.
53. Weimar, XII, 237. LF 193-194.
54. WEIMAR., t. XVIII, p. 275, 17 (27 de março de 1925); Erl., t. LIII, p. 311. DTC 1165.
55. De Wette, III, 2, 3). LF 197.
56. WEIMAR., t. X b, p.287. DTC 1280.
57. DTC 1281.
58. Professio catholica M. Seb. Flaschii, p. 219, ss. LF 207.
59. DTC 1177.
60. De Wette-Seidemann, VI, 239-244; "Corp. Ref.", III, 856-863.TCE.
61. DTC col.1173.
62. J. Paquier, Lutero e a Alemanha, p. 91-119. DTC col. 1173.
63. De Wette, IV, 188. LF 199-200.
64. Tischreden, Ed. Kroker, 1903, n. 318. LF 199.
65. De Wette, II, 6. LF 199.
66. LF 196.
67. DTC col. 1152.
68. De abrogatione missae privatae, Von der Winkelmesse, Weimar XXXVIII, 198. LF 194.
69. Calvino, Opera, XII, 99. LF 191.
70. Ap. Audin, Histoire de Calvin, II 37304; I, 269. LF 208.
71. Walch, op. cit., XX, 223. TCE.
72. Ranke, op. Cit., II, 421. TCE.
73. Weimar, XXVII, 443. LF 441.
74. De Wette, XVI, 142-48. TCE.
75. Id. Ib.
76. Weimar, XXVIII, 763. LF 440.
77. Erl., XVIII, V, 462. LF 441.
78. WEIMAR. t. XXXVI, p. 469, 12. DTC 1172.
79. De Wette, V, 462. LF 441.
80. Erl., t. LV, p. 250; Enders, t.XII, p. 293. DTC 1179.
Nicolau von Amsdorf (1483-1565), bispo apóstata de Naumburg e primeiro bispo luterano do Sacro Império, escreve em 1542: "É tanto o desprezo pela palavra de Deus, tão desmesurado o crescer dos vícios, que não é provável que Deus utilize ainda de misericórdia com a Alemanha".
Retrato de Lutero no leito de morte – Lucas Cranach, o Jovem, 1546. Niedersächsisches Landesmuseum, Hannover (Alemanha).