| O momento sublime da Anunciação... | (continuação)
Senhora, por exemplo. Podemos imaginar o encontro: o Arcanjo é o mensageiro de Deus, que leva as mais altas, mais esplêndidas e melhores mensagens de Deus. Portanto, tem de modo esplêndido o dom de comunicar aquilo que Deus deseja dizer, uma ressonância da palavra divina.
Nesse quadro, imaginem Nossa Senhora em sua casa de Nazaré, quando lhe aparece o Arcanjo Gabriel, um dos mais altos espíritos que está no Céu, sempre na presença de Deus. O Arcanjo faz à Virgem Santíssima uma profunda saudação, cheia de charme, nobreza, elegância e distinção. Uma majestade inimaginável, porque ele é puro espírito e Ela é apenas uma criatura humana. Entretanto ele se inclina em sinal de respeito indizível, pois Ela é rainha dele, Rainha dos anjos. Então ele presta a Ela uma homenagem, a mais bela que até então tinha sido prestada na Terra. Ela recebe aquela homenagem e se entusiasma, porque percebe Deus através do anjo.
Se entre os homens há tanto gosto num contato de alma-a-alma, apesar de nossas pobres almas encardidas, envilecidas por nossa natureza concebida no pecado original, qual foi o gáudio no contato alma-a-alma de Nossa Senhora com o Arcanjo? Qual foi o gáudio do anjo contemplando Aquela que, embora seja inferior a ele por ser uma simples criatura humana, é incomparavelmente mais alta que ele?
Poder-se-ia dizer, de modo antropomórfico, que o Arcanjo transpôs todos os espaços que vão de Deus até a cidadezinha da Judeia para conhecer de perto Nossa Senhora. É nessa perspectiva que se deve imaginar a narração do Evangelho dedicado à Anunciação: “O anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe: Deus te salve, cheia de graça, o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres” (Lc 1, 26-28).
Essa simplicidade da narração evangélica tem algo de grandioso, exatamente no que se refere a esse contato de alma-a-alma. Quase se sente o Espírito Santo, quando a ouvimos. Narração simples, mas de coisas propriamente esplendorosas!
O anjo escolheu o pátio da casa da Virgem Santíssima, onde Ela estava, para entrar como um rei. No período anterior à Revolução Francesa, os reis faziam entradas solenes nas cidades, sobretudo depois da coroação. Participavam milhares de pessoas, com grande gala. Mas isso é nada, se comparado com a entrada do anjo! As palavras do anjo soam como uma música única, como nunca ninguém tocou nem tocará. Pode-se imaginar que, enquanto São Gabriel saudava Nossa Senhora, o local foi se enchendo de anjos, todos cantando e se rejubilado, sem que ninguém os ouvisse.
Entrando, o anjo disse: “Deus te salve, cheia de graça, o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres”. Cada palavra era dita de modo solene: quando pronunciou o nome de Deus, manifestou todo amor a Ele; quando se dirigiu a Nossa Senhora, manifestou toda a reverência. Nesse contato Ela resplandecia terníssima e majestosíssima, como que assumida pelo anjo.
Quando o anjo exclama “Deus te salve, cheia de graça”, não há maior elogio que se possa fazer de alguém: n’Ela só havia graça, por isso Deus a saudava e o anjo a reverenciava. Gratia plena! Cheia de graça! A palavra “graça”, pronunciada pelo anjo, adquire toda a beleza e esplendor da graça de Deus. “Gratia plena” dá ideia de plenitude, corresponde a dizer que n’Ela só existe graça. Mais ainda, todas as graças criadas para os homens estão contidas n’Ela, e d’Ela transbordariam para nós. São palavras de riqueza e majestade incomparáveis.
Prossegue a narração evangélica, dizendo que Nossa Senhora, tendo ouvido o que disse o anjo: “Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus” (Lc 1, 29-30).
Ela cogitava no que queria dizer a revelação, prestava atenção no sentido das palavras para entender o que Deus mandava dizer. Ela raciocinava, não perdeu a distância psíquica, não se tomou de frenesi, mas cogitava no sentido daquelas palavras angélicas. Como não entendia, Ela ficou perplexa. A tal ponto que o anjo Lhe disse: “Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus”. Com certeza, Ela sentiu-se pequena diante do anjo. E este, a fim de deixá-La à vontade, disse aquilo que significava: “És maior do que eu”.
“Eis que conceberás e no teu ventre darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe
Anunciação – Obra conhecida como de Sach (Norte da França ou dos Países Baixos), 1350–1360. The Cleveland Museum of Art, EUA.
O Arcanjo faz à Virgem Santíssima uma profunda saudação, cheia de charme, nobreza, elegância e distinção. Uma majestade inimaginável, porque ele é puro espírito e Ela é apenas uma criatura humana. Entretanto ele se inclina em sinal de respeito indizível, pois Ela é Rainha dele e de todos os anjos.